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Quanto a mim, declaro ser um feminista convicto, se é que posso me chamar assim.
"Não sou homem, mas sou um ser humano e não um animal doméstico ou domesticado", disse a si mesma ao se livrar do avental. (Reprodução)
Por Afonso Barroso*
Depois de ter sido tratada durante milênios como mera costela do homem, tal como foi criada por Deus, como relatam as Escrituras, a mulher começou a se revoltar com a situação. Descobriu que podia fazer mais do que namorar, casar, engravidar, gerar filhos, amamentar, e na sequência desempenhar as tarefas domésticas, como cozinhar, arrumar a casa, lavar e passar, essas coisas que durante séculos foram atribuições exclusivamente femininas.
“Não sou homem, mas sou um ser humano e não um animal doméstico ou domesticado”, disse a si mesma ao se livrar do avental.
Havia espaços a conquistar fora dos limites do lar, e lá foi ela em busca de novas aventuras. Só que as novas aventuras não foram muito venturosas para muitas delas. Um exemplo foi a tragédia que todo mundo conhece e que inspirou a criação do Dia Internacional da Mulher. Só para lembrar: num dia de março de 1911, centenas de operárias trabalhavam na fábrica têxtil Triangle Shirtwaist Company, de Nova York, que de repente pegou fogo. Pânico e mortes. Na época, as trabalhadoras faziam protestos contra as más condições de trabalho e pela equiparação dos salários com os homens, além da redução da jornada. O incêndio, que se suspeita ter sido proposital, espalhou-se rapidamente, matando mais de 120 jovens operárias.
Várias versões contam que o 8 de março foi escolhido pela ONU para ser dedicado à mulher por ter sido o dia de duas manifestações que resultaram em violenta repressão policial. Uma foi em 1857, quando houve uma grande mobilização pela igualdade de direitos trabalhistas. O movimento foi reprimido com violência pela polícia de Nova York. Outra foi em 1908, quando trabalhadoras do comércio de agulhas fizeram outra manifestação para lembrar o movimento de 1857 e exigir o voto feminino.
Mas a tragédia do incêndio da fábrica de tecidos, ocorrido em 25 do mesmo mês, tornou-se o marco da luta permanente das mulheres pela igualdade social.
Muitas venceram. Thereza May, Angela Merkel, Mercedes Aráoz, Michelle Bachelet, Laura Chinchilla, Dilma Roussef e Margareth Tatcher são alguns exemplos das que conquistaram posições de relevo na história contemporânea. Talvez essas distintas senhoras não sejam lá muito femininas, mas isso é assunto para algum machista ou porco chauvinista, o que não é o caso, livre-me Deus, do autor destas mal traçadas linhas.
Ainda existem nações onde a mulher continua sendo a costela que Deus extraiu do tórax de Adão. Caso, por exemplo, dos países mulçumanos. Na Arábia Saudita, só agora as mulheres ganharam o direito de dirigir automóveis. Os sauditas em breve vão descobrir que elas são motoristas mais hábeis e mais prudentes que os homens.
Quanto a mim, declaro ser um feminista convicto, se é que posso me chamar assim. Sou amplamente favorável à liberdade plena da mulher, incluindo a minha. Que faça o que lhe der na telha. Que vista a roupa que quiser. Que vá aonde bem quiser. Que dirija automóveis, caminhões, aeronaves, empresas ou tanques de guerra. Que se candidate e se eleja síndica, deputada, senadora, governadora, presidente da República. Que seja editora, professora primária, secundária e terciária, chefe de cozinha, ministra, lutadora de MMA, militar e até dona de casa.
Só peço, em troca, que me faça um pequeno favor: nunca deixe de ser mulher.
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