terça-feira, 8 de maio de 2018

Amar em tempos de ódio

domtotal.com
Discursar sobre o amor nesses dias e, sobretudo, exercer o amor é atitude profética e de resistência.
O único remédio contra a o ódio é o amor.
O único remédio contra a o ódio é o amor. (Divulgação)
Por Tânia da Silva Mayer

Vivemos tempos sombrios na história da humanidade. Alguém poderá dizer que não é a primeira vez que enfrentamos situações como as do presente nas quais a razoabilidade cede lugar para a insanidade, a alegria para a tristeza, o amor para o ódio e a vida para a morte. Nossas linguagens e discursos estão todos carregados de uma força aniquiladora do diálogo. Estamos encerrados em nossas verdades e não somos mais capazes de viver fora delas. À medida que nos fechamos aos outros destruímos em nós a humanidade que só pode ser construída no encontro com nossos semelhantes. Desumanos, tornamo-nos os algozes de nós mesmos.

Discursar sobre o amor nesses dias e, sobretudo, exercer o amor é atitude profética e de resistência. É assumir aquilo que a maioria não assumiu. E, como diriam os mais sábios que nós, é remar ou nadar contra a maré. As pessoas que fazem opção por esse caminho são facilmente tachadas de loucas. Romper com os paradigmas em voga em nossa sociedade é tarefa árdua que pode imputar a perseguição e até a morte.

No decorrer da semana passada fomos confrontados pelo Evangelho de João a partir dos ensinamentos de Jesus sobre o amor. João quer comunicar a sua comunidade e a nós os cristãos e as cristãs de hoje a catequese de Jesus que, se observada, nos auxilia no processo de configuração ao Senhor. As pessoas e grupos que se colocam no caminho do discipulado devem compreender que a vida é tecida entre luzes e sombras e, segundo a perspectiva joanina, que o mundo é o lugar nos quais florescem condições contrárias ao Reino anunciado e inaugurado por Jesus. Por isso mesmo, os seguidores e seguidoras do Nazareno se compreenderão numa espécie de disputa árdua para levarem adiante o ensinamento do Mestre que subverte os padrões estabelecidos pelo mundo. É preciso, pois, evidenciar que os cristãos e as cristãs estão em confronto com o mundo, mas com um mundo de injustiça, de pecado e de morte, portanto na via contrária a do amor, e não como grupos conservadores e alienados podem querer sugerir.

O único remédio contra a o ódio é o amor. E amar em tempos de ódio é uma subversão. Precisamente, era assim no tempo de Jesus e é assim no nosso tempo. Por isso, Jesus nos ordena viver o amor, mas não o amor romântico que constitui nosso imaginário contemporâneo, mas um amor que é práxis, ação refletida em vistas da mais vida entre as pessoas. Nesse sentido, a maneira como Jesus manifestou seu amor pelos seus amigos e amigas é o horizonte de sentido para pensarmos e exercermos o amor hoje, daí que a ordem-ensinamento é que nos amemos à maneira que ele mesmo nos amou. Também faz parte da reflexão cristã a facilidade de amar aqueles que nos convém; a esse respeito Mateus, o evangelista, recorda que Jesus oferece seu amor aos seus inimigos, àqueles que não nos fazem e nem nos querem bem. Nós os cristãos e as cristãs somos convocados a nos posicionarmos amorosamente em tempos de ódio, oferecendo o amor que nos humaniza e sem o qual é impossível viver com os outros na luta contra as injustiças.

*Tânia da Silva Mayer é mestra e bacharela em Teologia pela Faculdade Jesuíta de Filosofia e Teologia (FAJE); graduanda em Letras pela UFMG. Escreve às terças-feiras. E-mail: taniamayer.palavra@gmail.com.

Nenhum comentário:

Postar um comentário