segunda-feira, 19 de setembro de 2016

Artigo celebra diversidade na Rio 2016

 domtotal.com
A paratleta Amy Purdy dança com um robô durante a cerimônia de abertura dos Jogos Paralímpicos.
A paratleta Amy Purdy dança com um robô durante a cerimônia de abertura dos Jogos Paralímpicos.

Tendo em vista o Dia Nacional de Luta da Pessoa com Deficiência, comemorado nesta quarta-feira (21), a professora Maria Carolina Reis preparou artigo sobre o tema para o portal Dom Total.

Inspirada pelos Jogos Olímpicos e Paralímpicos, Maria Carolina compartilha reflexões sobre o esforço e a superação dos atletas, a expressão da diversidade no decorrer dos eventos e o aspecto inclusivo das modalidades paralímpicas. Como professora de português, analisa o uso de termos em referência às pessoas com deficiência.

Veja abaixo:

O delicioso sabor da vitória da diversidade

Por Maria Carolina Reis*

No dia 21 de setembro celebramos o Dia Nacional de Luta da Pessoa com Deficiência. A data foi escolhida porque está próxima do início da primavera, o que representaria o nascimento e a renovação da luta das pessoas com deficiência.

Inspirada pelo movimento paralímpico e movida pela emoção de ter presenciado momentos inesquecíveis na Rio 2016, compartilho minhas reflexões como uma singela contribuição para este dia tão importante. Não há dúvidas de que os Jogos Olímpicos e Paralímpicos são a própria expressão da diversidade e também lugar de superação. Ouvimos e vemos tantas histórias de atletas que, com muito esforço e determinação, superam dificuldades e conseguem ir além dos seus limites. Isso nos emociona e nos motiva a não desistir da nossa luta diária, seja cuidando, apoiando e estimulando nossos filhos ou amigos a conseguirem romper seus limites físicos ou intelectuais, seja combatendo situações de discriminação e exclusão.

Nos Jogos, há também um grande foco na perfeição, na nota máxima, na vitória. Entretanto, o erro e a derrota também fazem parte do jogo. E é a vivência desse paradoxo que nos encanta e nos aproxima dos atletas olímpicos e paralímpicos. Infelizmente, há aqueles que veem no momento de falha de um atleta uma oportunidade para ofendê-lo e humilhá-lo, assim como muitos fazem em relação ao diferente. As palavras ofensivas, atitudes agressivas e preconceituosas machucam muito e provocam “lesões” muitas vezes irreparáveis.

Quem sabe as Olimpíadas do Rio e, principalmente as Paralimpíadas que teve um público tão grande e em sua maioria crianças, podem contribuir para virar esse jogo? A abertura das Olimpíadas (que vi pela TV) mostrou lindamente a nossa diversidade, dando visibilidade às mulheres, aos negros, índios, migrantes, trans, pessoas da periferia e refugiados.

No entanto, foi nas Paralimpíadas que minha esperança se renovou. A cerimônia de abertura, festa que tive o privilégio (digo privilégio, porque muitas pessoas não puderam nem assistir pela televisão já que, infelizmente, a transmissão ficou restrita a um canal a cabo e parcialmente por um canal aberto) de estar lá, celebrou a perfeição do ser humano na diversidade: um espetáculo com um repertório musical irretocável, momentos de tirar o fôlego e cenas de emoção e aprendizado: no acendimento da pira pelo nadador Clodoaldo Silva, cadeirante, a escada se transformou em uma rampa, mostrando a importância de ações de acessibilidade.

Nas competições, enquanto torcedores se surpreenderam ao ver atletas de alto rendimento e disputas de alto nível, atletas se surpreenderam com uma torcida entusiasmada e disposta a conhecer e curtir as modalidades esportivas paralímpicas. Mesmo já conhecendo um pouco das modalidades, fiquei muito feliz em perceber que elas realmente são inclusivas, visto que permitem atletas de todas as idades (maiores de 12 anos) e diferentes tipos e graus de deficiência. Em uma prova de revezamento de natação, por exemplo, vi atletas de 48 anos competindo com outros de 15 anos e com deficiências diversas. Vi disputas em que atletas com e sem deficiências competiam juntos. É claro que isso requer uma logística complexa, mas demonstra que é possível estabelecer igualdade de condições (não só no esporte, mas em outras áreas como educação e trabalho) para que todos possam exercer seu papel na sociedade, seja ele qual for, de modo pleno.

Com ou sem deficiência, podemos jogar, nadar, pular, correr, remar, trabalhar, dançar, cantar, torcer, protestar (principalmente por uma maior visibilidade), chorar, ser bem-humorados. Sobretudo, podemos encarar a luta que é de todos. Afinal, o sucesso das Paralimpíadas só veio comprovar o que há muito defendo: todos saem ganhando quando há inclusão. Viva o delicioso sabor da vitória da diversidade!!!

A linguagem mais adequada...

Como professora de português, não pude deixar de identificar inadequações em relação ao uso de termos em referência às pessoas com deficiência. É claro que a linguagem não gera o preconceito, mas é ela que o expressa e reforça. Por isso, vale esclarecer o seguinte: não se usa mais o termo “deficiente” ou “portador de deficiência”. O termo mais adequado é “pessoa com deficiência” (que pode ser auditiva, visual, física, intelectual) já que, dessa forma, a figura da pessoa vem antes da deficiência. “Deficiente” tem uma conotação pejorativa, pois se associa a uma ideia de ineficiência. “Portador” também é incorreto porque as pessoas não “portam” a deficiência assim como não “portam” cabelos louros ou olhos verdes. Da mesma forma deve-se dizer pessoa com síndrome de Down. O termo “pessoa com necessidades especiais” é mais amplo: englobando idosos, grávidas ou outra pessoa que tenha dificuldade para realizar alguma atividade e necessitam de mais conforto ou segurança. (Fonte: Eduardo Ronchetti/Projeto Mano Down).

*Graduada em Letras, Habilitação Português/Inglês, pela Faculdade de Letras da Universidade Federal de Minas Gerais - UFMG. Mestra e Doutora em Estudos Linguísticos pela Faculdade de Letras da UFMG. Professora de Português da Graduação na Escola Superior Dom Helder Câmara.

Redação Dom Total

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