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Os conservadores populistas perderam o rumo da conversa e não sabem o que fazer.
Uma batata quente para ser descascada nestes próximos meses. (Reprodução)
Por Lev Chaim*
Estava um sol esplêndido e a temperatura em torno dos 6 graus negativos. Caminhava com o Pitú (meu cão e amigo) pelas gramas e árvores ao redor de Heusden, Holanda, e pensava na Grã-Bretanha, cujo ‘império se desaba’ com a ajuda dos próprios populistas britânicos, que se aproveitaram do medo e da angústia do populacho, para vencer, custe o que custar, o plesbicito para a saída do país da União Europeia (UE), com uma campanha não necessariamente preocupada com as consequências reais do fato.
Foi isto que aconteceu no dia 23 de junho de 2016 passado: 52% apoiaram a saída da Grã-Bretanha da UE; e 48% votaram não. Além da pouca diferença no resultado geral, se olharmos com cuidado, podemos ver que no plebiscito feito, apenas na Inglaterra e no País de Gales o ‘não’ venceu. Na Escócia e na Irlanda do Norte o permanecer dentro da União foi vitorioso.
E agora, o embaixador britânico na União Europeia, Sir Ivan Rogers, um dos mais experientes peritos em assuntos europeus a serviço do Reino, renunciou ao seu cargo e deixou uma carta bomba para o governo da primeira-ministra, Thereza May, e para todos os que fizeram campanha fajuta pró-saída do país da União. Entre os culpados estão: o populista Nigel Farage, que logo após a vitória, renunciou ao cargo de parlamentar europeu e disse que ia cuidar de sua vida privada; e do populista conservador Boris Johnson, que se tornou ministro do exterior no novo gabinete.
Ivan Rogers, especializado em finanças, escreveu que estava totalmente insatisfeito com a atuação da primeira-ministra frente a esta enorme crise de seu país. Estas foram as suas palavras, nada diplomáticas, ditas ao corpo diplomático britânico: “Espero que vocês combatam com argumentos e pensamentos fundamentados em fatos reais e nunca tenham medo de dizer a verdade aos donos do poder”.
Em outras palavras, ele confirma que a campanha, para a saída da Grã-Bretanha da UE, foi montada com ideias populistas, que estimularam o ‘falso’ medo do eleitor britânico para a possibilidade da vinda de mais imigrantes ao país e do dinheiro que custa para ser membro da União. Na verdade, a União organiza o recebimento conjunto de imigrantes, o que é melhor para todos. E o dinheiro pago à Bruxelas, em comparação com os benefícios, não é grande coisa.
Sir Rogers recebeu críticas pela renúncia dos pró-separação da União com as seguintes palavras xenofóbicas: “Ele havia se tornado ‘nativo’, defendendo mais os interesses da União do que da Grã-Bretanha”. Isto porque ele trabalhou três anos no gabinete do antigo premier Tony Blair, considerado o mais europeu de todos eles. E dizem também que Rogers havia aconselhado o premier David Cameron, antecedente de May, a não brigar em Bruxelas para mais vantagens para o seu pais, mas ir com diplomacia, que teria melhor efeito.
Em outras palavras, os conservadores populistas, que lutaram para o Brexit (a saída da Grã-Bretanha da União Europeia), perderam o rumo da conversa e não sabem o que fazer. Eles agora vão ter que comer o próprio lixo que espalharam e dar explicações ao povo. O divórcio da União vai ser uma luta dura e Bruxelas não está disposta a fazer concessões à Londres. Para diminuir o estrago feito com a saída daquele experiente embaixador britânico, que nem avisou com antecedência à primeira-ministra, Thereza May, foi substituído às pressas por Sir Tim Barrow.
Com isto, espalham-se as dúvidas e o caos no país. Vejam só: a fábrica de automóveis Nissan, em Sunderland, tem no mercado europeu o seu maior cliente e muitas peças desses carros são importados de diferentes fabricantes europeus. Com o Brexit, fica tudo no ar o que irá acontecer com todos esses interesses que, até o momento, ficaram no total desconhecimento dos que votaram a favor da separação da União. Isto se traduz em menos ganhos e menos empregos, principalmente para os britânicos.
E não é só um grande problema econômico e financeiro para a Grã-Bretanha, como também político. Tanto a Escócia como a Irlanda do Norte não querem sair da União Europeia. As Universidade Britânicas já anunciaram que irão colaborar totalmente com as universidades europeias independentemente do status do país. Em outras palavras, uma batata quente para ser descascada nestes próximos meses, com pessoas pouco experientes em Europa do lado dos britânicos – ‘um império que parece desabar’.
*Lev Chaim é jornalista, colunista, publicista da FalaBrasil e trabalhou mais de 20 anos para a Radio Internacional da Holanda, país onde mora até hoje. Ele escreve todas as terças-feiras para o Domtotal.
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