Lemos que os adolescentes e adultos jovens estão 'deixando a Igreja Católica'. Religiosas consagradas refletem sobre essa questão.
As Irmãs Dominicanas Adrian trabalham permacultura com seus alunos, um sistema de princípios agrícola e social de design centrado em simular ou utilizar diretamente os padrões e características observados em ecossistemas naturais. (Adrian Dominican Sisters)
A igreja deixou os jovens? Os jovens possuem uma liderança suficientemente madura? Estamos ouvindo a sabedoria deles? A igreja é verdadeiramente um lar? Eles se sentem responsáveis e valorizados? Estas foram todas as perguntas levantadas pelas irmãs entrevistadas em suas respostas às seguintes perguntas:
Lemos que os adolescentes e adultos jovens estão "deixando a Igreja Católica". Escolhemos um aspecto para discutir: O que você gostaria de dizer aos bispos que compareceram ao sínodo da juventude do mês passado? Há maneiras de aprendermos com as experiências dos jovens católicos e nos comunicarmos com eles? O que sua comunidade está fazendo?
Lilian Bong é irmã de São José da Aparição na Austrália Ocidental. Nascida na Malásia e treinada como enfermeira, fez uma missão médica em Mianmar antes de fazer sua profissão final como religiosa em 2016. Agora atua como segunda conselheira para a provincial, trabalha a vocação e a missão da congregação, e tem um ministério especial com os idosos chineses.
Agora, quero compartilhar dois exemplos de como os católicos percebem a geração mais jovem. O primeiro foi no nosso recente capítulo provincial. Nós havíamos contratado um proeminente advogado católico, um dos diretores da Catholic Health Australia, para falar sobre o próximo Conselho Plenário de 2020 dos bispos australianos.
Quando o advogado falou sobre os jovens e a igreja, a primeira coisa que expressou foi a decepção pelo fato de a geração mais jovem não estar mais interessada na igreja. Perguntei se sabia que a Arquidiocese e a Pastoral Juvenil Católica (CYM) realizavam anualmente o Veritas Festival para jovens católicos (com catequeses, banda ao vivo e música, jogos, espaços vocacionais, etc.) em diferentes escolas católicas e universidades. Mais de oitocentos jovens participaram deste evento. O advogado respondeu que "não estava ciente disso".
O segundo exemplo é de um seminário sobre o Conselho Plenário. Nós nos reunimos em grupos para compartilhar sobre o tema dos jovens na igreja católica, e um padre começou com a mesma observação de que os jovens não estão mais interessados em frequentar a igreja. Eu fiz a mesma pergunta de antes. Todavia, o padre não estava ciente de que os jovens cristãos de fato participavam em tais eventos.
Alguns tendem a generalizar que a geração mais jovem não está mais interessada em fé ou encontros espirituais?
Este ano apresentei em duas ocasiões distintas para educadores e jovens o tema: "Abrir novos horizontes para espalhar a alegria: nos jovens, na fé e no discernimento vocacional".
Naquela reunião de famílias, funcionários da escola, comunidades paroquiais e religiosas, pedi-lhes que refletissem sobre quatro áreas principais: discernimento; acompanhamento (somos chamados a caminhar com os jovens em sua jornada de fé, partindo de onde eles estão e não de onde achamos que deveriam estar); escuta (escutar ativamente nossos jovens e, como ouvintes, estarmos prontos para mudar nossos corações de modo que possamos ouvir melhor, mesmo quando somos desafiados pelo que ouvimos); criação de espaços (um ambiente seguro e acolhedor, tornando assim um espaço convidativo para os jovens).
Em Amoris Laetitia, o Papa Francisco mencionou que a educação na fé deve se adaptar a cada filho, já que os recursos e receitas mais antigos nem sempre funcionam. As crianças precisam de símbolos, ações e histórias. Adolescentes geralmente têm problemas com a autoridade e as regras, então eles precisam de testemunhos atraentes que os conquistem por sua beleza. E é essencial que os filhos realmente vejam que a oração é algo realmente importante para os pais.
Letta Mosue pertence à Congregação de Santa Brígida da Diocese de Rustenburg, na África do Sul. Ela tem sido educadora, psicóloga clínica e especialista em aconselhamento traumatológico. Ministrou serviços espirituais em universidades e serviços de correção policial. Agora trabalha em um consultório particular e em uma clínica de oncologia enquanto serve como superior geral de sua congregação.
Nenhuma Irmã de Santa Brígida é designada para assumir o ministério de jovens católicos nas três dioceses onde estamos presentes. Não há programas colaborativos, mas todas fazem o que podem.
