A missão do ser humano a partir dos padres da Igreja.
Por Dom Vital Corbellini*
Introdução
Nós iniciamos o ano com o desejo da paz para o mundo, à Igreja, e para cada um de nós. Ela é dom de Deus porque Deus é paz, é amor. Ela necessita da colaboração de todos para que vire benção de Deus. Quando viria o Messias traria a paz entre as pessoas e os povos(cfr. Is 9,6). Os padres da Igreja, os primeiros escritores cristãos ressaltaram em suas homilias para o povo de Deus a respeito da paz, como graça do Senhor e como missão a ser construída nas relações humanas.
1. Ser pacífico
Santo Inácio de Antioquia, bispo do século I, falou aos Efésios que a paz se constrói pela oração aos seres humanos, para que pela conversão alcancem a Deus. Coloca também atitudes que levem as pessoas à paz para que ela esteja sempre presente diante das atitudes de violência. No excesso de ira das pessoas recomendava o bispo a mansidão, diante das manias de grandeza, a necessidade da humildade, diante das blasfêmias, as orações, diante dos erros, a firmeza da fé cristã, diante da ferocidade, a paz. Ser pacífico não era imitação de ações de pessoas violentas pela violência mas seguir os passos de Jesus que recomendou a promoção da paz, o perdão, para assim ser filhos e filhas de Deus.
2. Pessoas de paz
São Policarpo de Esmirna, bispo e mártir, século II, ao falar para os diáconos e os presbíteros recomendava-lhes a necessidade de serem pessoas de paz e para que fossem servidores de Deus, de Cristo, do povo de Deus não levantando calúnias, misericordiosos, zelosos andando segundo a verdade de o Senhor. Eles não descuidassem da viúva, do órfão e do pobre, mas tendessem à solicitação no bem diante de Deus e dos seres humanos, da comunidade.
3. Aliados para a paz
Justino de Roma, século II afirmou às autoridades romanas que os cristãos eram os seus melhores ajudantes e aliados para a manutenção da paz, pois professavam doutrinas como a que não é possível ocultar de Deus o malfeitor, a busca só do dinheiro, e que cada um caminha para o castigo ou a salvação eterna conforme as suas ações(cfr. I Apol 12,1).
O Império romano sofria muitas vezes com as invasões de outros povos causando transtornos para as populações da cidade e do interior. Dessa forma era preciso lutar em favor da paz. A atuação dos cristãos era importante pelo fato de que eram pessoas de paz na comunidade devido à má compreensão que eles tinham dos pagãos. Esses muitas vezes perseguiam os cristãos por não viver mais a doutrina pagã, ou se ausentarem nos cultos. Os cristãos respondiam com a doçura diante das perseguições levantadas contra a comunidade cristã.
4. Pagamentos das taxas
Um fator que poderia provocar tumultos era a falta de pagamentos das taxas ao tesouro do Império romano por parte dos cidadãos. Todos eram chamados ao pagamento dos impostos. Como era vista a atuação dos cristãos? Justino fala-nos de atuações bonitas, expressivas diante dos pagãos. Ele afirmou que quanto aos tributos e contribuições, os cristãos procuram pagá-los antes de todos aqueles que estabeleceram para isso em todos os lugares, assim como foram ensinados por Cristo Jesus(cfr. I Apol 17,1).
Justino também diz que a adoração é dada só a Deus mas também levava em consideração o serviço aos imperadores e governadores dos seres humanos rogando sempre que com o poder imperial andasse junto o prudente raciocínio, no sentido do respeito para com os cristãos e de todos os povos.
5. A oração pelas autoridades e pela paz
Tertuliano, padre da Igreja do século III, afirmava na comunidade de Cartago, Norte da África, que essa (comunidade dos cristãos) constituía um só organismo que se nutre da sabedoria de uma única fé, de uma única disciplina, de um único vinculo forte de esperança. Os cristãos oravam também pelos imperadores, pelos seus funcionários, e pelos magistrados. Eles e elas levavam em consideração as autoridades em vista do bem comum. O fato de invasões ocorrerem não dava segurança ao povo romano. Por isso os cristãos pregavam também pela conservação da ordem e da paz no mundo e para retardar a morte do universo. O cuidado com a terra sendo a casa comum de todas as pessoas estava presente seja nos cristãos seja nos pagãos.
Tertuliano afirmava também que a leitura das Escrituras Sagradas eram motivos de admoestação no presente, no futuro e ajudaram a interpretar o passado. Com aquelas santas palavras eles se alimentavam seguramente a sua fé, levando em alto a sua esperança.
6. Uma vida desprendida
A Carta a Diogneto, século II tem presentes a ação divina para com o ser humano em vista da paz. Deus enviou o seu Filho ao mundo como Deus, Salvador, não violento, porque em Deus não existe violência, mas só a paz: Ele o enviou como quem ama a todos. Dessa forma colocou o autor como os cristãos fossem de fato pessoas que tinham uma vida desprendida. Por isso tinham a boa intenção pela paz, porque moravam na pátria porém com uma consciência de peregrinos e de peregrinas. Toda terra estranha era pátria para eles e para elas e toda pátria, terra estranha, de muita peregrinação.
7. A paz como dom de Deus para o ser humano
Santo Agostinho, Bispo de Hipona, século V, afirmou que a paz é dom de Deus para o ser humano construí-lo no cotidiano de sua existência. A paz vem de Deus, porque nele não há violência. A paz não deve ser dada nas coisas materiais, pelo acúmulo das mesmas, pelo fato de que tudo pode tornar-se vaidade, orgulho e perigo de perdição se não houver partilha e amor para os necessitados e as necessitadas. Assim quem deseja o verdadeiro repouso e a verdadeira felicidade, sem o desmerecimento das coisas passageiras, deve colocar as suas esperanças na Palavra do Senhor como meta fundamental a ser alcançada para viver a dimensão do presente ligada aquela do futuro. A vida futura não está desliga da vida presente na qual é preciso construir a paz com ações pequenas, mas fundamentais em vista do fim, a vida com Deus.
Conclusão
A paz é graça de Deus Uno e Trino. Ela vem de Deus para que a humanidade viva o dom da paz. Ela necessita da colaboração humana, do diálogo, do perdão e do amor. Ao longo do ano pedimos a graça da paz, para que haja menos mortes, menos violência entre as pessoas, as comunidades, os povos, as famílias e entre nós. Vivamos a graça da misericórdia do Pai dada para nós a fim de que possamos viver o amor a Deus, ao próximo como a si mesmo.
CNBB 12-01-2016.
*Dom Vital Corbellini é bispo de Marabá (PA).
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