terça-feira, 21 de fevereiro de 2017

Na trilha dos jesuítas de Scorsese em Lisboa

Um roteiro pelas pegadas deixadas pela ordem religiosa de Santo Inácio de Loyola e São Francisco Xavier, que partiu da capital portuguesa para evangilizar a Ásia.


Largo do Intendente, no bairro da Mouraria, em Lisboa.
Largo do Intendente, no bairro da Mouraria, em Lisboa. Foto (Andrea Pistolesi)
Por Javier Martín*
Martin Scorsese, com seu filme Silêncio, traz para a atualidade as aventuras e penúrias dos jesuítas que saíam de Portugal para cristianizar a Ásia, a África e a América a partir do século XVI. Lisboa guarda muitos vestígios daquela época, e até se considera que foi na capital portuguesa onde foi criado o embrião da Companhia de Jesus, que se estenderia pelo mundo entre os séculos XVII e XX. (O nome Xavier é bastante comum em Portugal e há quem defenda que o santo era português).
1. A primeira casa jesuíta
Na Mouraria, hoje o bairro mais característico de Lisboa, encontra-se a primeira casa de jesuítas do mundo, que data de 1542. A Companhia vendeu o edifício aos agostinianos no fim do século XVI, e voltou a comprá-lo no século XX. Fica na rua do Marquês de Ponte de Lima.
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Fachada da primeira casa dos jesuítas: mosaico em azulejo. (Arquivo)
 
2. Colégio dos Meninos Órfãos
Foi fundado em 1273 pela rainha D. Brites para acolher crianças pobres e órfãs. Conserva um maravilhoso portal manuelino e, nas escadas, painéis de azulejos reproduzem passagens da Bíblia. Desde 1553, os jesuítas assumiram a educação dos meninos, que preparavam para ser missionários. Rua da Mouraria, 64.
3. Hospital de São José
Na parte administrativa deste enorme hospital no centro de Lisboa se conserva a sacristia e a capela do que, em 1579, foi o Colégio de Santo Antão o Novo, para diferenciá-lo do Velho (a casa da Mouraria). Ali está mantida a Aula da Esfera, uma maravilha à qual é preciso aceder nos dias úteis e como se fosse dar alta a um paciente. Rua José António Serrano.
  Detalhe do antigo hospital de São José, em Lisboa. (Miguel Torres)

4. Sacristia da Igreja de São Roque (1565)
Relíquias de São Francisco Xavier e de Santo Inácio de Loyola, capelas dedicadas e uma sacristia forrada com quadros decorativos. Na primeira fileira, 20 obras de André Reinoso (1619) sobre as façanhas de São Francisco Xavier no Japão. Largo Trindade Coelho.
  Interior da igreja de São Roque, de 1565, em Lisboa. (Neil Farrin)

5. Museu de História Natural
Foi erguido no antigo Noviciado de Cotovia, que a partir de 1619 se destinou à formação e preparação dos jesuítas que partiriam para as Índias. Rua da Escola Politécnica, 56.
  Sala do Museu de História Natural de Lisboa. (Arquivo)
6. Mercado da Ribeira
Hoje é um polo atrativo para turistas, com suas dezenas de restaurantes. Mas em 1600, das águas de sua ribeira partiu o navio São Valentim, com 19 jesuítas a bordo, entre eles o padre Cristóvão Ferreira, de quem nunca mais se soube. O filme de Scorsese narra a expedição dos padres Rodrigues e Garrupe em busca do colega.
Mesas e restaurantes no Mercado da Ribeira, em Lisboa. (Philippe Michel)
 
7. Padrão dos Descobrimentos
Na escultura monumental da Praça do Império, realizada em 1960, uma de suas figuras é a de São Francisco Xavier. É possível identificá-lo por sua barba curta, seu crucifixo e porque leva as palmas das mãos unidas.
  Monumento das Descobertas, em Lisboa. (Wolfgang Kaehler)
 
8. E de sobremesa, um jesuíta
Trata se de um dos doces conventuais típicos de Portugal. Pode ser encontrado em qualquer pastelaria. Há todo tipo de lendas sobre sua origem e seu nome, mas aparentemente o doce foi introduzido há mais de um século por um cozinheiro que tinha trabalhado em uma comunidade da Companhia de Jesus em Bilbao, na Espanha. O doce consiste em uma massa folhada com cobertura de clara de ovo com açúcar e recheio de creme. O mais típico tem um formato original, em homenagem às capas dos padres. A pastelaria Evian, no bairro de Benfica, é famosa por seus jesuítas.
Um doce jesuíta característico das padarias portuguesas. (Arquivo)

Esta matéria foi publicada originalmente no El País, 26/01/17.
*Javier Martín é correspondente internacional do El País.

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