domtotal.com
Os Panças daqui só pensam em se locupletar, em arranjar uma boquinha para suas bocarras.
Os nossos Panças são apenas espertos e interesseiros, diferentemente do fiel escudeiro de Dom Quixote. (Divulgação)
Por Afonso Barroso*
Todo mundo sabe quem foi (ou é) Sancho Pança. Lembrei-me hoje desse incrível e imortal personagem de Cervantes porque pensei nos muitos Panças que temos por aqui. Temos Panças no Executivo, no Legislativo, no Judiciário. Só que os nossos Panças são apenas espertos e interesseiros, diferentemente do fiel escudeiro de Dom Quixote, sujeito simplório e inteligente, preocupado apenas em servir. Verdade que se interessava pela governança de uma ilha fictícia prometida pelo Cavaleiro Andante, mas não era só por isso que se mantinha fiel. Gostava do patrão e o seguia por onde fosse. Os Panças daqui só pensam em se locupletar, em arranjar uma boquinha para suas bocarras.
Sim, amigos, os Panças da vida política e administrativa nacional estão de olho apenas em algum benefício possível. Numa cadeira vitalícia do Tribunal de Contas, numa Secretaria para si ou cargos para parentes, num Ministério ou num alto posto do Judiciário, quem sabe até da Suprema Corte. São em geral escudeiros ou puxa-sacos de algum desses políticos corruptos e espertos que o povo eleva, por atávica ignorância, aos cargos executivos, até mesmo de presidente da República.
Um Pança costuma ganhar o conforto financeiro e perene do TCU, depois de ter sido deputado e ministro, até surgir a vaga e ele ser indicado pelo presidente. Indicação que equivale a nomeação, porque é o que sucede sempre.
Aqui em Minas temos muitos Panças nomeados para cobiçados cargos públicos, como o de conselheiro do Tribunal de Contas do Estado. São gordas dádivas de governadores amigos, doadas como recompensa aos beneficiados por terem proporcionado, direta ou indiretamente, recursos para a campanha que os elegeu. Ou às vezes por outras razões menos dignas.
Fala-se muito na inutilidade dos Tribunais de Contas, cuja atribuição seria a de fiscalizar o uso do dinheiro público e julgar as contas, com poderes para suspender licitações e paralisar obras. Mas não há notícia de suspensão de obra por algum desses tribunais. Se controlam contas, o que fazem mal e precariamente, é quase sempre com a orientação implícita de proteger o Executivo. E o pior: sem nenhum controle das suas próprias contas.
Afinal (de contas), para que serve um tribunal que, se eventualmente condena, não pode punir o condenado?
Só serve mesmo como cabide de Panças.
*Afonso Barroso é jornalista, redator publicitário e editor.
Nenhum comentário:
Postar um comentário