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Reflexão sobre a Liturgia do 1º Domingo do Advento - Lc 21,25-28.34-36
Jesus esforça-se por sacudir a consciência dos seus seguidores. (Reprodução/ Pixabay)
Por José Antonio Pagola*
Uma convicção indestrutível sustenta desde o início a fé dos seguidores de Jesus: encorajada por Deus, a história humana encaminha-se para a sua libertação definitiva. As contradições insuportáveis do ser humano e os horrores cometidos em todas as épocas não devem destruir nossa esperança.
Este mundo que nos sustenta não é definitivo. Um dia toda a criação dará "sinais" de que chegou ao fim para dar lugar a uma vida nova e libertada que nenhum de nós pode imaginar ou entender.
Os Evangelhos recolhem a memória de uma reflexão de Jesus sobre este final dos tempos. Paradoxalmente, a sua atenção não está focada nos "acontecimentos cósmicos" que podem ocorrer naquele momento. Seu principal objetivo é propor aos seus seguidores um estilo de vida com lucidez diante desse horizonte.
O fim da história não é o caos, a destruição da vida, a morte total. Lentamente, no meio das luzes e das trevas, ouvindo os chamados do nosso coração ou ignorando o melhor que existe em nós, vamos caminhando em direção ao mistério último da realidade que os crentes chamam de "Deus".
Nós não temos que viver presos pelo medo ou ansiedade. O "último dia" não é um dia de raiva e vingança, mas de libertação. Lucas resume o pensamento de Jesus com estas palavras admiráveis: "Levantai-vos, erguei a cabeça: aproxima-se a vossa libertação". Só então conheceremos realmente como Deus ama o mundo.
Devemos reavivar nossa confiança, levantar o nosso ânimo e despertar a esperança. Um dia os poderes financeiros afundarão. A insensatez dos poderosos acabará. As vítimas de tantas guerras, crimes e genocídios conhecerão a vida. Os nossos esforços por um mundo mais humano não se perderão para sempre.
Jesus esforça-se por sacudir a consciência dos seus seguidores. "Tende cuidado: que não se vos entorpeça a mente". Não vivam como imbecis. Não vos deixeis arrastar pela frivolidade e pelos excessos. Mantende viva a indignação. "Estai sempre despertos". Não vos relaxeis. Vivam com lucidez e responsabilidade. Não vos canseis. Mantenham sempre a tensão.
Como estamos vivendo estes tempos difíceis para quase todos, angústia para muitos e cruel para aqueles que se afundam na impotência? Estamos despertos? Vivemos adormecidos? A partir das comunidades cristãs devemos incentivar a indignação e a esperança. E só há um caminho: estar com aqueles que estão a ficar sem nada, afundados no desespero, na raiva e na humilhação.
Periodista Digital/ IHU
*José Antonio Pagola é padre e tem dedicado a sua vida aos estudos bíblicos, nomeadamente à investigação sobre o Jesus histórico. Nascido em 1937, é licenciado em Teologia pela Universidade Gregoriana de Roma (1962), licenciado em Sagradas Escrituras pelo Instituto Bíblico de Roma (1965), e diplomado em Ciências Bíblicas pela École Biblique de Jerusalém (1966). Professor no seminário de San Sebastián (Espanha) e na Faculdade de Teologia do Norte de Espanha (sede de Vitória), foi também reitor do seminário diocesano de San Sebastián e vigário-geral da diocese de San Sebastián.
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