15/12/2017 Norte 2
Está ocorrendo o despejo de mais de 350 famílias no acampamento Hugo Chávez, perto de Marabá, após três anos de acampamento em uma das tantas fazendas no Estado do Pará na qual a reforma agrária está demorando e ainda não veio se instalar. O Estado do Pará é grande e no entanto há a concentração de terras sempre mais nas mãos de poucas pessoas fazendo com que milhares de famílias não possuam um pedacinho de terra para a sua sobrevivência.
Sendo uma região rica de minérios a concentração está sempre mais em mineradoras e de grandes fazendeiros. Como pessoas humanas e como Igreja, pessoas que acreditam no Deus da vida estamos unidos à toda essa população que está despejada agora e não tem aonde ir. Eles irão morar perto de uma escola retirando-se de lá, onde tinham alguma coisa mesmo estando em acampamento. Veio nesses dias o Comando de Missões Especiais para efetuar o despejo de mais de 350 famílias que ali moravam. Nós estivemos lá e vimos a situação dramática das famílias que tiveram que desfazer as suas casas, a escola aonde os filhos dos sem-terra estudavam e um enorme barracão que servia a vida da comunidade e da presença religiosa de nossa parte para as missas. Percebemos pessoas chorando, se lamentando da situação de abandono, de falta de vida digna.
Este é mais um dos 20 despejos programados na Região Sul e Sudeste do Pará, todos expedidos por um juiz da Vara Agrária de Marabá. Faltando nem menos de 10 dias para o Natal as famílias estão em uma situação de abandono e as crianças não terão como terminar o ano letivo. Qual será o Natal deste povo sofredor? É preciso que as autoridades federais e estaduais se preocupem mais com o povo sofredor dos sem terra, daqueles que querem ter um pedacinho de terra neste chão para assim ter a sua sobrevivência, direito digno de todos. Este despejo é mais um caso da vigência do capital sobre o povo trabalhador aonde há a concentração de terra nas mãos de poucas pessoas.
É preciso para que haja a reforma agrária para que todos tenham terra e vida digna, é o que o Senhor Deus nos solicita. Os Padres da Igreja falaram no seu pensamento social que a terra foi criada por Deus para todos e não só para alguns e não somos donos da terra apenas administradores da mesma, de modo que Deus é o único dono. Essas famílias irão acampar numa área próxima ao acampamento. É claro que nesses dias os acampados sofreram ataques dos pistoleiros, o que gerou uma solidariedade das organizações sociais, e religiosas abrindo desta forma o debate sobre a situação fundiária e a violência no campo da região Sul e Sudeste do Pará.
Os sem terra continuarão acampados perto da fazenda de onde foram despejados na luta pela terra, para que assim todos tenham a terra e ela seja um dom de Deus para todos. Como Igreja de Jesus Cristo e como pessoas que estão ao lado dos pobres e sofredores estamos solidários com este povo fazendo o possível para que a vida reine sobre a morte e todos tenham vida em abundância assim como Jesus nos promete aqui e um dia na vida eterna. A terra foi criada para todos e todos devem usufruir deste bem que é para todos.
Por Dom Vital Corbellini, Bispo de Marabá – PA
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