quinta-feira, 9 de novembro de 2017

Temer troca comando da PF, central na Lava Jato. Entenda o que está em jogo

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Ligado a José Sarney, delegado Fernando Segóvia é novo chefe da Polícia Federal no lugar de Leandro Daiello.
Fernando Segovia, novo chefe da PF:  mudança pode desidratar ou prejudicar investigações em andamento da Operação Lava Jato.
Fernando Segovia, novo chefe da PF:  mudança pode desidratar ou prejudicar investigações em andamento da Operação Lava Jato. (Reprodução)
Por Daniel Haidar

Em uma decisão que preocupou policiais federais, o presidente Michel Temer (PMDB) anunciou a troca do comando da Polícia Federal nesta quarta-feira. Sai o delegado Leandro Daiello, o mais longevo  diretor-geral da corporação desde a ditadura, e entra o delegado  Fernando Segóvia, ex-adido na África do Sul e ex-superintendente da PF  no Maranhão. Nos bastidores, policiais e políticos citam que a nomeação  teve influência do ex-presidente José Sarney (PMDB) e do ministro da  Casa Civil e réu na Operação Lava Jato, Eliseu Padilha (PMDB).

Policiais ficaram preocupados porque a mudança pode desidratar ou prejudicar investigações em andamento da Operação Lava Jato, que investiga Temer e boa parte da base aliada do Governo federal no Congresso. O  presidente já escapou de duas ações penais no Congresso, mas agentes e  delegados do 7º andar do edifício da Polícia Federal em Brasília ainda  miram Temer pela suspeita de envolvimento em crimes durante a preparação  da nova Lei dos Portos. Por isso, na prática, a mudança na chefia da PF  é uma chance do presidente escolher quem vai investigá-lo.

E foi justamente na Polícia Federal que nasceu a Operação  Lava Jato em Curitiba. Vieram da Polícia Federal alguns dos achados mais  importantes da investigação, como o envolvimento do ex-diretor da  Petrobras Paulo Roberta Costa, que se tornaria o primeiro delator  importante, a localização de contas no exterior do marqueteiro João  Santana e a busca do bunker de propina do ex-deputado Geddel Vieira Lima. 

Também foi a Polícia Federal que recuperou, com perícias  especializadas, mensagens apagadas de telefones celulares de  empreiteiros e políticos. Qualquer recuo na quantidade de agentes  dedicados a investigações ou na autorização de gastos pode, no mínimo,  atrasar novas descobertas do gênero.

Já houve queixas nesse sentido. Policiais da Operação Lava  Jato reclamaram de diminuição de equipes de investigação na gestão de  Daiello, mas comemoravam que, ao menos, ele nunca tentou interferir em  inquéritos ou levantar informações sigilosas.

A força-tarefa da Polícia Federal da Lava Jato em Curitiba foi encerrada em julho e policiais perderam a dedicação exclusiva ao caso desde então. Antes disso, o Governo Temer já havia cortado orçamento específico da investigação,  No Paraná, isso deixou o avanço das investigações ainda mais dependente  de descobertas da força-tarefa do Ministério Público Federal. Há receio  de que uma nova gestão na Polícia Federal também mude o funcionamento  da força-tarefa de Brasília.

Apesar das preocupações, policiais dizem reservadamente que  haverá resistência a qualquer tentativa de atrapalhar investigações. "É  um ingênuo quem imagina que consegue parar a polícia com um  diretor-geral. Claro que atrapalha, mas não para. Estão vendendo  castelos no céu", diz um delegado.


El País

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