A pureza só tem sentido quando está unida à caridade com Cristo.
Dom Vital Corbellini
Bispo de Marabá (PA)
Bispo de Marabá (PA)
1. O Jejum aceito por Deus
O Jejum e a oração foram argumentos bem desenvolvidos em alguns padres da Igreja colocando a necessidade da mortificação para uma vida conforme a Palavra do Senhor e a oração para viver a unidade com os irmãos e irmãs e com o próprio Deus. Segundo o Pastor de Hermas (Autor do século II, 54, 3-5; 56, 2-3.5-9), é uma prática boa o jejum para o Senhor e para todas as pessoas. Mas é bom realizá-lo com o pensamento em Deus porque Ele não quer um jejum vazio e afim de que seja bem aceito por Deus, essa prática consiste em não fazer nenhum mal na vida da pessoa, e, na relação com os outros para assim servir ao Senhor de coração puro. É preciso observar os mandamentos, andando conforme seus preceitos, e acreditar em Deus. Se nós cumprirmos tais coisas faremos um jejum agradável ao Senhor. Ele também afirma que é essencial guardar os mandamentos do Senhor para dessa forma ser-lhe contado entre os que observam seus preceitos.
A observância dos mandamentos fará com que o jejum seja bom. É essencial a fuga de toda a palavra e de todo desejo maus, buscando a purificação do coração de todas as coisas vãs deste mundo. O autor também fala que o jejum realizado leve à prática de ajuda na alimentação para dá-la à alguma viúva, ao órfão, ao necessitado e sendo deste modo humilde. Fazendo o jejum dessa forma, o sacrifício feito será aceito por Deus, e o serviço realizado será alegre, e bem acolhido pelo Senhor.
2. O coração que busca a pureza
João Cassiano(Monge de Marselha, século IV e V, Conferências I,7) tem presentes que tudo deve ser feito pela pureza do coração. Para isso é fundamental a prática de jejuns para dispor o nosso coração à perfeição da caridade. É bom praticar além do jejum, vigílias pela meditação das Escrituras, tendo presente sempre a pureza de coração que é a caridade, porque essa deve estar em primeiro plano para seguir a Jesus Cristo. A pureza só tem sentido quando está unida à caridade com Cristo.
As diversas formas de jejum
Afraat, o Persa,(Monge dos séculos III e IV, Exposições, 3-2) realça que a coisa preciosa diante de Deus é jejum com amor. É uma armadura contra o maligno e um escudo contra as flechas do inimigo. As Santas Escrituras colocam a necessidade do jejum feito em todo o tempo e de uma forma autêntica. Dessa forma são muitos os modos de fazer jejum: pode-se jejuar colocando freio à sua boca, para não dizer palavras odiosas, jejuar a ira, abster-se de coisas impróprias. Alguém pode jejuar para não cair na escravidão, para assim vigiar na oração. Algumas pessoas merecem fé no jejum praticado para serem de exemplos para todas as pessoas. Abel com a sua oferta(cfr. Gn 4,3-4); Abraão que foi excelente na fé (cfr. Sir 44,19-21); Isaac a motivo da aliança com o seu pai, Abraão(Cfr. Gn 26,24): Jacó a motivo de do juramento de Isaac porque conheceu a Deus(cfr. Gn 32, 25-33). É fundamental a purificação do coração, a língua, as mãos para assim viver a graça do Senhor.
3. Jejum e Oração
Marcos, o Eremita, (Século V, o jejum, 3) diz que um agricultor após ter trabalhado a terra se não colocar a semente, esforçou-se em vão. Assim também nós se fizermos com amor o jejum, não semeemos ali a oração, trabalhamos em vão. Mesmo o pão ou outra comida que temos jejuado, tomamos para assim obter um coração forte disponível a fazer-nos orar mais objetivamente. Assim pelo poder de Deus, seremos protegidos de todo orgulho e viveremos na humildade todos os dias da nossa vida, aquela humildade sem o qual ninguém pode ver Deus.
4. A oração como alimento para a vida futura
São Basílio de Cesaréia, (Bispo do século IV, Cartas 174) afirmava que a oração é como ajuda para a vida futura. Ela nos une a Deus e aos irmãos e irmãs. É uma força para nós: pois quando nós partiremos desta vida, será um alimento suficiente para a vida futura. É preciso sempre orar, assim como Jesus nos recomenda. A oração feita com amor dá-nos a força para a superação do medo de enfrentar as coisas e os desafios da vida. O Senhor nos quer ver pessoas de oração e de ação neste mundo.
O jejum e a oração na análise de alguns padres da Igreja possibilitam uma preparação melhor para a Páscoa, a passagem de Jesus Cristo de sua morte à vida, a sua ressurreição. Pratiquemos obras boas nas quais queremos viver a sua presença na quaresma para que tudo se realize conforme a sua vontade.
CNBB, 09-03-2016.
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