quarta-feira, 22 de junho de 2016

“O Papa é o Vigário de Cristo. Não vai fazer política na Armênia”

a véspera da visita de Francisco, o arcebispo Raphael François Minassian, chefe do Ordinariato dos católicos armênios, fala sobre o país Caucasiano
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O Papa Francisco vai visitar a Armênia, o país do Cáucaso que abraçou o Evangelho já no ano 301, como recorda o lema da viagem apostólica “Visita ao primeiro país cristão”. O Pontífice ficará três dias, do 24 ao 26 de junho. Para compreender o significado, as expectativas e as perspectivas desta viagem do Papa, Zenit entrevistou Dom Raphael François Minassian, chefe do Ordinariato dos católicos armênios na Arménia, Geórgia e Europa Oriental. Nascido em 1946 em Beirute (Líbano), Mons. Minassian entrou para o seminário libanês em Roma em 1966; ordenado sacerdote em 1973, foi pastor dos católicos armênios na Califórnia de 1996 a 2006.
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Excelência, a Armenia espera a visita de Francisco, mas eu queria começar a nossa conversa recordando a viagem de João Paulo II, 15 anos atrás, a primeira viagem de um Papa ao seu País. O que significou aquela histórica viagem para os armênios?
Para nós armênios o Papa não é um chefe de Estado, um político, nem mesmo um chefe espiritual, mas é o Vigário de Cristo que visita os fieis, tanto apostólicos que católicos. Então, vimos em primeiro lugar, a dimensão espiritual daquela primeira viagem. Depois havia também o grande significado da data da viagem por ocasião do batismo, então o Papa nos recordava as nossas antiguíssimas raízes cristãs no período quando a nação saída da era comunista e nos fazia entender todo o trabalho que deveríamos fazer para reforçar a fé, a vida espiritual e a ética social. João Paulo II nos deixou uma mensagem muito rica e profunda e acredito que a sua viagem tenha sido uma verdadeira benção de um Santo.
Agora a Armenia espera a visita do Papa Francisco. Conhecemos o programa da peregrinação. Poderia explicar-nos o significado das etapas da viagem?
O Papa visita a Armênia, começa com Etchmiadzin, a sede do Chefe da Igreja Armênia Apostólica, o Catholicos Karekin II. Um irmão visita um outro irmão. O Papa é o primeiro entre os iguais, já o Catholicos é o primeiro entre os seus. A ligação com Pedro manteve-se sempre, embora não perfeita, mas isso foi o resultado da história passada. Agora, a amizade entre a Santa Sé e Etchmiadzin é tão íntima, amável que eu não poderia dizer que há uma separação.
O Pontífice visitará o Memorial Tzitzernakaberd. Por que, para os armênios, este lugar é tão importante?
O Memorial Tzitzernakaberd foi construído para lembrar do um milhão e meio de vítimas do genocídio dos armênios, que começou em 1915 no Império Otomano. A visita deste lugar é uma homenagem a todos aqueles que se sacrificaram e que pagaram com o seu sangue para permanecer fieis a Jesus. Por durante quase cem anos, ninguém teve a coragem para recordar este primeiro genocídio do século XX. Nós, armênios, demos muitos mártires ao longo dos séculos, incluindo as vítimas do comunismo.

A outra parada é a cidade de Gyumri …
Gyumri é a segunda cidade do país depois de Yerevan. É a capital cultural da Arménia. Mas devo mencionar que Gyumri é também um lugar de sofrimento, porque a cidade foi atingida pelo terrível terremoto em 1988, com dezenas de milhares de mortes. E essa ferida ainda não cicatrizou. Então a visita do Papa será também um encontro com quem sofre ainda. O Papa visitará duas catedrais, a apostólica e a católica, e celebrará a Missa para todos.
Francisco vai terminar sua peregrinação em um lugar ligado à história do cristianismo armênio, o mosteiro Khor Virap, que fica no local onde São Gregório, o Iluminador ficou preso por treze anos antes de ser batizado o Rei Tiridates III, tornando a Armenia a primeira nação cristã no mundo …
A visita a Khor Virap é um tributo ao nosso primeiro Catholicos e a um grande santo. Segundo a tradição, São Gregório, o Iluminador conheceu o Papa Silvestre (314-335).
A Arménia está passando por um período difícil politicamente, com o conflito em Nagorno Karabakh, enclave arménio em território do Azerbaijão
O Papa Francisco não é um político e não vai fazer política. Então, eu estou convencido de que ele virá com a mensagem de paz e amor entre os homens. Sua presença, suas palavras e seus gestos certamente ajudarão a trazer paz para as almas de todos.
Zenit

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