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Reflexão sobre a liturgia do 22º Domingo do Tempo Comum - Mc 7,1-8.14-15.21-23
Quando nos apegamos cegamente a tradições humanas, corremos o risco e esquecer o mandamento do amor e desviamos do seguimento de Jesus. (Reprodução/ Pixabay)
Por José Antonio Pagola*
Um grupo de fariseus da Galileia se aproxima de Jesus em atitude crítica. Não vêm sozinhos. Acompanham-nos alguns escribas vindos de Jerusalém, preocupados, sem dúvida, em defender a ortodoxia dos pobres camponeses das aldeias. A atuação de Jesus é perigosa. Convém corrigi-la.
Têm observado que, em alguns aspectos, seus discípulos não seguem a tradição dos antigos. Ainda que falem do comportamento dos discípulos, sua pergunta se dirige a Jesus, pois sabem que é ele quem lhes tem ensinado a viver com aquela liberdade surpreendente. Por quê?
Jesus lhes responde com umas palavras do profeta Isaías que ilustram muito bem sua mensagem e sua atuação. Temos de escutar com atenção estas palavras com as quais Jesus se identifica totalmente, pois tocam algo muito fundamental de nossa religião. Segundo o profeta de Israel, esta é a queixa de Deus.
“Este povo me honra com os lábios, mas seu coração está longe de mim”. Este é sempre o risco de toda religião: dar culto a Deus com os lábios, repetindo fórmulas, recitando salmos, pronunciando palavras bonitas, enquanto nosso coração “está longe dele”. Sem dúvida, o culto que agrada a Deus nasce do coração, da adesão interior, desse centro íntimo da pessoa donde nascem nossas decisões e projetos.
Quando nosso coração está longe de Deus, nosso culto fica sem conteúdo. Falta-lhe a vida, a escuta sincera da Palavra de Deus, o amor ao irmão. A religião se converte em algo exterior que se pratica por costume, mas que lhe faltam os frutos de uma vida fiel a Deus.
A doutrina que ensinam os escribas são preceitos humanos. Em toda religião há tradições que são “humanas”. Normas, costume, devoções que têm nascido para viver a religiosidade em uma determinada cultura. Podem fazer muito bem. Contudo, fazem muito mal quando nos distraem e afastam do que Deus espera de nós. Nunca hão de ter primazia.
Ao terminar a citação do profeta Isaías, Jesus resume seu pensamento com umas palavras bem graves: “Vós deixais de lado o mandamento de Deus para se apegar à tradição dos homens”. Quando nos apegamos cegamente a tradições humanas, corremos o risco e esquecer o mandamento do amor e desviamos do seguimento de Jesus, Palavra encarnada de Deus. Na religião cristã, o primeiro é sempre Jesus e seu chamado de amor. Só depois vêm nossas tradições humanas, por mais importante que nos possam parecer. Não devemos esquecer nunca o essencial.
Periodista Digital - Tradução: Gilmar Pereira
*José Antonio Pagola é padre e tem dedicado a sua vida aos estudos bíblicos, nomeadamente à investigação sobre o Jesus histórico. Nascido em 1937, é licenciado em Teologia pela Universidade Gregoriana de Roma (1962), licenciado em Sagradas Escrituras pelo Instituto Bíblico de Roma (1965), e diplomado em Ciências Bíblicas pela École Biblique de Jerusalém (1966). Professor no seminário de San Sebastián (Espanha) e na Faculdade de Teologia do Norte de Espanha (sede de Vitória), foi também reitor do seminário diocesano de San Sebastián e vigário-geral da diocese de San Sebastián.
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