domingo, 27 de novembro de 2016

Meditação e reflexão

Mas, o que ela é, realmente?
O ideal é um cantinho na natureza, entre árvores ou diante da imensidão do mar.
O ideal é um cantinho na natureza, entre árvores ou diante da imensidão do mar. (Arquivo / Evaldo)
Por Evaldo D´Assumpção*

Num mundo dominado pela agitação e sofreguidão, surge como contrapartida uma proposta cujo nome desperta bastante desconfiança: a meditação. Mas, o que ela é, realmente?

Se buscarmos nos dicionários, encontraremos que meditar é definido como estudar o pensamento, o conteúdo de; pensar sobre; ponderar. E meditação se refere ao ato ou efeito de meditar, de pensar com grande concentração de espírito.

Já refletir, numa definição mais simples, significa meditar, pensar muito.

Contudo, a meditação a que nos referimos, nada tem a ver com a reflexão, estando mais próxima da definição que diz ser ela a prática de concentração mental que se propõe a levar, através de uma sucessão de estádios, à liberação espiritual dos laços do mundo material. Simplificando o que não tem nada de tão simples, pode-se dizer que é a arte de esvaziar a mente, buscando alcançar um estágio de vazio mental que proporciona uma abertura maior para o transcendental.

Várias sãos as filosofias e as religiões que adotam esta prática, cada uma explicando-a à sua maneira. Não vamos nos perder nessas discussões que pouco acrescentam à sua prática, mas descrever, suscintamente, seus objetivos, seus efeitos e, especialmente a sua prática.

Em seu livro “Música Silenciosa”, um dos mestres da meditação, Willian Johnston, toma uma frase de São João da Cruz, um dos maiores meditadores cristãos, que diz numa de seus poemas místicos: “Meu amado são as montanhas, os solitários vales umbrosos, longínquas ilhas... música silenciosa.” E define a meditação “como a procura da sabedoria ou seu gozo, uma vez encontrada.” Meditação não é exatamente uma teoria, mas uma prática a ser desenvolvida permanentemente. Hoje intelectuais, estudantes, empresários, religiosos, todos os que se envolvem com a meditação, procuram superar o estresse diário, as pressões da sociedade materialista e consumista, encontrando nela a plenitude da paz e tranquilidade, conquistando forças para sobreviver num mundo tão difícil como este em que vivemos hoje. E como corolário, introduzir-se, por instantes que sejam, no mundo espiritual, onde a transcendência se manifesta e o divino se faz palpável, apaziguando, equilibrando, consolando.

Iniciando com o ambiente e a postura a se tomar, sabemos que cada linha de meditação tem suas indicações próprias, alguma sendo bastante rígidas, até mesmo à intransigência. Depois de várias experiências, prefiro uma orientação mais leve, sem cair na displicência. O local escolhido deve ser essencialmente tranquilo e sem interferências externas, especialmente dos famigerados smartphones que hoje penetram irreverentemente em todos os ambientes. O ideal é um cantinho na natureza, entre árvores ou diante da imensidão do mar, onde o estar só e silencioso poderá ser desfrutado longamente. Em sua falta, uma sala sem movimento e sem maiores barulhos. Sentar-se em posição de lótus – parcial ou completa – sobre uma banqueta, uma almofada, uma pedra ou mesmo uma lajota de argila ou cimento, conservando a coluna dorsal ereta e sempre vigiada para não se ir curvando e deformando-a progressivamente, à medida em que se relaxa. O olhar deve iniciar contemplando a paisagem – quando existe – ou, se numa sala, voltado para um ponto bem à frente, em linha reta. Contudo, sem se perder em identificações de detalhes, simplesmente contemplando o vazio-cheio em sua frente.  As mãos podem ficar sobre os joelhos ou cruzadas no baixo ventre. E, com a postura tomada, passar a prestar atenção na respiração, que deve ser pausada, ligeiramente profunda, de preferência abdominal. Quando os olhos se cansarem, deixá-los se fechar, sem apertar as pálpebras. A partir de então, deixar que os pensamentos venham, mas sem se prender a nenhum deles. Que eles passem como nuvens percorrendo um céu azul. Não questionar nada, não refletir nada, simplesmente permitir que a mente se esvazie, totalmente, de tudo.

Pode parecer fácil, mas descobre-se logo como tudo isso é difícil. Exige persistência, insistência, e sobretudo humildade para saber que nada irá acontecer de imediato, mas com a repetição diária oportunamente virão os frutos. Quando menos se esperar.

O tempo a ser utilizado, deve se iniciar com 10 minutos, e depois ir progredindo lentamente até alcançar o ideal, que é de 20 a 30 minutos, todos os dias, de preferência no mesmo horário. O tempo poderá ser marcado com um temporizador eletrônico, cuja campainha não seja demasiadamente estridente. Com a prática, este recurso poderá ser dispensado, pois aprende-se a marcar o tempo naturalmente.

Concluindo-se a meditação, faz-se uma reverência com as mãos e a cabeça, num gesto de gratidão pela paz desfrutada e, sem pressa nem com gestos bruscos, levanta-se, e volta-se ao mundo quotidiano. Os efeitos da meditação um dia chegarão e se descobrirá que valeu a pena todo aquele esforço. 

Evaldo D´Assumpção é médico e escritor
EMGE
*O DomTotal é mantido pela Escola de Engenharia de Minas Gerais (EMGE). Engenharia Civil conceito máximo no MEC. Saiba mais!

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