sexta-feira, 2 de dezembro de 2016

Consciência negra e abandono do racismo: teologia e convite à igualdade

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Nosso país, mesmo que se diga o contrário, mantém incrustado em sua cultura a prática do racismo.
Racismo e desigualdade dele gerada continuam tendo força.
Racismo e desigualdade dele gerada continuam tendo força. (Paulo Pinto / Fotos Públicas)
Por Felipe Magalhães Francisco*

O mês de novembro foi dedicado às reflexões acerca da Consciência Negra, cujo cume foi o dia 20. Nestes nossos tempos, em que ondas reacionárias vão ganhando cada vez mais espaço em todos os setores sociais, é preciso perseverar na luta por boas causas, tal como esta da superação do racismo e da busca por igualdade e equidade.

Nosso país, mesmo que se diga o contrário, mantém incrustado em sua cultura a prática do racismo. Prática, essa, acompanhada de um sentimento de inferioridade dos negros, em relação aos outros. O paradoxal é que a cultura brasileira – ou as culturas, para ser mais realista – tem sido moldada em sua variedade e riqueza, justamente graças à miscigenação de nosso povo. No entanto, o racismo e a desigualdade dele gerada continuam tendo força.

O primeiro artigo, de nossa autoria, reflete a respeito de que, Sim, somos racistas, e isso não é motivo de orgulho! Nele, refletimos sobre as desigualdades sociais provocadas por uma desigualdade que, intrinsecamente, corresponde ao não reconhecimento da igualdade humana. Os cristãos e cristãs, nesse sentido, por serem os seguidores de Jesus, paradigma de humanização e da realização da vocação humana criada à imagem e à semelhança de Deus, são chamados a lutar para romper com o racismo, no sonho pela realização do Reino de Deus, onde todos somos iguais.

O segundo artigo, Cristianismo e racismo: legitimação ou ruptura?, da Revda. Dra. Lilian Conceição da Silva Pessoa de Lira, faz uma leitura da realidade brasileira, mostrando como houve – e ainda há – toda uma tentativa de romancear as relações estabelecidas entre brancos e negros, criando a falsa ilusão de que não carregamos o peso do racismo em nossa história. Ao mesmo tempo em que pergunta pelo lugar das religiões cristãs, na manutenção de práticas racistas em nossa sociedade, a autora aponta elementos de superação dessas práticas, revelando a importância da busca por igualdade.

O terceiro artigo, Religiões afro-brasileiras: entre a fé e a resistência, da Ms. Tânia da Silva Mayer, aborda o importante tema das fés de origens afro-brasileiras, como sinal de resistência na superação dos próprios dramas provocados pela injustiça e de busca de sentido para a vida e para a história. Nestes tempos, em que a intolerância religiosa faz com que os que se denominam cristãos agridam as fés, as manifestações dessas fés e os símbolos e pessoas dessas religiões afro-brasileiras, é preciso pensar sobre caminhos de respeito e de liberdade religiosa, como condição de possibilidade de uma existência social saudável e humana.

Boa leitura!

*Felipe Magalhães Francisco é mestre em Teologia, pela Faculdade Jesuíta de Filosofia e Teologia. Coordena a Comissão Arquidiocesana de Publicações, da Arquidiocese de Belo Horizonte. Articula a Editoria de Religião deste portal. É autor do livro de poemas Imprevisto (Penalux, 2015).

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