O missionário comboniano, dom Franco Masserdotti morreu no dia 17 de setembro de 2006, aos 65 anos de idade, em consequência de atropelamento na cidade de Balsas, Maranhão. Nascido na Itália, Franco Masserdotti havia chegado ao Brasil em 1972. Dirigia a diocese de Balsas há dez anos e era presidente do Conselho Indígena Missionário (Cimi). Em artigo, Egon Heck, do Secretariado Nacional do Cimi, destaca o significado da missão do bispo italiano em defesa dos mais pobres. Confira.
Disposição, doação e sabedoria
Permanente alegria estampada no rosto. Coração grande e generoso. Lucidez e sabedoria na defesa corajosa e radical dos povos indígenas e dos pobres.
Juventude acumulada, mesmo aos 65 anos. Ainda jogava um futebolzinho e não deixava de fazer suas caminhadas diárias. Admirável sua disposição para o trabalho na causa dos mais pobres, especialmente os povos ori
ginários. Na medida em que foi conhecendo suas culturas e lutas, com maior paixão e garra foi assumindo essa causa.
Nos seis anos na presidência do Conselho Indigenista Missionário (Cimi) teve momentos marcantes na caminhada e lutas dos povos indígenas, como a Marcha e Conferência 2.000, organizada pelo Movimento de Resistência Indígena, Negra e Popular. Foi o movimento de resistência indígena mais expressivo das últimas décadas. A repressão do Estado brasileiro à Marcha que se dirigia a Porto Seguro foi a demonstração mais cabal dos 500 anos de violência. Dom Franco estava lá participando e sofrendo a violência com que a Marcha foi reprimida.
Juventude acumulada, mesmo aos 65 anos. Ainda jogava um futebolzinho e não deixava de fazer suas caminhadas diárias. Admirável sua disposição para o trabalho na causa dos mais pobres, especialmente os povos ori
Nos seis anos na presidência do Conselho Indigenista Missionário (Cimi) teve momentos marcantes na caminhada e lutas dos povos indígenas, como a Marcha e Conferência 2.000, organizada pelo Movimento de Resistência Indígena, Negra e Popular. Foi o movimento de resistência indígena mais expressivo das últimas décadas. A repressão do Estado brasileiro à Marcha que se dirigia a Porto Seguro foi a demonstração mais cabal dos 500 anos de violência. Dom Franco estava lá participando e sofrendo a violência com que a Marcha foi reprimida.
Em 2002, a Campanha da Fraternidade foi sobre a questão indígena: “Por uma Terra Sem Males”. Foi um momento forte de tomada de consciência dos cristãos sobre as vidas e lutas dos povos indígenas no Brasil. Intensas atividades de informação, reflexão e solidariedade com os povos originários do nosso país. Dom Franco, como presidente do Cimi, teve intensas agendas em nível da Igreja e sociedade. Foi também o ano de muita reflexão e autocritica interna do Cimi, por ocasião de seus 30 anos de existência.
A centralidade da questão missionária
Dom Franco teve importante contribuição na dimensão missionária. Foi um grande conhecedor e defensor da dimensão missionária, tendo conhecido e participado de inúmeras experiências e trabalhos missionários, especialmente na África e América Latina. Trouxe esse vigor missionário para as atividades e agendas do Cimi. Contribuiu de forma fundamental na elaboração do Plano Pastoral da entidade. Empenhou-se para a construção da simpática capela no Centro de Formação Vicente Cañas.
Foi um missionário por excelência. Entendia como missão a opção radical pelos pobres e oprimidos e a doação da vida por essa gente: “Se quisermos mudar esse mundo temos que gastar nossa vida em defesa dos mais pobres”.
Como sociólogo, não deixava de assumir e ressaltar a dimensão transformadora e libertadora da missão. Sempre esteve alinhado e unido ao grupo dos bispos que tinha uma pastoral e compromisso social em sua atuação pastoral e política.
Não deixou de considerar, em sua atuação como presidente do Cimi e atuação como bispo de Balsas, no Maranhão, dimensões cruciais para os dias atuais, como a questão ambiental, o aquecimento global e a destruição brutal das condições de vida em nossa casa comum, como tantas vezes tem repetido o papa Francisco.
Após dez anos de sua súbita partida, deixa não apenas um testemunho e um desafio para nós que lutamos ao lado dos povos indígenas na luta pela vida e seus direitos, mas para todos os brasileiros, que lutam por um Brasil plural, justo e solidário.
Dom Franco, presente.
