terça-feira, 11 de outubro de 2016

O engenheiro e o mercado

A janela de oportunidades que potencialmente se abrirá é imensa.
Nenhum progresso é verdadeiro e sustentável sem que as questões sociais sejam centrais.
Nenhum progresso é verdadeiro e sustentável sem que as questões sociais sejam centrais.
Por José Antônio de Sousa Neto*
Os danos feitos ao país pelos últimos governos ao longo dos anos foram significativos. As consequências institucionais, econômicas, sociais e culturais são contundentes. Uma bolha efêmera de consumo travestida de progresso e inserção social, mas sem o lastro de princípios, valores e fundamentos básicos ao desenvolvimento não poderia de fato ser sustentável. Mas o legado deste período não tem preço para o país. As instituições brasileiras corroídas por dentro, inclusive sua democracia, foram gravemente ameaçadas e testadas em seus limites. Sobrevivemos! Na perspectiva da engenharia eu chamaria isto de testes de “stress”.  Apesar da turbulência ainda em curso, de persistentes distorções institucionais e do longo caminho ainda a ser percorrido é inegável a evolução da consciência da nação como nação. Inegável também a importância das discussões  e de algumas ações de cunho social para as quais, mesmo que de forma imperfeita e em muitos casos com intenções escusas, foram dadas ao longo dos últimos anos um papel proeminente. Nenhum progresso é verdadeiro e sustentável sem que as questões sociais sejam centrais. E isto tem vindo à tona de forma contundente mesmo nas economias mais avançadas.
Mas nosso breve texto é sobre as perspectiva da engenharia no país. Caro leitor, tenho boas notícias! Pode parecer otimismo ou mesmo coragem dizer isso em meio a que é talvez a maior crise econômica, social e de desemprego ao longo de quase um século, mas no contexto do parágrafo anterior e a partir da aprovação das reformas estruturais pelo congresso nacional a janela de oportunidades que potencialmente se abrirá é imensa. E não temos outro caminho. Este é o único possível apesar de retrocessos de caráter ideológico e de motivações pouco nobres que não deixarão de ameaçar nosso progresso. O desenvolvimento tecnológico e da engenharia é literalmente um dos pilares para o desenvolvimento de uma nação. Poucos países podem trazer tantas oportunidades neste sentido como o Brasil. Se o leitor me permitir uma expressão um pouco mais coloquial gostaria de reproduzir aqui uma frase que tenho ouvido com muita frequência tanto de empresas da cadeia de valor do setor de infraestrutura como de potenciais financiadores: “O país ainda tem tudo a ser feito!”.
O mercado de engenharia em momentos de recuperação de confiança ou em momentos onde se acredita haver confiança é sempre muito promissor porque setores ligados à engenharia são normalmente motores muito importantes do desenvolvimento econômico.  Embora não estivesse ancorada em fundamentos econômicos e estruturais verdadeiros e sólidos, como já comentamos anteriormente, a percepção por muitos, mesmo equivocada, de que o Brasil estava no caminho de um desenvolvimento sustentável, abriu um oceano de oportunidades aos profissionais da engenharia. Neste período começou a faltar mão de obra. Participei de reuniões empresariais, não faz tanto tempo assim, onde se cogitava trazer inclusive profissionais do exterior e se discutia as dificuldades das leis trabalhistas para viabilizar esta solução paliativa. Caro leitor, mais uma vez peço licença para fazer uma previsão: Isso vai acontecer de novo! Mais ainda se não formarmos em número suficiente a quantidade de novos engenheiros que o país vai precisar!
Gostaria de fundamentar este texto com dados concretos. O Departamento Intersindical de Estatística e Estudos Socioeconômicos (Dieese) a pedido da Federação Nacional dos Engenheiros (FNE) elaborou e publicou em Outubro de 2015 o “Perfil ocupacional dos profissionais da engenharia no Brasil”, utilizando dados fornecidos pelos empregadores ao Ministério do Trabalho e Emprego. O período observado que corresponde ao início do novo milênio até o ano de 2008 com o grande boom das commodities que beneficiou imensamente os países em desenvolvimento e alguns anos subsequentes onde estes países ainda se beneficiaram da inércia do “moto econômico” que estava em curso. Ou seja, a simples tentativa de incremento da infraestrutura nacional e da oferta de crédito refletiu diretamente no emprego da categoria. Temos um retrato de um ciclo virtuoso, que lamentavelmente não foi sustentável posto que lastreado em fundamentos equivocados. Com as devidas e absolutamente necessárias correções de rumo vamos certamente retomar este ciclo. Vejamos então alguns destes dados:
Slide da disciplina O Engenheiro e o Mercado dos cursos de Engenharia da EMGE
O estudo mostra crescimento de 87,4% nos empregos formais ao longo de dez anos com um salto de 127,1mil para 273,7 mil postos com carteira assinada no País e aponta a clara relação entre aquecimento da atividade econômica e oportunidades para os engenheiros.

Slide da disciplina O Engenheiro e o Mercado dos cursos de Engenharia da EMGE – Fonte Dieese
Durante todo o período analisado, os engenheiros civis compuseram o maior grupo de profissionais empregados na engenharia, representando 30,6% do total em 2013. Os engenheiros elétricos, eletroeletrônicos e afins chegaram a 13,4% do total. Os engenheiros industriais, de produção e de segurança ampliaram sua proporção inicial de 10,0% para 14,8% em 2013, quando passaram a compor o segundo maior subconjunto de profissionais vinculados formalmente a empresas. A engenharia química e da engenharia da computação, além do “market share” de suas especialidades são em grande medida transversais e basilares às outras categorias acima mencionadas.
Pelas razões também acima já mencionadas, principalmente em relação ao número atual de engenheiros e as necessidades do país quando estabilizado observa-se uma natural tendência do aumento do salário médio real conforme o gráfico abaixo:
Salário médio real mensal [1] dos profissionais de engenharia no período estudado:
Evidentemente neste breve texto não é possível com a profundidade que eu gostaria fundamentar de forma mais ampla a importância do crescimento econômico para a engenharia e a importância da engenharia para o crescimento econômico. Com um otimismo realista, no entanto, acredito que novas e muito boas perspectivas devem se abrir para o país, para os profissionais da engenharia e para os jovens que decidirem construir suas profissões nesta área. Não estou dizendo que isso já vai acontecer nos próximos meses, mas é quase inevitável, na premissa de que as reformas necessárias serão implementadas no país, de que isso vai acontecer ao longo dos próximos anos.
*José Antônio de Sousa Neto: Professor da Escola de Engenharia de Minas Gerais (EMGE). PhD em Accounting and Finance pela University of Birmingham no Reino Unido

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