quarta-feira, 10 de agosto de 2016

A presença cristã dos leigos na sociedade

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O mundo, com toda sua complexidade, é o lugar específico da missão dos leigos.
Motivação da presença cristã na sociedade está no agir de Deus, que vem ao encontro da humanidade.
Motivação da presença cristã na sociedade está no agir de Deus, que vem ao encontro da humanidade.

Por Dom Adelar Baruffi*
A atuação dos leigos como sujeitos, como cristãos maduros na fé, se dá na Igreja e no mundo. É fato que se precisa acentuar a formação dos cristãos para atuarem nos diversos âmbitos da sociedade, pois esta é sua vocação específica. “A índole secular é própria e peculiar dos leigos' (LG 31). Isto significa que o mundo, com toda sua complexidade, é o lugar específico da missão dos leigos: “São chamados por Deus para que aí, exercendo o seu próprio ofício, inspirados pelo espírito evangélico, concorram para a santificação do mundo a partir de dentro, como fermento, e deste modo manifestem Cristo aos outros, antes de mais pelo testemunho da própria vida, pela irradiação de sua fé, esperança e caridade” (LG 31). Percebemos que este é um grande desafio. O Papa Francisco expressou isso claramente: “apesar de se notar uma maior participação de muitos nos ministérios laicais, esse compromisso não se reflete na penetração dos valores cristãos no mundo social, político e econômico; limita-se muitas vezes às tarefas no seio da Igreja, sem um empenhamento real pela aplicação do Evangelho na transformação da sociedade.” (EG 102). Vê-se, que ainda é insuficiente a atuação em muitas estruturas sociais: universidades, comunicação, empresas, trabalho, política, cultura, medicina e tantos outros. 

A motivação desta presença cristã na sociedade é encontrada na lógica da Encarnação, no agir de Deus, que vem ao encontro da humanidade. Deus “desce e entra em nosso mundo e em nossa história para assumir em tudo a nossa existência. Desta forma, também os cristãos, para seguir e servir a Deus, devem ‘descer’ e ‘entrar’ em tudo o que é humano, que constrói um mundo mais humano e que nos humaniza.” (Doc 105, n. 163). O evangelho de Jesus Cristo deve penetrar e iluminar todas as realidades humanas e sociais, pois Jesus Cristo, o Verbo Encarnado, “revela o homem ao próprio homem.” (GS 22). Entendemos que o compromisso sócio transformador nasce e encontra seu critério em Jesus Cristo, seu evangelho e seu Reino. O leigo presta um serviço cristão à humanidade, quando exerce sua cidadania guiado pela Doutrina Social da Igreja, procurando uma coerência, nem sempre de fácil discernimento, entre ser membro da Igreja e ser cidadão. 

Expressa e testemunha este modo de viver, como cristão e cidadão, em todos os âmbitos da sociedade. O documento da CNBB “Cristãos leigos e leigas na Igreja e na sociedade: sal da terra e luz do mundo” (Doc. 105) apresenta alguns “modernos areópagos” onde a presença cristã dos leigos se faz necessária. A família é vista como “areópago primordial” (n. 255). Depois, a política, pois segundo S. João Paulo II, “os fiéis leigos não podem absolutamente abdicar da participação na política destinada a promover o bem comum.” (CfL 42). Destaca ainda, o mundo das políticas públicas, o mundo do trabalho, o mundo da cultura e da educação, o mundo das comunicações e do cuidado com nossa casa comum. Outros espaços são “as grandes cidades; as migrações; os refugiados políticos ou de guerra ou de catástrofes naturais; a pobreza; o empenho pela paz; o desenvolvimento e a libertação dos povos, sobretudo o das minorias; a promoção da mulher e da criança; a força da juventude; as escolas, as universidades; a pesquisa científica; as relações internacionais; o turismo, os militares e outros.” (Doc 105, n. 273). Não é possível querer ser um cristão autêntico e maduro e fugir destas realidades, como se nada tivessem a ver com nossa fé. “Jesus quer que toquemos a miséria humana, que toquemos a carne sofredora dos outros”, nos disse o Papa (EG 270). 

CNBB 19-07-2016
*Dom Adelar Baruffi: Bispo de Cruz Alta.

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