A juventude não tem uma liderança adulta. A maioria dos adultos não se sente confiante em trabalhar com jovens, e nem sabem como ajudá-los. Alguns pais até têm medo de seus filhos! Outros estão ocupados e têm pouco tempo para seus filhos adolescentes. Há falta de orientação em nossas paróquias, em que a maioria das crianças vem de lares com muitos problemas, lares de pais solteiros e às vezes são pais adolescentes.
Não há nenhum programa diocesano para jovens na Diocese de Rustenburg, na África Austral. Desde 2013, venho fazendo um ministério paroquial focado na família, mas há pouca participação das paróquias. Em 2016, organizei um workshop sobre diálogo entre pais e filhos para crianças de 9 a 15 anos e alguns pais; em 2017, realizei outro encontro sobre "Quem você pensa que é e quem você quer ser" para um grupo de jovens e jovens adultos da minha paróquia; em 2018, dei uma oficina vocacional para quatro grupos de crianças de 8 a 17 anos em colaboração com quatro jovens irmãs de Botsuana.
No sul da África, temos uma organização diocesana de três congregações, as "ABCs" - Companheiras de Santa Ângela, as Irmãs de Santa Brigida e as Irmãs do Calvário - que colaboram de várias maneiras. Na reunião bianual de 2017 da ABC discutimos: "Que ação podemos tomar como congregações para a juventude?" Em nossa reunião de março de 2018, os superiores da ABC decidiram que o ministério ideal entre jovens seria uma testemunha conjunta.
Erna Rheeder, coordenadora da Rede da Família, está conduzindo três programas de oficinas: Ubaba Unathi ("Papai [Deus] está conosco") para ajudar aqueles que estão crescendo sem pai e incentivando o envolvimento paterno; Botswadi ("parentalidade"); e "Rebuilding Dreams" (Reconstruindo sonhos, para jovens e adultos jovens).
Rheeder já treinou sua proposta em Ubaba Unathi. Em outubro, fez "Rebuilding Dreams", e levará Botswadi em novembro. Espero treinar algumas outras irmãs da ABC para capacitar jovens e adultos jovens a tomarem conta de suas vidas, independentemente de seus desafios pessoais.
Antes do Encontro Mundial das Famílias na Irlanda, assumi o compromisso de acompanhar um grupo de jovens e adultos jovens da paróquia. Na reunião, ouvi uma sobrevivente de tráfico humano culpar sua família (a própria "estrutura de pertença") por falhar com ela, aponta Rheeder. Depois acrescenta: “Eu fui fortalecida na minha resolução de viajar com esses jovens e através deles para alcançar suas famílias”.
Margaret Gonsalves é uma Irmã da Comunidade Cristã e uma ativista da teóloga feminista no Fórum da Ecclesia of Women in Asia e Indian Women Theologian. Como fundadora do ANNNI Charitable Trust, ela trabalha em rede com organizações não-governamentais para executar programas residenciais gratuitos e intensivos para a aprendizagem de inglês, habilidades de desenvolvimento sustentável e workshops para o empoderamento de meninas e mulheres indígenas.
Queridos bispos, no sínodo da juventude vocês perceberam que os jovens seguem um modelo baseado na justiça, verdade e igualdade? Eles se apaixonam pela pessoa que acompanha sua fala. Em todo o mundo, através do redemoinho da mídia, os jovens estão gradualmente mudando sua consciência e ethos espiritual e até repensando suas relações com a Igreja e o universo. Enquanto testemunham a evolução em todos os lugares, eles ouvem vozes revolucionárias também.
Você reconhece que os jovens estão prontos para "conversas?", perguntaram para a irmã Margaret. Ela respondeu: “os jovens consideram a igreja como sua casa. Todos são bem-vindos em casa. Você ouviu o chamado deles para ‘incluir os excluídos?’ Nos últimos tempos, jovens feministas - homens e mulheres - nos enviam mensagens, como a mensagem de Elizabeth Johnson quando apontou que "os cérebros são mais importantes que os genitais". Margaret acrescentou que os jovens enfatizam a personalidade universal, não excluindo pessoas de certos papéis baseados em modelos estereotipados que são dualistas e discriminatórios.
Vocês interpretariam o chamado/vocação batismal de cada um à luz da tradição teológica e bíblica? Ouçam como Jesus-Sophia lhes implora homens de qualidade: Não tenha medo da igualdade! Isso implica acolher as pessoas "uma presença feminina mais incisiva na igreja". O Papa Francisco reiterou o apelo do Papa Paulo VI, na encíclica Gaudium et Spes: "Todo tipo de discriminação baseada no sexo... deve ser superada e erradicada como contrária à intenção de Deus". Aceitaremos uma genuína igualdade de gênero, de acordo com o espírito do Vaticano II?
