quarta-feira, 20 de dezembro de 2017

Cansado dos especiais natalinas? Experimente outros filmes de Natal

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'A felicidade não se compra' (It's a Wonderful Life ) 'Um conto de Natal' (A Christmas Carol) são clássicos natalinos cuja exibição se repete anualmente na TV nos Estados Unidos.
Cena do filme 'A Christmas Story' (Uma História de Natal) do diretor Bob Clark.
Cena do filme 'A Christmas Story' (Uma História de Natal) do diretor Bob Clark. (Divulgação.)
Por John Anderson*

O Natal é um momento de reflexão. O que inclui aquilo a que estamos assistindo no Natal. Por que estou assistindo pela 27ª vez It’s a Wonderful Life (A felicidade não se compra)? O que Charles Dickens, autor de Um conto de Natal (A Christmas Carol), pensaria de Mickey's Christmas Carol (O Natal do Mickey Mouse)? Onde posso comprar um abajur em formato de perna de mulher como no filme A Christmas Story (Uma história de Natal)?

Uma questão mais importante seria: o que realmente queremos de um filme natalino? A resposta óbvia seria o espírito do Natal – em seguida, a questão fica tão boa quanto um panetone: Mas, o que espírito de Natal em um filme significa exatamente? Felicidade? Alegria? Se tudo o que você quer no natal for algo leve, assista Duck Soup (Diabo a Quatro) (pensando bem, não seria ruim escolher a temática anti-guerra para o feriado). Se estamos à procura de um filme que comunique uma mensagem puramente cristã, ou traduza de certa forma o significado da vida de Jesus na Terra, então não precisamos nos limitar a algo que só passe nessa época. Por outro lado, há filmes famosos no período do Natal – Die Hard (Duro de Matar) vem imediatamente à mente – o que certamente parece a antítese a toda ideia de paz na terra. Ainda assim, muita gente assistirá a esses filmes anualmente e os chamará de filmes de Natal.

Mas, como o cheiro de balsamo fresco ou o sabor do primeiro gole de eggnog (uma espécie de gemada alcoólica típicamente apreciada no natal dos EUA) acompanhado do biscoito francês Madeleine citado por Proust, os filmes podem desencadear um sem número de lembranças da data, incluindo a memória sensorial. Pode ser por isso que assistimos aos mesmos filmes a cada ano, aqueles que despertam nossas emoções latentes do dia santo e nos ajudam a reviver, talvez, os melhores Natais de nossas vidas.

Admitamos, como a noite melancólica de Ebenezer Scrooge, personagem de Um conto de Natal, a véspera do Natal pode ser muito pessoal e singular, mas a data trata do estar junto, do aproximar-se. E o ato de assistir um filme pode ser, por si só, uma forma de comunicação com os outros que também celebram, aqueles que, como nós, também estão assistindo.

Muitos estarão assistindo A felicidade não se compra – que se tornou a versão em filme do canto natalino Bom Rei Venceslau – e isto é um fenômeno que eu sempre resisti. Não é que o clássico de Frank Capra de 1946 não seja um filme maravilhoso. Mas a razão pela que o filme é tão emocionante e inspirador é que Capra passou os 120 minutos anteriores pintando um retrato totalmente desesperador da vida e da alma americanas. Sem George Bailey (James Stewart), Bedford Falls é a cidade de Potterville; crianças morrem; pessoas enlouquecem; o alcoolismo é desenfreado. Como vários dos filmes mais famosos de Capra (Meet John Doe, Mr. Smith Goes to Washington), a única coisa a oferecer redenção para a corrupção é algum tipo de intervenção divina – literalmente, no caso do filme A felicidade não se compra. O que é incômodo no filme natalino é a forma como o final feliz destrói tudo o que Capra queria dizer.

Não para afastar ninguém do filme (que foi, como se esperava, um sucesso de vendas do pós-guerra), mas uma possível alternativa é o filme The Shop Around the Corner (A loja da esquina), também protagonizada por James Stewart em uma das representações mais agradáveis na sempre amena filmografia do diretor Ernst Lubitsch. A comédia romântica de 1940 (que serviu de base para a adaptação de 1998, You've Got Mail, [Mensagem para você]), mostra as estrelas Stewart e Margaret Sullavan como colegas de trabalho que não se dão bem no trabalho, mas são de fato "amigos próximos" com quem cada um estabelece uma correspondência secreta, e eles acabam se apaixonando à distância. O roteiro é maravilhoso, a direção é excelente, os atores são atraentes, e há um desenlace na Noite de Natal que acaba representando o momento mais importante do filme.

