O OWTC é hoje o mais alto e também é considerado o mais seguro prédio dos EUA.
Poucos se dão conta de que toda a região do entorno está dentro de uma grande banheira protetora. (Reprodução)
Por José Antônio de Sousa Neto*
O edifício One World Trade Center (OWTC) é uma maravilha da engenharia civil, do design e da resiliência humana. Uma construção inovadora onde o estado da arte da tecnologia construtiva é a regra. Para mim em particular, este edifício de 541 metros de altura incluindo a torre colocada no seu cume traz muitas lembranças e reflexões. Costumava ir com frequência a esta região de Nova Iorque onde se encontram muitos bancos e escritórios de advocacia, parceiros quase inevitáveis na viabilização de grandes projetos de engenharia. Cheguei a subir até o observatório que ficava no alto das torres gêmeas que colapsaram. Era para eu estar em um dos prédios que circundavam as torres no dia da tragédia, mas a reunião que eu teria lá foi cancelada uma semana antes.
O edifício One World Trade Center (OWTC) é uma maravilha da engenharia civil, do design e da resiliência humana. Uma construção inovadora onde o estado da arte da tecnologia construtiva é a regra. Para mim em particular, este edifício de 541 metros de altura incluindo a torre colocada no seu cume traz muitas lembranças e reflexões. Costumava ir com frequência a esta região de Nova Iorque onde se encontram muitos bancos e escritórios de advocacia, parceiros quase inevitáveis na viabilização de grandes projetos de engenharia. Cheguei a subir até o observatório que ficava no alto das torres gêmeas que colapsaram. Era para eu estar em um dos prédios que circundavam as torres no dia da tragédia, mas a reunião que eu teria lá foi cancelada uma semana antes.
Não é possível neste breve texto compartilhar com o leitor tudo que faria jus a esta extraordinária obra. Daria para escrever um livro. Mas gostaria de chamar a atenção para algumas de suas características apenas como um aperitivo para aqueles que se interessarem poderem depois explorar este assunto um pouco mais. O OWTC é hoje o mais alto e também é considerado o mais seguro prédio dos EUA.
Para começar, poucos se dão conta de que toda a região do entorno está dentro de uma grande “banheira” protetora. Cercada pelo Rio Hudson e um solo encharcado, a solução para a viabilização do desenvolvimento urbano na região foi a construção de uma grande parede diafragma. A parede diafragma consiste em se realizar, no subsolo, um muro vertical de profundidades e espessuras variáveis, constituídos de painéis elementares alternados ou sucessivos, e aptos a absorver cargas axiais, empuxos horizontais e momentos fletores.
A parede pode ter função estática ou de interceptação hidráulica, podendo ser constituída de concreto simples, armado ou pré-moldado dentre alternativas, conforme a necessidade e solução técnica correspondente mais adequada. É uma solução indicada quando, por exemplo, é necessária escavação que ultrapasse o nível do lençol freático. A parede diafragma absorve esforços de empuxo de solo e hidrostático. Dependendo do projeto, a parede pode se valer do auxílio de tirantes ou estroncas estruturais e esta foram a solução técnica para todo o entorno de onde hoje está a torre One World Trade Center e onde estavam as torres gêmeas que foram destruídas. Uma solução semelhante à doutrina do Judô: Usar a força do adversário a seu favor. Neste caso a força do desmoronamento fortalece o atrito nos tirantes que dificultam o próprio desmoronamento.
Embora anteriormente nos EUA nunca uma estrutura em aço tivesse colapsado por causa do calor, evidentemente o caso das torres gêmeas foi excepcional. Além das temperaturas altíssimas resultantes da queima de combustíveis os aviões atingiram o núcleo das torres que eram o elemento estrutural central do edifício sustentando a quase totalidade dos esforços em seu entorno. A deformação pelo calor mais a ruptura fez com que os andares de cima não só perdessem a sustentação, mas ganhassem velocidade e aceleração pela gravidade. Não havia como resistir, naquela circunstancia, a cargas e esforços tão poderosos. Para o OWTC decidiu-se desta vez pela construção de um núcleo em concreto. Mas imaginem, mesmo aqueles que não são engenheiros, no contexto de um edifício de mais de cem andares, o peso deste núcleo e o comprimento e a largura desta estrutura de concreto para suportar tamanho peso e esforços de compressão (500 mil toneladas de concreto)! Dentre outras coisas não sobraria muito espaço útil no entorno deste núcleo para a utilização como escritórios.
De fato outra escala de referência para nossas prensas utilizadas nos essências testes de resistência para o concreto.
Para terminar este breve texto, no entanto, gostaria de chamar a atenção para um ponto muito interessante, para não dizer “especial”: Repararam bem no design do edifício? Caros leitores neste caso o design vai muito além da estética. Um dos maiores esforços sobre uma construção deste porte e que o leigo normalmente não se dá conta são causados pelos ventos. Prédios desta dimensão são verdadeiras velas gigantes presas ao solo. Construções modernas são testadas em túneis de vento assim como fazemos para carros esportivos.
As torres gêmeas anteriores eram quadradas. O vento que vinha de qualquer direção ao passar por elas, assim como em estruturas semelhantes, criava redemoinhos na face oposta gerando as conhecidas e tradicionais oscilações na estrutura (infelizmente aqui não será possível abordar as diversas e belas soluções técnicas para este desafio). O design do OWTC reduz significativamente a formação destes redemoinhos e dos esforços resultantes. Isto significa ganho estrutural sob o ponto de vista econômico e material e, portanto, mais uma vez, um bom exemplo da riqueza da engenharia sustentável.
Sem dúvida o caminho da engenharia do futuro é por aí.
* José Antônio de Sousa Neto é professor da Escola de Engenharia de Minas Gerais (EMGE) e PhD em Accounting and Finance pela University of Birmingham no Reino Unido.
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