quinta-feira, 15 de setembro de 2016

Empresa júnior e Doutrina Social: as novas gerações a serviço da humanidade

domtotal.com
Por Élio Gasda*

O Brasil vive uma crise que vai além da economia. O problema é político e ético. A corrupção descortinou o setor público e o privado. Expôs grandes empresários, empresas e seus executivos. O mercado vive de expectativas. Boas são as que vêm do 3º setor como as Empresas Juniores (EJs). A Empresa Júnior está se convertendo em um dos maiores movimentos de empreendedorismo. O Brasil é o país com o maior número dessas empresas no mundo. Segundo dados apresentados pela Brasil Júnior (Confederação Brasileira de Empresas Juniores) existem no país cerca 300, com 11 mil empresários que executam em média 3 mil projetos por ano. Presentes em 18 Estados. Com objetivos educacionais, formadas e geridas por alunos de instituições de ensino superior ou técnico, as EJs fomentam o desenvolvimento e o crescimento pessoal e profissional dos alunos, por meio da vivência empresarial.  Sem fins lucrativos e com tributos reduzidos, oferecem serviços de baixo custo e qualidade e ainda contribuem com o desenvolvimento econômico do país.

A Doutrina Social da Igreja oferece valiosos elementos para esta geração de jovens conectada por um propósito de mudança que acredita, luta e sonha com a transformação do Brasil em um país mais empreendedor, com empresas melhores, governos melhores e universidades melhores. Para comemorar os 50 anos da Gaudium et spes o Conselho Pontifício de Justiça e Paz organizou, em 2015, no Vaticano,  evento que reuniu pesquisadores, professores e jovens de mais 20 países que compartilharam sobre as aplicações da Doutrina Social da Igreja nos diversos continentes e seus desafios. O tema: as novas gerações a serviço da humanidade.

A mineira Luiza Pais foi um dos quatro brasileiros convidados. Ela é membro-fundadora e atual conselheira da PCP Jr. (Produção Consultoria Júnior)  do curso de Engenharia de Produção da PUC Minas. Luiza relatou que o encontro de 3 dias apresentou  perspectivas históricas do Concilio Vaticano II e atualidade dos conteúdos da Gaudium et spes. Com a participação do Cardeal Peter Tukson, presidente do Conselho Pontifício de Justiça e Paz, o evento discutiu questões relevantes como a dignidade humana, trabalho decente e salário digno, migrações e refugiados e os novos paradigmas da economia mundial. Os temas foram discutidos por especialistas como Stefano Zamagni. Também participaram das discussões representantes dos Centros de Estudo da Doutrina Social da Igreja em todos os continentes. Jovens doutorandos apresentaram seus trabalhos.

Os debates com professores experientes, de acordo com Luiza, gerou um diálogo frutífero entre as diversas gerações em torno da Gaudium et spes. Concluiu-se que 50 anos depois, o documento mantém enorme atualidade. Temas como o impacto das novas tecnologias da informação e comunicação, o desafio do protagonismo político dos jovens para uma boa governança foram amplamente discutidos. As intervenções do prelado italiano Claudio Maria Celli e da brasileira Rosana Manzini contribuíram nesta reflexão. Para finalizar o evento, ocorreu um workshop protagonizado pelos jovens com debates sobre como as novas gerações podem se comprometer com a humanidade e transformar o ambiente em que vivem. Neste momento, foi apresentado o trabalho da PCP Jr.

De acordo com Luiza Pais, a PCP Jr. possui um modelo de gestão e cultura organizacional consolidado, onde os valores humanos servem de base de suas ações. Ciente da sua responsabilidade quanto ao desenvolvimento da humanidade, a PCP Jr. busca ser agente de transformação social e cultural nestes novos tempos em que não mais se aceita viver em uma sociedade em que os direitos humanos não são respeitados. Sua grande missão é despertar grandes ideias para transformar os membros em empreendedores capazes de impactar a sociedade e gerar soluções eficazes, com base em um desenvolvimento e estruturação de uma cultura sólida, ética, verdadeira, colaborativa.

A Gaudium et spes ensina que “na vida econômica e social se devem respeitar e promover a dignidade e a vocação integral da pessoa humana e o bem comum da sociedade. Com efeito, o homem é o protagonista, o centro e o fim de toda a vida econômico-social” (n. 63). No quesito aperfeiçoamento pessoal, Luiza Pais acentua a percepção de que a Empresa Junior está em sintonia com a Gaudium et spes: "a atividade humana, do mesmo modo que procede do homem, assim para ele se ordena. De fato, quando age, o homem não transforma apenas as coisas e a sociedade, mas realiza-se a si mesmo. Aprende muitas coisas, desenvolve as próprias faculdades, sai de si e eleva-se sobre si mesmo. Este desenvolvimento, bem compreendido, vale mais do que os bens externos que se possam conseguir. O homem vale mais por aquilo que é do que por aquilo que tem" (GS, n. 35). A pessoa humana está na origem, na evolução e na finalidade da empresa. 

*Élio Gasda: Doutor em Teologia, professor e pesquisador na FAJE. Autor de: Trabalho e capitalismo global: atualidade da Doutrina social da Igreja (Paulinas, 2001); Cristianismo e economia (Paulinas, 2016).

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