Há também muitos filmes musicais que podem ser uma boa opção para o Natal, alguns dos quais não pensamos necessariamente como parte do período natalino: Meet Me in St. Louis (Agora Seremos Felizes), por exemplo, de onde surgiu a canção Have Yourself Merry Little Christmas . Um dos filmes mais assistido nesta época do ano é, sem dúvida,White Christmas, (Natal Branco), o qual - eu sei, é uma blasfêmia - contém algumas das mais lindas composições de Irving Berlin, bem como a sua clássica música homônima, que foi ouvida pela primeira vez em Holiday Inn (Duas Semanas de Prazer), estrelada por Bing Crosby e Fred Astaire, que acabaram sendo melhores opções do que Bing e Danny Kaye.

Mas o que cresce cada vez mais a cada ano que passa é The Nutcracker (O Quebra-Nozes) de 1993, que ficou com um ar novo devido à participação de Macaulay Culkin, que em 1990 fez Home Alone (Esqueceram de mim), outro filme também lembrado nessa época. Contudo, as verdadeiras estrelas da atração são a atuação de Peter Martins a dança de superstars como a Darci Kistler, a narração de Kevin Kline, que é interpretada como um sussurro e bate perfeitamente com o admirável balé de Balanchine, e a alegria da música de Tchaikovsky. A comedia é mal explorada, mas a produção em geral é uma joia.

Ainda com o risco de falar só dos melhores filmes - uma lista que indica quão imortais são estes filmes - a versão de 1951 de Alastair Sim de Um conto de Natal, às vezes conhecida como Os fantasmas de Scrooge, nunca foi superada, apesar das 101 versões do conto de Dickens transmitidas a cada dezembro (e estreladas por atores desde George C. Scott até o Sr. Magoo). Alaistair Sim, um maravilhoso ator com rosto feito para o rádio, enriquece com um medo verdadeiro o papel de Ebenezer Scrooge; o visual é de preto aveludado e cinzas; e o diretor Brian Desmond-Hurst, que teve uma carreira pouco conhecida, está agora muito perto de fazer um filme de terror psicológico do famoso conto de Dickens. Alaistair Sim anda à beira da histeria; a pobreza que Scrooge ignora tão facilmente é feita de algo muito tangível.

Cerca de meio século depois que Sim apresentou seu Indelible Nightmare before Christmas, (Indelével pesadelo antes do Natal, um título não tão ruim, conhecido no Brasil como O estranho mundo de Jack), Will Ferrell fez o único clássico indiscutivelmente real de férias dos últimos 30 anos: Elf (Um duende em Nova Iorque, 2003), um filme tão carinhosamente bobo e alegremente humano que será sempre assistido por todos, juntos, sob a árvore de Natal do Rockefeller Center. Como criança, o personagem de Ferrell, Buddy, arrastou-se até o saco do Papai Noel e foi levado para o Pólo Norte, onde foi criado como um elfo. o Papai Elf (o grande Bob Newhart) aceitou o tamanho de não-elfo de Buddy, mas quando Buddy descobre que ele é realmente um ser humano de estatura normal, ele viaja para Manhattan e leva seu pai biológico, Walter (James Caan), para um mundo de diversão.

O diretor Jon Favreau utilizou bastante Nova Iorque como cenário; a cidade tem sido - com exemplos como Milagre da Rua 34ª, de 1947, Apartamento, de 1960, e Scrooged de 1988, a ligação entre o cinema e o Natal. E nós dizemos "quase" por causa do brilho e vivacidade e da característica típica do meio-oeste estadunidense: A Christmas Story (1984), cuja lembrança traz felicidade e faz sonhar com uma Red Ryder Carbine Action 200-shot Range Model air rifle with a compass in the stock (arma do filme) e também memórias não muito dolorosas do momento de embalar presentes depois da meia noite durante a maratona anual da Turner Broadcasting de comédias do diretor Bob Clark.

Ambientado na Segunda Guerra Mundial, as estrelas do cinema Peter Billingsley, Melinda Dillon e Darren McGavin, no que bem pode ser o seu maior papel, estrearam como atores no filme A Christmas Story (Uma história de Natal, 1983), elaborado a partir das lembranças de infância do contador de histórias Joseph Shepherd, que cresceu no norte de Indiana - onde uma lâmpada em forma de pernas femininas colocada na janela certamente causaria um alvoroço.

Mas é isso que procuramos em um filme de Natal. Não, não um abajur em forma de perna, mas um mundo ainda inocente o suficiente para que tal coisa provoque um escândalo. É renovador; é tranquilizante. E, hoje em dia, tão estranho quanto uma rena no telhado.

America - Tradução: Ramón Lara

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