Obama ficará conhecido como o presidente que abriu um novo capítulo nas relações entre os países.
Por trás da animosidade pública que imperava entre Cuba e os Estados Unidos, com declarações exaltadas e troca de acusações, existe uma outra realidade: missões de exploração, contatos discretos e mãos estendidas em saguões de hotel, sala de espera em aeroportos e até no Vaticano.
Barack Obama, que chega neste domingo a Havana para uma visita histórica, ficará conhecido como o presidente que abriu um novo capítulo nas relações entre Estados Unidos e Cuba.
Mas ele não foi o primeiro a tentar isso. Durante mais de meio século, outros tentaram a mesma coisa, com a maior discrição.
Desde a chegada ao poder de Fidel Castro e seus "barbudos" em 1959, Cuba sempre foi um tema político e extremamente delicado nos Estados Unidos.
Graças à ajuda de terceiros (México, Espanha, Brasil, Canadá) e incontáveis intermediários (assessores, empresários, escritores e jornalistas), as tentativas de aproximação, mais ou menos ambiciosas, marcaram a história da relação cubano-americana.
Em 1962, depois da crise dos mísseis soviéticos na ilha, incidente que esteve a ponto de resultar num conflito nuclear mundial, John F. Kennedy explorou a possibilidade de uma aproximação, esperando tirar proveito da fúria de Fidel Castro em relação à União Soviética, que decidiu retirar os mísseis sem consultá-lo.
"Kennedy achou que poderia ser a ocasião para Cuba sair da órbita soviética", explica William LeoGrande, da American University, e coautor do livro "Back Channel to Cuba", que aborda o assunto.
JFK entregou pessoalmente ao jornalista francês Jean Daniel, em 1963, um mensagem para o "Líder Máximo".
O jornalista, com a singular missão de mensageiro, se reuniu com o pai da revolução cubana. "Ambos dirigentes pareciam prestes a alcançar a paz", contaria mais tarde.
Mas, no mesmo dia do encontro, em 22 de novembro de 1963, Kennedy foi assassinado em Dallas. Tudo desabou. Lyndon Johnson, que sucedeu JFK na Casa Branca, não quis seguir por este caminho.
Kissinger e Carter
Em meados dos anos 70, sob a presidência de Gerald Ford, o secretário de Estado Henry Kissinger buscou, sob o maior sigilo, normalizar as relações diplomáticas rompidas em janeiro de 1961.
Mas a intervenção das forças armadas cubanas em Angola, em 1975, para apoiar o Movimento Popular de Libertação de Angola (MPLA, hoje no poder) jogou por terra a tentativa.
Algumas semanas depois de assumir, em 1977, Jimmy Carter ordenou o lançamento de negociações para normalizar os laços com a ilha. Litígios marinhos, de pesca, contatos diplomáticos: durante os primeiros meses, as linhas telefônicas foram muito acionadas.
"Sempre tenho um boa opinião sobre Carter, um homem honrado, de ética", declarou Fidel Castro anos mais tarde. "Carter era um homem que queria acertar os problemas entre Estados Unidos e Cuba".
Uma vez mais, no entanto, a tentativa fracassou por causa da presença militar cubana na África.
Bush e Obama
Depois do fim da Guerra Fria e entrando um novo século, o governo de George W. Bush manteve firme a posição de não fazer qualquer concessão a Cuba sem uma mudança de regime.
Mas em 2013, Obama autorizou o início das discussões exploratórias com Havana.
A primeira reunião aconteceu no Canadá, em junho. O papa Francisco se ofereceu para pessoalmente impulsionar a aproximação. Em outubro, as delegações dos dois países se reuniram na Santa Sé, na presença de dirigentes católicos, para acertar os termos da normalização.
Em 17 de dezembro de 2014, o anúncio da aproximação pegou o mundo de surpresa. Ninguém podia acreditar: em 18 meses de negociações ultrassecretas, nem uma única palavra vazou para a imprensa.
Por que tanto segredo? As motivações evoluíram com o passar dos anos.
"Nos anos 60 e 70, em plena Guerra Fria, os presidente americanos não queriam se mostrar fracos ante o comunismo", explica LeoGrande. "Esse é o motivo pelo qual Johnson não seguiu com a iniciativa de Kennedy".
Já a partir dos anos 80, a influência e o peso político da comunidade cubana da Flórida passou a ser determinante e impediu o projeto de qualquer aproximação.
Isso porque os candidatos à presidência, particularmente no campo democrata, temiam que o simples fato de evocar uma aproximação com Cuba implicaria em perder os votos na Flórida e, por portanto, perder a Casa Branca.
AFP
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