Agência Ecclesia 12 de Janeiro de 2016, às 10:42
Francisco aborda em tom pessoal centralidade da misericórdia na sua vida
Cidade do Vaticano, 12 jan 2016 (Ecclesia) - O Papa explica no seu novo livro-entrevista ‘O nome de Deus é Misericórdia’ a expressão ‘quem sou eu para julgar?’, que usou a respeito dos homossexuais em julho de 2013, no regresso do Rio de Janeiro.
“Parafraseie de memória o Catecismo da Igreja Católica, no qual se afirma que estas pessoas devem ser tratadas com delicadeza e não se devem marginalizar”, refere.
Francisco sublinha que a Igreja prefere falar de “pessoas homossexuais” porque “em primeiro lugar está a pessoa, na sua integridade e dignidade”, que não é definida apenas pela sua “tendência homossexual”.
“Eu prefiro que as pessoas homossexuais venham confessar-se, que permaneçam perto do Senhor, que se possa rezar em conjunto”, acrescenta.
Um dos temas abordadas na entrevista ao jornalista italiano Andrea Tornielli, em julho de 2015, é a necessidade do perdão e de acolher na Igreja quem erra, “com delicadeza”, para não ferir ninguém na sua dignidade.
Nesse contexto, o pontífice argentino conta um episódio que aconteceu nos seus tempos de pároco: uma mulher que se prostituía agradeceu-lhe porque o então padre Jorge Mario Bergoglio sempre a tratou por “senhora”.
O livro tem nove capítulos, que apresentam relatos do Papa e a sua visão particular sobre a misericórdia de Deus, em resposta a 40 questões.
Francisco diz que a misericórdia é o “bilhete de identidade” de Deus e sustenta que é esta mesma misericórdia que pode curar “doenças sociais” como a pobreza, a exclusão, as escravaturas do terceiro milénio ou o relativismo.
O Papa renova as suas recomendações a todos os padres que ouvem os católicos em Confissão, pedindo-lhes que sejam pacientes, reservando tempo para “ouvir os seus dramas e as suas dificuldades”, com “ternura” e sem “excesso de curiosidade”.
“Se o confessor não puder absolver, que dê uma bênção, mesmo sem absolvição sacramental”, diz ainda.
O Papa observa que a falta de confiança no perdão de Deus leva a uma “amargura” existencial que impede as pessoas de “levantar-se de novo” sempre que caem.
A Igreja, prossegue, deve ajudar as pessoas a perceber que “é sempre possível recomeçar, desde que Jesus perdoe”.
Em relação ao debate sobre a relação entre verdade, doutrina e misericórdia, Francisco diz que prefere sublinhar que “a misericórdia é verdadeira”, é o “primeiro atributo de Deus”.
Isto leva a uma lógica que implica um encontro com todas as pessoas e não apenas as “justas”, para chegar aos que estão longe, aos “marginalizados” e oferecer-lhes a salvação.
Para o Papa, esta a atitude que melhor imita a de Jesus, mas admite que muitos reagem mal a esta mudança dos seus “esquemas mentais” e da sua “pureza ritual”.
A Igreja, precisa, tem de ir ao encontro de quem sofre para superar “preconceitos e rigidez”, sem sentir-se “justa ou perfeita”.
Na conclusão da obra, Francisco aborda as obras de misericórdia, corporais e espirituais, de cuja prática depende a “credibilidade dos cristãos”.
O primeiro exemplar do livro, em italiano, foi entregue ao Papa na segunda-feira à tarde, na Casa de Santa Marta, onde reside.
A tradução portuguesa, que inclui a Bula de Proclamação do Jubileu Extraordinário da Misericórdia, é editada pela Planeta.
OC
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