sexta-feira, 29 de abril de 2016

Trabalho: uma questão para a teologia

Precisamos resgatar a verdadeira inspiração bíblica para o trabalho humano.
Um caminho longo temos ainda a percorrer, até que cheguemos a uma sociedade justa.
Um caminho longo temos ainda a percorrer, até que cheguemos a uma sociedade justa.
Por Felipe Magalhães Francisco*
A origem da palavra trabalho deriva do latim tripalium, que designava um instrumento, como o próprio nome diz, de três paus, utilizado para bater o trigo ou as espigas de milho. O tripalium era, ainda, um instrumento romano de tortura. Na assimilação dos dois significados, sugeria-se que o trabalhador do campo era, nesse sentido, o torturador das culturas que cultivava, ao utilizar do citado instrumento. Não espanta, desse modo, que a associação entre trabalho e tortura tenha levado a que se acreditasse que o trabalho seria coisa ruim, destinada apenas para os pobres.
Fora isso, a ordem do Criador para que o ser humano sobrevivesse às custas do próprio trabalho, por ocasião do pecado, contribuiu ainda mais para que se olhasse para o labor como um fardo e como situação de sofrimento. Mesmo que se tenha repetido muitas vezes, ao longo da história, que o trabalho dignifica o ser humano, ainda assim há um olhar de negação frente a determinados tipos de serviços, como se alguns deles trouxessem verdadeira indignidade a quem os executa. De fato, onde falta justiça, falta dignidade e por isso que precisamos resgatar a verdadeira inspiração bíblica para o trabalho humano, como possibilidade de realização da pessoa e de comunhão com o mundo que a cerca. A este respeito, propomos um artigo, de nossa autoria, detendo nosso olhar para essa dimensão bíblica do trabalho, a partir da perspectiva da dignidade.
O que se viu com a Revolução Industrial, a partir do séc. XVIII, foi um processo no qual se tornava cada vez mais difícil romper com a ideia negativa de trabalho: jornadas longas de trabalho, em condições precárias e desumanas, que não poupavam ninguém, homens, mulheres e crianças. Estava aberto o caminho para o capitalismo. Diante dessa nova realidade, a Igreja começa a se articular, dando atenção à questão do trabalho, pois esta é uma questão também para a teologia. Surge, então, a Doutrina Social da Igreja, com a Encíclia Rerum Novarum, do Papa Leão XIII, publicada em 1891. No artigo Trabalho: um olhar histórico, a partir da Doutrina Social da Igreja, o Professor Élio Gasda, doutor em Teologia, propõe-nos um panorama histórico do trabalho, a partir desse conjunto de ensinamento magisterial, do Papa Leão XIII ao Papa Francisco.
O papel assumido pela Igreja, agora de maneira articulada teologicamente, torna-se fundamental na crítica à exploração do humano trabalhador, bem como da natureza, e à precarização do trabalho. O lucro – dos donos do capital – não tem fim em si mesmo. O trabalho humano se orienta para a dignidade da pessoa e na promoção de uma vida mais justa e igualitária. Nesse sentido, ajuda-nos a aprofundar nessa dimensão da dignidade do trabalho humano, a partir da Doutrina Social da Igreja, o artigo do mestrando em Teologia, pela Faculdade Jesuíta de Filosofia e Teologia, Emerson José da Cunha.
Um caminho longo temos ainda a percorrer, até que cheguemos a uma sociedade justa, na qual o trabalho não seja apenas para a subsistência, mas real possibilidade de realização da pessoa e de corresponsabilidade na transformação da sociedade. Para isso, precisamos todos nos solidarizar com o grito dos trabalhadores e das trabalhadoras injustiçados por um sistema econômico que explora, que segrega e que mata. Interessa-nos, aos cristãos e cristãs, buscar relações cada vez mais justas para todos, sobretudo em defesa daqueles e daquelas que não têm voz. Eis um caminho que aponta para o Reino de Deus!
*Felipe Magalhães Francisco é mestre em Teologia, pela Faculdade Jesuíta de Filosofia e Teologia. Coordena a Comissão Arquidiocesana de Publicações, da Arquidiocese de Belo Horizonte. Coordena, ainda, a Editoria de Religião deste portal. É autor do livro de poemas Imprevisto (Penalux, 2015).

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