Você escolherá o caminho da conversão, discernindo como uma igreja que está se movendo para fora, que está em saída? Jesus não limitou sua missão às paredes institucionais, mas colocou diante de nós um modelo de serviço lavando os pés e compartilhando uma refeição. A igreja sendo dominada pela teologia patriarcal e monárquica está levando os cristãos para uma igreja disfuncional, que ao excluir as mulheres, "vê com apenas um olho, ouve com um ouvido e pensa com apenas uma metade da mente humana?"
Caro Papa Francisco, quando você era arcebispo da Argentina, denunciou a "injusta distribuição de bens", dizendo: "não compartilhar a riqueza com os pobres é roubar deles". Recusar-se a compartilhar o poder de decisão com as mulheres é roubar delas o direito dado por Deus. Como você explica a flagrante discriminação de deixar dois homens não-ordenados e escolhidos que são superiores da comunidade votarem, enquanto que nenhuma mulher solteira superior de sua comunidade recebeu privilégio de votar neste sínodo juvenil?
Tarianne DeYonker é uma irmã dominicana de Adrian, Michigan. Ela tem servido como professora, administradora, palestrante, terapeuta matrimonial e familiar e desenvolvedora de programas. Tarianne também serviu como vigária e conselheira geral para sua congregação. Atualmente, está iniciando um ministério em Adrian no trabalho vocacional e também facilita oficinas de redação criativa.
A Igreja que Jesus pretendia ser inclusiva e fundamentada no amor de Deus e o amor dos uns aos outros faz parte desse ideal. Através das importantes vozes dos jovens, o Espírito está nos chamando para o nosso propósito de fundação como discípulos de Jesus. Estamos sendo chamados a ouvir.
Enquanto os jovens não têm a experiência na vida que os membros mais velhos têm, os jovens possuem sabedoria para compartilhar. Compartilharam isso no documento pré-sinodal que escreveram e nas discussões em pequenos grupos com os bispos durante o Sínodo dos Jovens em outubro.
Jovens adultos cresceram em um mundo muito diferente. Eles anseiam por se conectarem com Jesus, com a Igreja e uns com os outros, assim como com o resto de nós. Os jovens desejam pertencer e ser fiéis a seus valores. Suas perguntas são as mesmas de muitos que são membros da comunidade cristã há muito tempo. Seus desafios têm a capacidade de nos levar a um relacionamento mais profundo com Deus e uns com os outros. Precisamos ouvir atentamente. Sua busca sincera merece nosso acompanhamento.
Agarrar-se muito a todos os caminhos do passado pode nos fazer perder as possibilidades que o Espírito está oferecendo à igreja neste momento. Podemos aprender com as experiências de jovens adultos e ajudar a explorar as suas questões. Jesus chamou os discípulos, ensinou-os e sabia que eles viveriam de várias maneiras. Ao ouvirmos as perguntas dos jovens, podemos entender essas aberturas como momentos ensináveis. Os jovens estão pedindo um diálogo honesto. Vale a pena tentar?
Como em Adrian, as Dominicanas nos envolvemos regularmente com jovens adultos, especialmente em nossas duas universidades: Barry em Miami Shores, Flórida, e Siena Heights em Adrian, Michigan. Reunimo-nos semanalmente com o grupo de jovens adultos dominicanos para planejamento e uma partilha da fé, oração sincera e construção de comunidade.
Assistimos junto com eles a nossas conferências anuais de reflexão do evangelho do Colégio Dominicano, onde os alunos aprendem diversas maneiras de expressar nosso carisma de pregação através do estudo de questões de justiça, artes, projetos de serviço e se divertindo juntos. Estudantes de ambas as universidades se reuniram por duas semanas em nosso campus em Adrian para trabalhar juntos em nosso local de permacultura, aprendendo a preservar os dons da Terra para as gerações atuais e futuras.
Christine Nasimiyu Masivo é uma Missionaria das Irmãs Adoradoras do Preciosíssimo Sangue no Quênia e fez seus estudos de formação na Tanzânia e no Canadá. Trabalha na Kenya Broadcasting Company e na Rádio Maria, em Uganda, como repórter, editora, diretora de notícias, produtora e âncora de notícias, ela está agora na Capuchin TV, uma estação católica no Quênia, enquanto estuda uma pós-graduação em comunicação.
Hoje há uma grande necessidade de assegurar que o fogo cristão permaneça em chamas e não morra. Mas muitos adolescentes e adultos jovens estão deixando a Igreja Católica. A igreja não pode perder esta geração - a igreja de amanhã. Sem eles nossa igreja morrerá.
Alguns membros desta geração não acham que a igreja/Deus tenha algum significado. Adolescentes e adultos jovens sentem que não são compreendidos e tendem a ser rebeldes.
