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A forma como vemos e nos relacionamos com Deus determina a forma como vemos e nos relacionamos com nossas aflições.
Aguardar a vinda do Reino de Deus não implica em passividade. (Divulgação)
Por Fabrício Veliq*
Porque para mim tenho por certo que as aflições deste tempo presente não são para comparar com a glória que em nós há de ser revelada. Romanos 8:18
Esse versículo, a meu ver, nos traz duas questões muito interessantes. A primeira, é a constatação, por parte de Paulo, daquilo que Jesus fala em João 16:33, nos seus discursos de despedida: “no mundo tereis aflições, mas tende bom ânimo, eu venci o mundo.” Paulo tem plena consciência de que vive em um mundo de aflições, sendo sua própria vida também um exemplo disso.
Se, no entanto, voltarmos à fala de Jesus que citamos acima, podemos considerar três tipos de pessoas: as que consideram que ter aflições é viver constantemente mal, sofrendo, onde o sofrimento é sinal da modelagem do Espírito em nossas vidas; aquelas que acham que se as aflições são pesadas demais, então é fruto de pecado e necessitam consertar alguma coisa em sua conduta; e ainda aquelas que acreditam que se estão com Jesus, então não podem ter aflições visto Ele ser o príncipe da paz.
Em todos esses tipos, podemos perceber certa deficiência no entendimento da questão proposta tanto por Jesus, quanto também por Paulo. Essa aflição da qual Jesus e Paulo falam em seus respectivos textos tem a ver com o confronto dos parâmetros do sistema mundano em que vivemos e os parâmetros do Reino de Deus.
Jesus, ao falar com os seus discípulos, disse que o mundo os odiaria por causa Dele. Ou seja, no mundo tereis aflições ao observar injustiças como fome, miséria, abuso de poder em prol dos mais favorecidos e assim seremos afligidos por elas, no mundo tereis aflições ao tentar mostrar o reino e perceber que aqueles e aquelas que deveriam facilitar a entrada, forçam a saída e “n” outros exemplos que podemos buscar na vida cotidiana. O reino de Deus sempre foi mostrado como aquele que vai contra os parâmetros mundanos e por esse motivo que sofreremos aflições.
Paulo também sofria por isso. Sofria tanto no corpo devido à época quanto pela consciência que tinha do Reino de Deus. Dessa forma, o texto também é um convite para que repensemos se temos nos afligidos pelas situações que vão contra os parâmetros do Reino nos nossos dias ou se simplesmente nos acomodamos tão grandemente à forma que o mundo é, que já não nos afligimos mais com a violência e a injustiça contra os mais fracos que nós.
Falando sobre aflições, não podemos nos esquecer das aflições da alma, que nos atormentam e nos deixam para baixo. São inúmeras em nosso dia a dia e, muitas vezes, nos esquecemos que essas aflições também são contempladas pelo Pai que nos ama e está disposto a nos ajudar. Nesse sentido, as aflições da alma nos fazem refletir sobre nossa relação com Deus e sobre nosso olhar a respeito Dele. Precisamos sempre nos lembrar que a forma como vemos e nos relacionamos com Deus determina a forma como vemos e nos relacionamos com nossas aflições.
A segunda questão está no restante do versículo. Paulo nos atenta ao fato que essas aflições não se podem comparar com a glória a vir ser revelada em nós. Paulo fala da redenção na volta de Cristo, e assim, traz refrigério a nós, afirmando que dias de plenitude e sem aflições nos chegarão.
Porém, esse aguardar a vinda do Reino de Deus não implica em passividade. Muito pelo contrário, a esperança da glória é aquilo que nos faz lutar para que o mundo seja um lugar melhor de se viver. Assim, devemos ser os representantes dessa “glória a ser revelada em nós”, mostrando pequenos fragmentos daquilo que cremos ser o Reino de Deus a ser revelado.
No fim, esse pequeno versículo nos relembra a esperança que temos no Pai de que Ele é fiel para cumprir suas promessas. Assim, as aflições que passamos devem ser vistas, pelo prisma da fé, como noites que passarão assim que o sol despontar em um novo amanhecer.
*Fabrício Veliq é mestre e doutorando em teologia pela Faculdade Jesuíta de Belo Horizonte (FAJE), doutorando em teologia na Katholieke Universiteit Leuven - Bélgica, formado em matemática e graduando em filosofia pela UFMG. Membro do grupo de pesquisa Fundamental and Political Theology em KU Leuven. Ministra cursos de teologia no cursos de Teologia para Leigos do Colégio Santo Antônio, ligado à ordem Franciscana, no Centro de Formação e Cultura em Divinópolis e é também professor voluntário no CITEP na Faculdade Jesuíta de Belo Horizonte. É protestante e ama falar sobre teologia em suas diversas conversas por aí, tanto presenciais, como online. Seu blog, caso queiram conhecer mais de seus textos, é www.fveliq.blogspot.com. Seu e-mail, caso queiram entrar em contato, é fveliq@gmail.com.
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