quarta-feira, 22 de junho de 2016

Serviço à dignidade

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1-2Pe. Manfredo Oliveira, filósofo e professor da UFC
No período em que se preparam para a celebração da festa da Páscoa, os católicos são convidados este ano a refletirem sobre sua vocação e sua missão na sociedade o que significa dizer que a fé cristã diz respeito a todas as dimensões da vida e não apenas ao âmbito privado. Precisam em primeiro lugar renovar a consciência de que sua fé é vivida no seio de sociedades que são configuradas de modo diferenciado através dos tempos. Consequentemente os desafios para a vida humana são diferentes o que implica que os crentes façam um discernimento das situações para continuar servindo à sociedade à luz dos critérios do Evangelho no respeito radical a um mundo social que se entende autônomo frente a qualquer interferência de tutela religiosa.
Sabem que vivem hoje em sociedade que é produto da revolução técnico-científica, inserida no processo de globalização do capital que aprofundou os processos de interconexão e a interdependência entre os povos de forma assimétrica sem controle a nível global. Nossa sociedade já é uma sociedade pós-industrial em que o conhecimento cada vez mais se torna força produtiva decisiva e uma sociedade profundamente marcada pela revolução comunicativa gerada pela última revolução tecnológica que confronta as pessoas com diferentes concepções da vida gerando um pluralismo profundo.
É neste contexto que se põem em primeiro plano no texto-base da Campanha da Fraternidade os critérios que devem orientar as ações na sociedade: a dignidade da pessoa humana, o bem comum e a justiça social. Isto inclui antes de tudo uma atenção especial aos pobres e sofredores com o objetivo de tornar mais humana a família humana como diz o Concílio Vaticano II. Isto significa dizer que “o serviço prestado pela Igreja à vida compreende a proteção ao ser humano, especialmente aos mais fragilizados, e aos seus direitos, universais e inalienáveis”.
Já aqui se revela uma das questões mais centrais de nossa vida social hoje no Brasil. Os direitos na realidade articulam as condições de efetivação da dignidade sem as quais a vida humana é ameaçada em seu cerne. Apesar de todos os avanços, há direitos básicos a que muitos entre nós ainda não têm acesso: direito à água limpa, potável e ao saneamento básico, direito à moradia, direito à liberdade, direito à manifestação política, direito à educação, direito a um meio ambiente saudável, direito à saúde e à segurança, direito ao trabalho, direito a uma vida livre de preconceitos em relação à condição social, raça, gênero, orientação sexual, cultura, confissão religiosa. Neste contexto põe-se no texto uma afirmação que é simplesmente decisiva: “a melhoria das condições de vida dos brasileiros ainda não se traduziu em melhorias nas “condições estruturais” de vida da população, sobretudo dos necessitados”. Sinais são apresentados: luta pela reforma agrária e condições de trabalho no campo; demarcação dos territórios indígenas e das comunidades quilombolas, inclusão social de milhares de excluídos. Todas estas situações envolvem situações estruturantes fundamentais do direito à vida e ao reconhecimento da dignidade humana.
Fonte: Jornal O Povo (Opinião), Domingo, 22/02/2015 (Contato do autor:manfredo.oliveira2012@gmail.com).

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