quinta-feira, 2 de fevereiro de 2017

Fraternidade São Pio X: mais próxima da reconciliação

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O arcebispo Guido Pozzo confirmou que a etapa da plena comunhão com os lefebvrianos está se aproximando.
Dom Fellay, Superior da Fraternidade São Pio X, durante ordenação presbíteral  em Econe, Suíça.
Dom Fellay, Superior da Fraternidade São Pio X, durante ordenação presbíteral  em Econe, Suíça. (Reuters)
Por Andrea Tornielli*

“Neste momento, está se trabalhando para aperfeiçoar alguns aspectos da figura canônica, que será a Prelatura pessoal”. O arcebispo Guido Pozzo, secretário da Comissão Ecclesia Dei, que se ocupa do diálogo com a Fraternidade São Pio X, confirmou ao Vatican Insider que a etapa da plena comunhão com os lefebvrianos está se aproximando. A meta do acordo está no horizonte, mesmo que ainda será necessário um pouco de tempo. 

No dia 29 de janeiro de 2017, o superior da Fraternidade São Pio X, o bispo Bernard Fellay, participou como convidado do programa Terres de Mission, da TV Liberté. Durante a entrevista, Fellay confirmou que o acordo está avançando e que para chegar à solução canônica não será necessário esperar, senão até quando a situação dentro da Igreja for “totalmente satisfatória”, segundo a Fraternidade São Pio X, que durante estes anos não deixou de mencionar o nome do Papa, nem de rezar por ele na celebração das missas. Fellay destacou a atenção de Francisco pelas “periferias”, que se relaciona também com a Fraternidade, e explicou a importância de acabar com a separação de Roma.

O caminho de aproximação, após o pequeno cisma desencadeado pelas quatro ordenações episcopais ilegítimas realizadas por dom Marcel Lefebvre, em 1988, começou no ano 2000, quando os lefebvrianos fizeram uma peregrinação a Roma pelo Jubileu. João Paulo II permitiu que se iniciasse um novo diálogo. Os contatos se intensificaram com Bento XVI, com quem também foram examinadas questões doutrinais pendentes. O Papa Ratzinger também liberou o uso do missal reconciliar e cancelou as excomunhões aos quatro bispos da Fraternidade. Com Francisco, além de prosseguirem as negociações, houve a oportunidade para que os sacerdotes lefebvrianos confessassem não só validamente, mas também licitamente os fiéis, durante o Jubileu da Misericórdia. Esta concessão foi estendida, sem limite de tempo, na carta Misericordia et misera.

Em relação aos problemas doutrinais, o essencial parece ter sido superado em vista do acordo. Aos membros da Fraternidade São Pio X foi solicitado o que é necessário para ser católicos, ou seja, a professio fidei, crer na validade dos sacramentos celebrados com o Novus Ordo (a liturgia que surgiu da reforma pós-conciliar) e a obediência ao Pontífice. Houve um diálogo e uma discussão sobre a relação entre o magistério e a tradição, ao passo que segue a discussão (e com um desacordo que poderá se prolongar) sobre temas relacionados ao ecumenismo, a liberdade religiosa e a relação entre a Igreja e o mundo.

Durante a entrevista televisiva, Fellay, além de recordar a concessão do Papa Francisco sobre os sacramentos da reconciliação e da unção dos enfermos, referiu-se às ordenações sacerdotais da Fraternidade, afirmando que ocorrem com a autorização da Santa Sé e sem a necessidade da aprovação do bispo local. O estado da questão, na realidade, precisou Pozzo, é um pouco mais complexo e se relaciona com uma decisão que Bento XVI e a Congregação para a Doutrina da Fé tomaram, há alguns anos. “A Santa Sé – explicou o secretário de Ecclesia Dei – permite e tolera as ordenações sacerdotais da Fraternidade São Pio X, apesar de continuar considerando-as válidas, mas não lícitas, com a prévia comunicação dos nomes dos ordenados ao bispo local. O Papa Francisco concedeu a legitimidade só para a administração dos sacramentos da penitência e da unção dos enfermos. Exatamente porque para que os demais atos sacramentais sejam além de válidos, legítimos, é necessário chegar a uma solução canônica que enquadre a Fraternidade”

A via escolhida para a solução canônica, como se sabe, é a da Prelatura pessoal, inédita figura introduzida no novo Código de Direito Canônico, em 1983, e até a data só aplicada ao Opus Dei. Durante estes últimos anos, aumentaram os que se negam ao acordo. Um dos quatro bispos a quem o Papa Ratzinger retirou a excomunhão, Richard Williamson, abandonou a Fraternidade e fundou um grupo mais radical e realizou novas ordenações episcopais. A postura de Fellay, ao contrário, se parece muito mais com a do fundador, o arcebispo Lefebvre, que estava para chegar a um acordo, em 1988, com o então cardeal Joseph Ratzinger, prefeito da Congregação para a Doutrina da Fé. No entanto, o acordo evaporou no último momento.


Vatican Insider/ IHU - Tradução: Cepat.

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