Governo estadual divulgou ao G1 previsão de entrega de casas em 2016.
Moradores de Teresópolis ainda esperam as chaves de 1.600 unidades.
A tragédia provocada pela enchente que atingiu sete cidades da Região Serrana completa cinco anos nesta terça-feira (12), tempo que não trouxe alívio para milhares de vítimas que vivenciaram um dos maiores desastres naturais do Brasil e ainda esperam 2.628 das 4.573 casas prometidas pelo Governo do Estado. E o medo de uma nova tragédia ainda persegue os moradores, que temem pelos rios assoreados.
A chuva deixou 918 mortos e cerca de 30 mil desalojados e desabrigados. As cidades mais afetadas foram Nova Friburgo, Teresópolis, Petrópolis, Bom Jardim, São José do Vale do Rio Preto, Areal e Sumidouro.
Sobre os desaparecidos, segundo dados o Ministério Público Estadual, divulgados nesta segunda-feira (11), houve um total de 377 comunicações de desaparecimento, sendo que 168 foram localizados com vida e 119 em óbito, restando 90 ainda não encontrados. E quem escapou com vida, lamenta a longa espera por ajuda. Ainda nesta segunda, moradores de Nova Friburgo fizeram um ato com rosas e velas em homenagem às vítimas da chuva.
Moradias entregues
O Governo do Estado informou no começo de janeiro deste ano que o investimento para a construção de moradias, com o apoio do Governo Federal, chega a R$ 551,7 milhões, porém ainda precisa entregar 2.628 casas das 4.573. Dados do governo ainda mostram como ficou a distribuição das unidades por cidade afetada.
CIDADES | UNIDADES ENTREGUES |
---|---|
N. Friburgo
B. Jardim
S. José V. Rio Preto
|
1.857
50
28
10
|
Foram entregues ao todo 1.945 moradias - 1.857 para Nova Friburgo, 50 para Petrópolis, 28 para Bom Jardim e 10 para São José do Vale do Rio Preto.
A cidade de Teresópolis, a segunda mais atingida pela tragédia, ainda não conta com o benefício. Mesmo com 1.600 unidades prontas, nenhuma chave foi entregue. Para liberar as moradias, o governo informou que é necessário construir um viaduto de acesso às unidades na BR-116.
Mas houve uma rescisão de contrato da empresa licitada e uma nova licitação vai ser realizada nessa quinta-feira (14).
O Governo do Estado ainda pretende entregar uma parte das moradiano segundo semestre de 2016 com a construção de um acesso no subsolo.
"Diante do problema da rescisão de contrato da empresa que faria o viaduto, tivemos que licitar outra. Nós desenvolvemos um projeto de passagem subterrânea para pedestres. Isso já foi licitado, a empresa já venceu, demos ordem de trabalho para novembro, mas tivemos uns problemas com a CRT E ANTT. Acho que em breve teremos autorização para iniciar essa obra, rápida, que conseguimos fazer em 90 dias", explicou João Grilo, subsecretário extraordinário da Região Serrana.
Em nota, o Governo do Estado explicou ainda que as famílias de Areal e Sumidouro, que não receberam nenhuma casa, vivem de aluguel social e que, em todas as cidades afetadas, o investimento com o auxílio atinge mais de três mil famílias, com investimento de R$ 22 milhões em todo 2015, sendo R$ 1 milhão só em dezembro.
De acordo com o Estado, as próximas unidades previstas são 204 casas modulares em Bom Jardim; 480 apartamentos no Terra Nova, em Friburgo; 740 em Teresópolis; e 150 unidades em Sumidouro. Ainda de acordo com o Estado, R$ 76 milhões de investimento público foram feitos em obras emergenciais.
Nesta segunda, o Estado divulgou à reportagem do G1 a seguinte previsão de entrega das unidades:
- Areal: primeiro semestre de 2016
- Bom Jardim: primeiro semestre de 2016
- Nova Friburgo: primeiro semestre de 2016
- Sumidouro: segundo semestre de 2016
- Teresópolis: segundo semestre de 2016
Quanto a demora para a entrega das unidades, o Governo do Estado respondeu, ainda nesta segunda:
"A construção das unidades enfrentam uma série de entraves como a dificuldade para se obter terrenos na Região Serrana para construções desse porte (condomínios), desapropriações judiciais e obtenção de licenças em diversos órgãos, inclusive ambientais, entre outras burocracias, a maioria delas já vencidas pelo Governo do Estado".
Situação dos rios
Moradores das cidades afetadas pela enchente de 2011 ainda vivem com a preocupação de novos desastres devido as condições atuais dos rios que na época transbordaram. Toda área em volta do Córrego Dantas, em Nova Friburgo, ficou inundada. Muitas casas foram desocupadas e tiveram que ser demolidas.
