segunda-feira, 20 de junho de 2016

O amigo angolano

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Por que razão Angola tem sido tão beneficiada, se seu regime nada tem de esquerdista?
Isabel dos Santos, empresária angolana e filha do presidente José Eduardo dos Santos.
Isabel dos Santos, empresária angolana e filha do presidente José Eduardo dos Santos.

Por José Couto Nogueira*

Entre as surpreendentes revelações dos montantes investidos pelos governos do PT no estrangeiro, estão os 14 mil milhões de reais gastos em Angola – de fato o maior valor para um único país.

Quando dizemos que o montante foi “investido”, estamos na realidade simplificando o modo como essas quantias foram repassadas para Angola. Foram utilizados vários modelos de negócio, que vão de subsídios para que o regime de José Eduardo dos Santos adjudique empreitadas a empresas brasileiras, especialmente construtoras, até linhas de crédito muito favorável para, por exemplo “fomentar a educação”.

De acordo com o último ranking das transnacionais brasileiras, elaborado pela Fundação Dom Cabral (FDC), algumas empresas de construção têm feito obras de infraestrutura. A estratégia “seguimento do cliente” também tem levado empresas do setor de tecnologia da informação a atender clientes corporativos brasileiros em suas subsidiárias da região. Os setores de extração mineral e de construção civil envolvem os maiores montantes de investimentos, mas as pequenas e médias empresas e as franquias no setor de serviços aparecem em alguns casos.

Em Angola, o Brasil figura entre os três primeiros países quanto a sua importância e influência, na mesma posição entre os países considerados prioritários do ponto de vista do fortalecimento das relações externas de Angola no futuro.

O que é surpreendente é por que razão Angola tem sido tão beneficiada, uma vez que o seu regime político nada tem de esquerdista, bolivariano, ou “progressista”, ao contrário do que acontece com Cuba, Guatemala, etc. O pais é oficialmente governado pelo MPLA, com um partido fantoche na oposição, a UNITA. O MPLA deixou de se considerar marxista em 1991, mas na verdade já não era desde que tomou o poder, em 1976. Como é sabido, Angola está na mão de uma cleptocracia constituída pela família Santos e uma pequena clique de outras famílias que lhe estão ligadas de vários modos. É claro que uma parte dos 14 mil milhões representa propinas para clique Santos & Associados – outra parte para propinas a brasileiros, certamente. Talvez nunca se venha a saber quanto dos 14 mil milhões corresponde a investimento real, físico, no terreno.

Isto vem a propósito do corrente levantamento pelo Governo Temer dos valores gastos pelo Brasil a ajudar “regimes amigos” no exterior e, coincidentemente, com um levantamento feito por um grupo de jornalistas angolanos sobre quem são os beneficiários do regime do país.

O modelo de Angola é muito específico, entre o tribal e o familiar. Para ilustrar este sistema, os jornalistas fizeram um mapa de ligações que vale a pena consultar.

O Presidente é, como se sabe, José Eduardo dos Santos. Desde 1977.

1. Ministro das Finanças: Carlos Lopes, marido da irmã da primeira-dama Ana Paula dos Santos.

2. Ministro do Ensino Superior; Adão do Nascimento, sobrinho do presidente José Eduardo dos Santos.

3. Vice-Presidente da República: Manuel Vicente, enteado da falecida irmã do presidente José Eduardo dos Santos.

4. Secretário de Estado para a Habitação: Joaquim Silvestre, irmão da primeira-dama Ana Paulo dos Santos.

5. Secretária do Presidente para os Assuntos Particulares: Avelina dos Santos, sobrinha do Presidente José Eduardo dos Santos, filha do seu irmão Avelino dos Santos.

6. Administrador do Fundo Soberano: Zenu dos Santos, filho do José Eduardo dos Santos.

7. Secretário-geral da Casa Militar: Catarino dos Santos, sobrinho de José Eduardo dos Santos, filho do seu irmão Avelino dos Santos.

8. Presidente do Conselho de Administração da EPAL: Leonildo Ceita, primo da primeira-dama.

9. Presidente do Conselho de Administração da ENANA: Manuel Ceita, primo da primeira-dama Ana Paula dos Santos.

10. Presidente do Conselho de Administração do Banco de Comercio e Industria (BCI): Filomeno Ceita, primo da primeira-dama.

11. Director do Instituto Nacional de Estatística: Camilo Ceita, primo da primeira- dama, Ana Paula dos Santos.

12. Presidente do Conselho de Administração da MECANAGRO, da GESTERRA e presidente da Federação Angolana de Hóquei em Patins: Carlos Alberto Jaime Calabeto, sobrinho/primo do presidente José Eduardo dos Santos.

13. Governador do BNA – Banco Nacional de Angola: José Massano, amigo pessoal e ex-colega de Isabel dos Santos, filha do presidente José Eduardo dos Santos.

14. Vice-governador do BNA: Ricardo de Abreu, compadre e amigo pessoal de Isabel dos Santos, filha do presidente José Eduardo dos Santos.

15. Ministra de Comércio: Rosa Pacavira, sobrinha da esposa de Avelino dos Santos, irmão do presidente José Eduardo dos Santos.

16. Administrador da TAAG: Luís dos Santos, irmão do presidente José Eduardo dos Santos.

17. Presidente do Conselho de Administração da ANIP: Maria Emília Abrantes Milucha, mãe da Tchize e Zé Dú dos Santos (Korean Dú) filhos do presidente José Eduardo dos Santos,

18. TPA 2 entregue a Semba Comunicações, empresa de Tchize e Korean Dú, filhos de José Eduardo dos Santos.

19. Presidente do Conselho de Administração da Sonangol: José Francisco de Lemos, primo da primeira-dama Ana Paula dos Santos. (substituído no mês passado por Isabel dos Santos.)

Em Angola, a família ainda tem uma força de coesão apreciável...

*O jornalista José Couto Nogueira, nascido em Lisboa, tem longa carreira feita dos dois lados do Atlântico. No Brasil foi chefe de redação da Vogue, redator da Status, colunista da Playboy e diretor da Around/AZ. Em Nova Iorque foi correspondente do Estado de São Paulo e da Bizz. Tem três romances publicados em Portugal.

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