'Policiais não pediam calma. Pediam para a gente correr', diz estudante.
Levou mais de 40 minutos para saber o que tinha acontecido.
Testemunhas relatam que o ataque da noite desta quinta-feira (14) em Nice foi seguido de correria e pânico. Muitas demoraram vários minutos para entender o que estava acontecendo: um caminhão atropelou diversas pessoas que estavam assistindo à queima de fogos em comemoração ao 14 de Julho, Dia da Queda da Bastilha, matando 84 pessoas e deixando dezenas de feridos. Veja relatos de brasileiros que presenciaram a tragédia:
'Policiais pediram para a gente correr'
A estudante franco-brasileira Gabriella Secret, de 22 anos, estava no meio da multidão no momento do ataque. "Eu cheguei por lá por volta das 22h. Estava muito lotado desde a praia até a avenida [Promenade des Anglais], que é bem ampla. De repente, todo mundo começou a correr. Ninguém sabia o que estava acontecendo. Ouvi tiros mas ninguém sabia se eram os policiais ou se era um criminoso", diz Gabriella.
"Estava bem perto do ponto onde o caminhão parou. Eu peguei o celular e corri, deixei minha bolsa para trás. Os policiais não pediam calma. Eles pediam para a gente correr. Fomos para um estacionamento aberto. Ficamos lá por uma hora e meia mais ou menos mas parecia muito mais que isso. Ventava e chovia. A bateria do meu celular só deu para ligar para a minha mãe. Não cheguei ver pessoas feridas, ainda bem. Dei uma olhada rapidinho nas imagens, mas nem sei se vou querer ver. Foi horrível"
'Pessoas não sabiam por que corriam'
O publicitário carioca Bruno Camolez, que vive em Nice desde 2013, mora a 500 metros de onde a tragédia aconteceu e pôde ver pela janela uma avalanche de pessoas correndo em pânico na noite desta quinta-feira. "Grupos se cruzavam em direções opostas, tal o nível de supresa e pânico." Segundo ele, logo após o ataque, polícia e bombeiros não davam informações sobre o que havia acontecido. "Com exceção das que realmente presenciaram, as pessoas simplesmente não sabiam nem por que corriam."
Ele só ficou sabendo de fato o que tinha ocorrido cerca de 40 minutos depois, por meio da imprensa. "Para mim, o absurdo foi a falta de informação; 40 minutos até saber de alguma coisa foi incrivel." Camolez acrescenta que muitos na região estão chocados e que, na manhã desta sexta-feira, a fila de doadores de sangue era enorme.
Veja imagens gravadas pelo publicitário:
'Não tinha mais vaga nos hospitais'
O brasileiro Anderson Happel, que mora em Nice, tomou quatro calmantes e diversos analgésicos para aguentar a dor e o estado de choque nesta noite de quinta-feira (14). Ele é um dos feridos no atentado. Como o hospital não tinha mais lugar para receber pacientes, Anderson foi transferido para um posto de atendimento emergencial.
Ele conta que foi com a irmã ver os fogos da Festa da Bastilha quando viu o caminhão se aproximando devagar. De repente, o veículo aumentou a velocidade e “foi passando por cima de todos os que estavam na frente”.
“Empurrei a minha irmã e quando fui tentar correr, o para-choque bateu na minha perna esquerda e caí do outro lado. Todo mundo corria em pânico, chorando", diz. E continua, com a voz trêmula: "Tinha muita criança morta e as mães pedindo a Deus para elas voltarem a viver. Vi muita gente morta, isso me deixou em estado de choque.”
'Nunca mais vou esquecer'
A mineira Débora Rosendahl relatou “desespero” após o atentado. “A gente viu um caminhão vindo na direção contrária a nossa em alta velocidade, atropelando tudo e todos que estavam na frente. Na hora que a gente viu, tinha jogado uma placa pra cima. E na hora a sensação foi de desespero”, contou a mineira.
Ela relatou que estava perto do hotel onde está hospedada e disse que conseguiu correr com o marido para o local. “Várias pessoas também estavam vindo junto, mas todo mundo em choque, tremendo”, contou. Nascida em Belo Horizonte, Débora mora atualmente na Finlândia e enviou um vídeo ao Bom Dia Minas.
De acordo com a mineira, o dia começou “alegre e festivo” terminou com “uma tragédia”. “Agora ninguém está conseguindo dormir, porque a gente não sabe ao certo o que aconteceu. Só vimos que várias pessoas morreram, perderam a vida. (...) Eu nunca mais vou esquecer”, afirmou.
Polícia fechou estação
A advogada capixaba Lorena Mota Baltazar estava com os pais em Nice, na França, no momento do atentado no Promenade des Anglais, por volta das 22h30 (17h30 em Brasília) desta quinta-feira e lamentou o terror visto nas ruas da cidade do Sul francês: “é decepcionante que uma data tão linda, que simboliza a liberdade, igualdade e fraternidade seja manchada por tanto horror”.
Quando o ataque aconteceu, os três estavam na estação de trem de Nice. “A polícia fechou em massa a estação para proteger os passageiros. Estavam com armamentos pesados e segurança redobrada. Só fomos liberados por volta de 1h de sexta-feira (15)”, contou a advogada.
'Para o povo de Nice, o verão acabou'
O analista de comércio exterior Marcus Thulio Rocha, de 28 anos, estava em Nice, na França, próximo ao local do atentado. À TV Asa Branca, ele relatou que na manhã desta sexta-feira, a cidade estava completamente vazia.
"O sentimento [de Nice] é muito triste. O taxista que me levou para a estação ferroviária disse que para o povo de Nice o verão acabou. Lá, o verão estava começando agora. A cidade é extremamente turística e ficou completamente abalada com o que aconteceu ontem", afirmou o funcionário do Ministério da Fazenda.
O servidor público estava jantando em um restaurante de Nice a alguns quarteirões de onde o ataque ocorreu. Na ocasião, os franceses comemoravam a Tomada da Bastilha - ocorrida durante a Revolução Francesa, em 14 de julho de 1789.
"Quando estava perto de pedir a conta, vi que a rua - antes vazia - começou a lotar de gente. Ninguém sabia o que tinha acontecido. Começamos a perguntar, mas quem estava disposto a falar, só dizia que teria havido uma troca de tiros. Como tinha muita gente vindo, acelerei o pagamento da conta e fui para o hotel. Só quando liguei a TV foi que vi que um caminhão tinha avançado sobre a multidão. Quando o número de feridos e mortos começou a ser contabilizado, percebi que se tratava de um atentado", relatou Marcus Thulio.
Nenhum comentário:
Postar um comentário