O projeto inicial do Instituto Estadual do Ambiente (Inea) era criar parques fluviais nas margens. Que seriam áreas de lazer para os moradores, com espaço suficiente para o rio encher sem atingir nenhum imóvel. Até hoje o projeto é aguardado.
Luiz Cláudio Rosa, coordenador da Cruz Vermelha de Nova Friburgo, ajudou a salvar vidas quando os moradores ficaram ilhados na localidade de Córrego Dantas. Ele usou a ponta de uma laje para ter acesso às vítimas. Ele se preocupa com uma nova tragédia.
"A gente não vê dragagem. Algumas partes do rio até ficaram mais largas, mas a terra veio aqui pra dentro. Qualquer chuva pode encher o leito muito rápido e a gente se preocupa", lamentou.
Os moradores contam que faltam manutenção e limpeza. Só durante a fase de emergência foram gastos mais de R$ 14 milhões para dragagem e contenções de rios em Nova Friburgo. Atualmente estão sendo investidos, segundo o Estado, mais de R$ 210 milhões, além dos R$ 315 milhões previstos.
Em Teresópolis, ainda segundo o Estado, já foram investidos quase R$ 120 milhões na dragagem, canalização e contenção de margens. Um dos rios a receber a intervenção foi o Imbuí. Mas sem obra na parte alta, a vegetação desce e se acumula na parte baixa, que recebeu as intervenções.
Em Petrópolis foram investidos, também segundo o Estado, mais de R$ 37 milhões. O rio Santo Antônio, por exemplo, recebeu limpeza na época, mais hoje o mato já avançou. Além disso, os três rios que descem do Cuiabá e desaguam no Santo Antônio também estão assoreados.
As prefeituras de Petrópolis, Teresópolis e Nova Friburgo informaram à reportagem da Inter TV que precisam de uma autorização do Inea para poder trabalhar nos rios, mas o instituto não se manifestou sobre o assunto.
Recomeçando a vida
Após verem seus lares devastados, amigos e parentes mortos, moradores tiveram na solidariedade o apoio para recomeçar.
Marlene da Mota Aquino, de 58 anos, vítima da trágédia no Vale do Cuiabá, conta que precisou contar com a ajuda de uma Ong e de empresários para se reestabelecer. Ela viu a casa que morou por 30 anos desaparecer levada pela água e pela lama. E graças a solidariedade voltou a fazer os bolos sob encomenda que fazia antes de perder tudo.
A boleira possui hoje uma cozinha industrial, equipada por voluntários, mas apesar de estar em uma boa fase, não se desfaz das lembranças de 2011.
“Foi um período muito difícil e foi por Deus que não estava em casa. O acesso a minha casa caiu e fiquei isolada. Foram cinco dias esperando socorro e quando cheguei me desesperei com o que vi. Nem o alicerce da minha casa era mais visto. Ao lado da minha casa, nove pessoas morreram. Muita gente conhecida que não está mais entre nós”, relembra emocionada.
Uma das imagens mais comoventes da tragédia de 2011 foi o resgate de dona Ilair, em São José do Vale do Rio Preto. A história de Ilair Pereira de Souza ganhou a mídia depois que ela passou por momentos de pânico com cachorrinho no colo na laje de sua casa, enquanto a estrutura ia sendo levada pela correnteza.
Já em uma casa doada, Ilair conta que conseguiu recomeçar a sua vida, mas depois de 5 anos conta o que passou pela sua cabeça.
“Eu ajoelhei em cima da laje e pedi a Ele: Deus, não tem como eu sair mais. Eu estou nas mãos do Senhor”, contou, relembrando que, nesse momento, seus vizinhos avisaram que iriam jogar uma corda para salvá-la.
“Eu peguei a corda, me amarrei de qualquer jeito, botei meu bichinho na cintura e pulei. Só pensava em sair dali, ir embora com meu bichinho nos meus braços”, disse, lamentando que não conseguiu salvar seu cachorro e contando que a corda escorregava muito.
Na nova casa, Ilair vive com seus filhos e cachorros e afirma que não gosta de tristeza.
"Estou sempre alegre”, disse sorrindo. A dona de casa guarda, até hoje, a blusa e a bermuda que estava usando no dia que sobreviveu à tragédia.
“Sabe como as pessoas conhecem São José? A cidade da mulher e do cachorro na corda. Eu tenho vergonha, sabia? Fiquei pendurada igual uma lagartixa. Eu nunca vou esquecer esse dia. Deus me deu outra oportunidade de viver”, contou
.
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