Somos gratos e homenageamos todos os presidentes do Cimi, que deram sua valiosa contribuição e o melhor de si no serviço à causa indígena, na presidência do Cimi. Padre Jaime Venturelli, Padre Vicente Cesar, dom Tomás Balduino, dom José Gomes, dom Erwin Kräutler, dom Aparecido José Dias, dom
Franco Masserdotti e egora dom Roque Paloschi. E nesta homenagem de reconhecimento e gratidão queremos nos unir aos nossos mártires e todos os missionários e agentes de pastoral indigenista, que se doaram à causa indígena nesses 44 anos do Cimi.
Foi um testemunho de diálogo e esperança: “Importante é saber valorizar o outro, acreditar no pluralismo da experiência cristã e na inculturação do Evangelho, promover a escuta e a colaboração entre as igrejas e as religiões, assumindo em conjunto as grandes causas que caracterizam hoje o Reino de Deus na história: a justiça, a paz, a ecologia, os direitos humanos, a reforma agrária, os refugiados, os migrantes... A visão crítica do passado convida a superar toda atitude de arrogância, mas não admite medo, fatalismo, pessimismo. Requer confiança, esperança” (Porantim nº 223 - março de 2000).
“A verdadeira morte acontece quando colocamos a nossa esperança e o sentido de nossa vida na posse, no poder, no prazer desregrado, quando fechamos o nosso coração ao próximo e nos deixamos levar pelo egoísmo. A verdadeira morte é quando temos medo de perder nossa vida por causa de Jesus e do Evangelho (cf Mt 8,35)” (Em Memória de dom Luciano, 30 agosto de 2006).
Brasília, 16 de setembro de 2016.
Egon Dionísio Heck, do Secretariado Nacional do Cimi. Fotos: arquivo Cimi
A centralidade da questão missionária
Dom Franco teve importante contribuição na dimensão missionária. Foi um grande conhecedor e defensor da dimensão missionária, tendo conhecido e participado de inúmeras experiências e trabalhos missionários, especialmente na África e América Latina. Trouxe esse vigor missionário para as atividades e agendas do Cimi. Contribuiu de forma fundamental na elaboração do Plano Pastoral da entidade. Empenhou-se para a construção da simpática capela no Centro de Formação Vicente Cañas.
Como sociólogo, não deixava de assumir e ressaltar a dimensão transformadora e libertadora da missão. Sempre esteve alinhado e unido ao grupo dos bispos que tinha uma pastoral e compromisso social em sua atuação pastoral e política.
Não deixou de considerar, em sua atuação como presidente do Cimi e atuação como bispo de Balsas, no Maranhão, dimensões cruciais para os dias atuais, como a questão ambiental, o aquecimento global e a destruição brutal das condições de vida em nossa casa comum, como tantas vezes tem repetido o papa Francisco.
Após dez anos de sua súbita partida, deixa não apenas um testemunho e um desafio para nós que lutamos ao lado dos povos indígenas na luta pela vida e seus direitos, mas para todos os brasileiros, que lutam por um Brasil plural, justo e solidário.
Dom Franco, presente.
Somos gratos e homenageamos todos os presidentes do Cimi, que deram sua valiosa contribuição e o melhor de si no serviço à causa indígena, na presidência do Cimi. Padre Jaime Venturelli, Padre Vicente Cesar, dom Tomás Balduino, dom José Gomes, dom Erwin Kräutler, dom Aparecido José Dias, dom
Foi um testemunho de diálogo e esperança: “Importante é saber valorizar o outro, acreditar no pluralismo da experiência cristã e na inculturação do Evangelho, promover a escuta e a colaboração entre as igrejas e as religiões, assumindo em conjunto as grandes causas que caracterizam hoje o Reino de Deus na história: a justiça, a paz, a ecologia, os direitos humanos, a reforma agrária, os refugiados, os migrantes... A visão crítica do passado convida a superar toda atitude de arrogância, mas não admite medo, fatalismo, pessimismo. Requer confiança, esperança” (Porantim nº 223 - março de 2000).
“A verdadeira morte acontece quando colocamos a nossa esperança e o sentido de nossa vida na posse, no poder, no prazer desregrado, quando fechamos o nosso coração ao próximo e nos deixamos levar pelo egoísmo. A verdadeira morte é quando temos medo de perder nossa vida por causa de Jesus e do Evangelho (cf Mt 8,35)” (Em Memória de dom Luciano, 30 agosto de 2006).
Brasília, 16 de setembro de 2016.
Egon Dionísio Heck, do Secretariado Nacional do Cimi. Fotos: arquivo Cimi
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