sexta-feira, 19 de janeiro de 2018

Religião para unir, não dividir

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Conflitos entre as diversas tradições constituem o cúmulo da contradição que paira sobre o universo religioso.
Cada religião se comportaria como uma espécie de lente com a qual cada um poderia enxergar melhor o divino na tessitura do mundo.
Cada religião se comportaria como uma espécie de lente com a qual cada um poderia enxergar melhor o divino na tessitura do mundo. (Reprodução/ Pixabay)
Por Gilmar Pereira*

Dia 21 de janeiro é celebrado o dia mundial da religião. Tema, apesar de fortemente presente na sociedade, ainda pouco aprofundado. Isso por fazer parte da tríade que, até há pouco tempo, não se tocava: religião, futebol e política. Três assuntos que comumente terminam em briga.

Conflitos entre as diversas tradições constituem o cúmulo da contradição que paira sobre o universo religioso. Se todos os credos almejam a aproximação do divino, o bem, a elevação, a integração do humano e todos os outros valores relativos à paz e ao amor, como isso seria possível? Pode quem prega e se pretende viver o amor sustentar tanto discurso de ódio? Segundo os místicos isso seria um desvirtuamento da própria religião. Ela, por si, deve contribuir para a unidade e não para a divisão.

Uma das acepções possíveis da palavra religião seria o de “reler”, vinda do prefixo “re”, mais o termo latino “legere”. Isso significaria o movimento humano de releitura da realidade, encontrando nas entrelinhas da vida seu princípio espiritual. Se assim for, podemos entender que cada religião se comportaria como uma espécie de lente com a qual cada um poderia enxergar melhor o divino na tessitura do mundo. Um papel branco é visto colorido por lentes coloridas e a curvatura altera a percepção do objeto visto. Cada cultura e tradição possui sua lente, o que lhes garante uma percepção distinta ou a maior ênfase em determinado aspecto do sagrado, do espiritual, do divino. Cada uma tem seu contributo.

Observando aquilo que as religiões têm em comum, os autores desse especial se concentraram naquilo que a religião pode colaborar na empatia, a solidariedade e o respeito entre as pessoas. Em épocas de instrumentalização do discurso religioso com fins de segmentação da sociedade e agenciamento político, urge que se redescubra a unidade que vem da fé.

Fabrício Veliq, no texto Somos diferentes e estamos todos no mesmo bojo: a religião como convite à tolerância e ao respeito mútuo, reconhece nas diversas religiões uma busca comum que nos irmanaria. Estar atentos para aquilo que move em direção ao divino faria perceber que não somos tão distintos assim. A tolerância religiosa adviria da identificação desse princípio comum.

Buscando o conceito de solidariedade no texto As religiões e a educação para a solidariedade, Felipe Magalhães Francisco observa nela uma dimensão fundamental da atividade espiritual, não só religiosa. Seria o que levaria à humanização das pessoas. O autor observa que esse princípio é comum nas distintas tradições religiosas e elemento importante para que não haja concorrência entre estas, mas companheiras de um mesmo processo.

Em visão mais holística, Luciana Cangussu percebe que, na habilidade de transitar entre os pontos de vistas religiosos sem se perder, o amor se manifesta. Tal liberdade seria o que ela chama de empatia espiritual, fruto de uma autêntica vivência religiosa, no texto Empatia espiritual: A liberdade de transitar entre os pontos de vistas religiosos.

Boa leitura!

*Gilmar Pereira: Mestre em Comunicação e Semiótica pela PUC-SP, graduado em Filosofia pelo CES-JF, graduando em Teologia pela FAJE. Apaixonado por arte, cultura, filosofia, religião, psicologia, comunicação, ciências sociais... enfim, um "cara de humanas".

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