sexta-feira, 28 de dezembro de 2018

Natal, ternura de Deus

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A ternura de Deus se revela na festa da Luz verdadeira, iluminando nossas trevas e nos dando a sabedoria necessária para testemunhar o amor salvífico.
A Luz já desponta no horizonte da nossa existência cristã e traz com ela a esperança de um tempo novo.
A Luz já desponta no horizonte da nossa existência cristã e traz com ela a esperança de um tempo novo. (Inbal Malca by Unsplash)
Por Sandra Sousa*

O ano litúrgico com sua beleza e profundidade abre espaço a cada ciclo para o aprendizado fecundo da dinâmica da fé e oferta-nos a possibilidade de percorrermos um caminho processual, em que passo a passo a vida de Jesus Cristo vai sendo revelada à luz do amor. Assim, ao começar a caminhada do Advento, o convite delicado desse precioso tempo é o de mergulhar no mistério e experimentar na nossa vida cotidiana, rodeada de imprevistos, surpresas, memórias, aprendizado, o sabor inigualável dos verbos esperar e preparar.

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Este convite pede por uma verdadeira compreensão, que faça a diferença nos tempos atuais, pois estamos sendo jogados no abismo da pressa desconectada com a interioridade, da impaciência com as tantas esperas exigidas dia a dia, do desejo de respostas rápidas e coniventes com nossos interesses, da intolerância com os processos que exigem disposição e preparação. Tudo é muito urgente e nos faz correr o risco de perder o essencial que vem pela frente, o tempo da ternura de Deus.

Portanto, esperar pelo Senhor hoje exige uma predisposição interna que não paralisa, mas se coloca sempre em movimento. É preciso ir mais fundo, mais intensamente. Subir os montes, descer colinas. Alçar voos, vencer neblinas. Ir solicitamente, como Maria até Isabel. Sem medo, sem olhar para trás, sem perder de vista o céu. Ir esperando pela Luz que já desponta no horizonte da nossa existência cristã e traz com ela a esperança de um tempo novo nos seus primeiros raios, colorindo nosso ser da verdadeira alegria que tudo plenifica.

Preparar esses caminhos com cuidado e atenção plena, é a nossa missão, para que sejam retos, proféticos e anunciem o que realmente importa – o Filho muito amado de Deus Pai, se fez um conosco. Que nossa fé fale desse mistério revelado na vida, nosso olhar tenha o brilho da esperança que rompe com o consumismo desenfreado e neurótico, responsável por colocar uma boa parte das coisas fora do lugar. Papai Noel, presentes, fartas ceias, desigualdade, desperdício estão no centro de tudo, invadindo mentes e corações, surrupiando a consciência, despertando delírios, disputas, invejas, ultrapassando os limites da coerência e cavando abismos profundos entre os seres humanos, deixando o menino Deus reduzido a um presépio que enfeita a sala de estar, mas que nem mesmo é contemplado em toda a sua beleza e delicada singularidade.

Diante dele a existência humana encontra sentido, expansão, lucidez, desejo profundo de se ligar inteiramente à sua pessoa, buscando sempre mais da intimidade, a ser vivida sem resistência ou meio termo, sem barganhas ou objeções. Assim, será possível entender a profundidade do Natal, mistério fecundo que nos ensina a esperar com paciência pelo amor que vem ao nosso encontro ensinando seus caminhos, preparando os corações para saborear com inteireza este dom divino presente numa criança simples, pobre, pequenina.

A ternura de Deus se revela na festa da Luz verdadeira, iluminando nossas trevas e nos dando a sabedoria necessária para testemunhar o amor salvífico, que se faz gesto de solidariedade, acolhida, presença em meio às realidades discrepantes do mundo, sedentas pela ternura que dissolve os medos e inseguranças, acalma as aflições da alma e renova as esperanças.

Na noite de luz se espalham, por todos os cantos do mundo, os sorrisos, os presentes, as ceias, os abraços. E o Deus menino, dorme sereno no silêncio da manjedoura. O seu teto é feito de estrelas que iluminam a escuridão dos caminhos. As palhas, o chão, o cheiro, os olhares à tua volta, testemunham tão grande amor. Tudo respira amor! Simples, despojado, humano.

*Sandra Sousa é mestra em Teologia, pela Faculdade Jesuíta de Filosofia e Teologia.

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