Isso não significa necessariamente que eles são más pessoas (geralmente fazem o que acham certo). Talvez seja um sinal para abordá-los de maneira gentil e tentar entender o mundo deles. Sua geração é materialista, acumulando riqueza e coisas que não precisam. Os responsáveis e pais precisam informá-los gentilmente que essa não é a essência da felicidade, mas que isso traz só destruição e vaidade.
Ao envolvê-los em várias atividades na igreja, podemos fazê-los sentir-se em casa e necessários à sociedade. Até poderiam ser convidados para partidas esportivas amigáveis; encorajado a usar talentos como cantar, dançar e a arte; em propostas em que possam competir com outros grupos e ganhar prêmios, fazendo com que eles se sintam importantes apesar de não terem tudo o que querem.
Minha congregação, das Irmãs Adoradoras do Preciosíssimo Sangue, também tenta envolver adolescentes e adultos jovens em acampamentos onde aprendem habilidades para a vida que consideram gratificantes e úteis para seu futuro. Isso também pode ser feito através do uso da mídia, na qual muitos adolescentes e jovens obtêm sua satisfação.
A mobilização das crianças pontifícias missionárias, movimento com crianças no Quênia, pode ser de grande ajuda. Neste fórum, eles são ensinados a serem responsáveis, criativos e que Deus é tudo o que precisam em qualquer coisa que façam. Com essa noção gravada neles em uma idade tão tenra, crescem conhecendo e nutrindo o cristianismo. Esse processo de ajudá-los tem que vir dos animadores da igreja, dos jovens e adolescentes, e requer grande apoio de seus pais e responsáveis.
Isso cria uma sensação de segurança e envolvimento maior e ainda um maior engajamento na participação em atividades da igreja. A longo prazo, também se sentem responsáveis e valorizados pela igreja e por aqueles que cuidam deles. Quando se sentem responsáveis e valorizados pela igreja, os jovens são menos propensos a querer abandoná-la.
Marilyn Lacey é Irmã da Misericórdia da Califórnia. Ela passou do ensino médio para o trabalho de refugiados, primeiro em acampamentos e depois em acolhimento doméstico e reassentamento com instituições de caridade católicas em San Jose. Escritora e palestrante, fundou e dirige o grupo Mercy Beyond Borders, uma organização internacional sem fins lucrativos que trabalha com mulheres e meninas em lugares de extrema pobreza.
Os jovens estão "deixando a Igreja Católica". É verdade, mas é uma frase curiosa, não é? Revela a suposição tácita de que a igreja é algo que está fora de nós mesmos, algo externo do qual participamos ou nos afastamos. Infelizmente, é assim que a igreja frequentemente se define. Nós, a igreja, historicamente esperamos que as pessoas venham para a instituição como o lugar para encontrar Deus. Eu duvido que é o que Jesus tinha em mente.
Pelo contrário, a igreja é "nós, o povo", não a hierarquia ou os edifícios em que adoramos. Se "nós, o povo" - especialmente os jovens – estão caminhando para outros lugares, é aí que a igreja existirá no futuro. O Espírito sopra onde quer.
Se eu tivesse podido falar com os bispos no recente sínodo da juventude, teria invertido a conversa, perguntando "como a igreja institucional deixou a juventude" (e também muitas pessoas mais velhas). Eu teria convidado todos nós para responder à seguinte questão:
A nossa igreja é uma assembleia inclusiva de pessoas que buscam, onde todos são bem-vindos ou somos uma assembleia para o julgamento sobre os atos e o estilo de vida dos outros?
A nossa igreja se tornou um antigo clube de meninos calcificados, um grupo insular tão focado em suas formas estabelecidas que é cego para suas próprias fraquezas e acostumado a influências externas?
Por que nossa igreja reservou o poder e voz apenas para clérigos e hierarquias masculinas, efetivamente excluindo os leigos em geral e as mulheres em particular?
Como nossa igreja, através de seus acobertamentos de pecado e escândalos, alienou jovens que anseiam por autenticidade e transparência? Por que os jovens ficariam em uma igreja que abusou gravemente de milhares deles?
Como os bispos interpretam o Evangelho hoje? Como eles classificam sua riqueza e status com a clara preferência de Jesus por aqueles que estão à margem da sociedade (os pobres, os pecadores, e os outros) e com o ensinamento de Jesus sobre como evitar o estilo de vida dos fariseus?
Se eu estivesse no sínodo da juventude, teria pedido aos bispos que ouvissem atentamente as perspectivas, as percepções e os desejos dos jovens. Eles teriam ouvido um profundo anseio por Deus, uma profunda desilusão com a igreja institucional, como atualmente é estruturada e administrada, e um sincero desejo de engajar a igreja em direção a uma comunidade de crentes mais recíproca, mais inclusiva, mais justa e mais acolhedora, alinhada com Jesus. Aquele a quem nós seguimos.
Global Sisters Report - Tradução: Ramón Lara - domtotal.com
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