quinta-feira, 7 de setembro de 2017

Inertes, teus filhos fogem a luta!

domtotal.com
Todo poder emana do povo (art. 1º da Constituição Federal), mas o povo é o grande ausente, não tem a menor importância.
O país afundou na maior crise sociopolítica e moral de sua história.
O país afundou na maior crise sociopolítica e moral de sua história. (Reprodução/ Vídeo Rede Globo)
Por Élio Gasda*

Um pesadelo! Estamos na Semana de uma pátria que nunca desceu tão baixo diante do mundo. Nunca se destruiu tanto em tão pouco tempo. Interminável destruição, nesta ordem: democracia, direitos e patrimônio nacional. Podres poderes saqueando a nação à luz do dia. Um governante ilegítimo, desmoralizado, comprovadamente corrupto e inimigo do seu próprio povo passando em revista as tropas militares e abrindo as comemorações da independência do Brasil, é o retrato da tragédia nacional.

Retrocesso! O país afundou na maior crise sociopolítica e moral de sua história. Direitos sociais, trabalhistas, empresas públicas, saúde, educação, ciência e tecnologia, meio ambiente são atacados impiedosamente. Desconstrução! Economia aos cacos, empregos destruídos, renda congelada, preços nas nuvens, comércio fechando as portas, pedintes nos semáforos, gente morando debaixo de pontes, reforma agrária paralisada. De volta ao mapa da fome. “O rico está comendo caviar, o pobre nem pelanca de galinha tem” (Dom Angélico Bernardino). A ciência em frangalhos! Recursos das universidades federais e investimentos em pesquisa, tecnologia e inovação tiveram uma redução de 50% e estão paralisando atividades. O “Ciências Sem Fronteiras” foi encerrado, diversos programas de bolsas foram suspensos (PIBID, CNPq, Capes), o FIES foi reduzido.  

Feirão! Casa da Moeda, Eletrobrás, portos e aeroportos, bancos públicos vendidos a preço de banana. A Petrobrás e a destruição da Amazônia são o próximo alvo. A Renca (Reserva Nacional do Cobre e Associados), área equivalente ao estado do Espirito Santo, abrindo o território para a exploração mineral, foi extinta. Uma nação inteira virou refém de cleptocratas lesa-pátria. Descrédito! As instituições políticas perderam a moral, a credibilidade e a vergonha. O poder de decisão foi transferido ao conglomerado empresarial-financeiro-midiático, em uma palavra, aos senhores do mercado. O judiciário, já desmoralizado, acaba de ser liquidado. A casta jurídica mostra seu descaso. Enquanto milhares perdem seus empregos e outros milhares tem o salário mínimo cortado, os ganhos destes verdadeiros marajás chegam a 47,7 mil reais, renda que supera em 40% a quantia máxima que pode ser paga pelo setor público. Espezinhado, o povo assiste. Indignado, mas impassível.

Ausente! Todo poder emana do povo (art. 1º da Constituição Federal), mas o povo é o grande ausente, não tem a menor importância. É um ninguém. Sua soberania foi roubada e não tem a quem recorrer. Seu desinteresse é proporcional ao desprezo pela sua participação. Sua voz não conta, para que participar? A democracia representativa matou a democracia real. O país vive em estado de letargia, à “espera de um milagre”. Impotente, o povo lamenta as perdas em tão pouco tempo. Pessoas estão morrendo mais do que antes, passando fome mais do que antes, sendo expulsas de suas casas mais do que antes, perdendo seus direitos mais do que antes, mas não há nada a fazer. A iniquidade faz terra arrasada. O sentimento de exclusão do povo acontece em todas as instâncias da vida social.

Como interromper o processo de desconstrução? Quando o luto vai virar luta? Como transformar a dor da perda em reação? A indignação não se expressa em sussurros. Indignados gritam! A democracia é uma forma de governo que garante ao cidadão o direito de participar das decisões de interesse público, direito à palavra. Na palavra se revela a consciência de cidadania. É preciso despertar para a resistência. Quando o (des)governo se faz de surdo é preciso gritar.

O Grito dos excluídos representa a indignação de todo um povo. Está crescendo o número das pessoas sem pátria na sua própria pátria. O número dos excluídos, descontentes e descartados aumentou consideravelmente: pobres, trabalhadores, aposentados e pensionistas, quilombolas e indígenas, sem teto e sem-terra, desempregados, minorias discriminadas e vítimas de violência de gênero. O Grito dos Excluídos tem o apoio da CNBB. A sociedade está perplexa diante da profunda crise ética que tem levado a decisões políticas e econômicas que, tomadas sem a participação da sociedade, implicam em perda de direitos, agravam situações de exclusão e penalizam o pobre. Vivemos um momento difícil e de apreensão no Brasil. A realidade econômica, política, ética vem acompanhada de violência e desesperança. O Conselho Permanente sugere um dia de jejum e oração pelo Brasil no dia da pátria e estimula a participação no Grito dos Excluídos. (Comissão Episcopal Pastoral para a Ação Social Transformadora). Certas castas de demônios não se expulsa senão pela oração e pelo jejum (Mt 17,21).

O país se ressente de criatividade e ousadia política. Que o Grito desperte para a cidadania responsável pelo presente e futuro da nação. O Grito dos Excluídos/as é o Grito de um país que agoniza. Que o Dia da Pátria seja um dia de consciência política. “Por direitos e democracia, a luta é todo dia” (lema do Grito dos Excluídos/as 2017).

*Élio Gasda é doutor em Teologia, professor e pesquisador na FAJE. Autor de: Trabalho e capitalismo global: atualidade da Doutrina social da Igreja (Paulinas, 2001); Cristianismo e economia (Paulinas, 2016).

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