sexta-feira, 20 de outubro de 2017

Os banquetes do Reino: a prioridade dos últimos e pequenos

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Enquanto cristãos celebram a santa ceia, sinal antecipatório da comunhão escatológica, na plenitude da vida eterna, há pessoas, em todo o mundo, que morrem de fome.
As refeições que revelam o dom do Reino, sobretudo aos últimos e pequenos do mundo.
As refeições que revelam o dom do Reino, sobretudo aos últimos e pequenos do mundo. (Agência Maranhão de Notícias)
Por Felipe Magalhães Francisco*

O Brasil voltou ao mapa da fome. Essa realidade é lastimável, não apenas do ponto de vista político-social, mas também cristão. Enquanto católicos, protestantes e evangélicos celebram a eucaristia e a santa ceia, sinal antecipatório da comunhão escatológica, na plenitude da vida eterna, há pessoas, em todo o mundo, que morrem de fome. É um contrassenso para a fé cristã. Mas revela, igualmente, o fracasso das políticas públicas. Em nosso país, a atual gestão que ocupa o Planalto – ilegítima, nunca é demais afirmar – tem levado nosso país a retrocessos avassaladores, o que leva os empobrecidos e empobrecidas a situações de bastante sofrimento. Em São Paulo, o prefeito propõe ampliar o acesso à alimentação com ração humana, destinada aos pobres. E o cardeal de São Paulo, como um verdadeiro escândalo que contradiz o Evangelho, apoia tal medida.

Se voltarmos ao Evangelho, encontramos um Jesus constantemente envolvido em situações que envolvem refeições: seja delas participando, seja delas falando, comparando-as ao Reino. Em torno da comida e da bebida, o acontecimento do Reino. Hoje, nossa matéria especial volta seu olhar para esse aspecto bastante importante do Evangelho de Lucas: as refeições que revelam o dom do Reino, sobretudo aos pobres e aos pecadores, que são os últimos e pequenos do mundo. As reflexões que aqui propomos são um convite a novas posturas, sobretudo nesse momento em que nosso país atravessa. 

O primeiro artigo de nossa matéria especial, Os convidados “Vips” ao banquete do Reino, proposto por Daniel Reis, faz uma leitura teológica de Lucas 9,10-17, que narra a multiplicação dos pães. No texto, o autor relaciona o relato lucano com a dimensão antropológica e teológica da refeição, interpretando-o à luz da responsabilidade dos discípulos e discípulas, que precisam “dar eles próprios de comer à multidão”, tal como interpela Jesus. No cuidado para com os pobres e últimos da sociedade, dá-se a antecipação escatológica do banquete festivo do Reino, ao qual todos e todas são chamados a participar.

Tânia da Silva Mayer nos propõe o segundo artigo de nossa matéria: Banquete marginal. No artigo, a autora faz uma leitura teológica da parábola narrada por Jesus, em Lucas 14,15-24. Na parábola, Jesus inverte a lógica daqueles que têm verdadeira primazia no banquete do Reino: são os marginais da história. Esses são os que nada têm para retribuir: participam da gratuidade de Deus, que oferece a verdadeira felicidade do Reino. Os excluídos são, então, os primeiros a serem incluídos. 

O terceiro artigo de nossa matéria, Uma pulga estragou minha refeição, de Rodrigo Ladeira, faz uma original e instigante leitura de Lucas 7,36-50, relato que narra a “invasão” de uma notável pecadora no almoço de um fariseu, do qual Jesus era convidado. É a mulher, em seu gesto de quem verdadeiramente demonstrou muito amor, aquela que alcança a verdadeira comunhão com Jesus, rompendo toda a previsibilidade daquela refeição nada hospitaleira para a qual Jesus havia sido convidado. 

Boa leitura!

*Felipe Magalhães Francisco é teólogo. Articula a Editoria de Religião deste portal. É autor do livro de poemas Imprevisto (Penalux, 2015). E-mail: felipe.mfrancisco.teologia@gmail.com.

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