domtotal.com
Reflexão sobre o Evangelho do 4º Domingo da Páscoa - João 21,1-19

Os peixes apanhados pela palavra de Jesus representam as comunidade
cristãs da época. (Free Bible Images/ Lomo Project)
Por José Antonio Pagola*
No epílogo do Evangelho de João, recolhe-se um relato do encontro do Jesus ressuscitado com os seus discípulos nas margens do lago da Galileia. Quando se escreve, os cristãos estão a viver momentos difíceis de provação e perseguição: alguns renegam a sua fé. O narrador quer reavivar a fé dos seus leitores.
A noite aproxima-se e os discípulos saem a pescar. Não estão os Doze. O grupo se dividiu ao ser crucificado seu Mestre. Estão de volta com as barcas e as redes que tinham deixado para seguir Jesus. Tudo acabou. De novo estão sós.
A pesca é um fracasso completo. O narrador enfatiza com força: «Saíram, embarcaram e naquela noite não pescaram nada». Voltam com as redes vazias. Não é essa a experiência de muitas comunidades cristãs que veem como se debilitam as suas forças e a sua capacidade de evangelização?
Muitas vezes, os nossos esforços no meio de uma sociedade indiferente dificilmente conseguem resultados. Também nós constatamos que as nossas redes estão vazias. É fácil a tentação do desânimo e do desespero. Como sustentar e reacender a nossa fé?
Nesse contexto de fracasso, o relato diz que «estava amanhecendo quando Jesus se apresentou na margem». No entanto, os discípulos não o reconheceram desde o barco. Talvez a distância, talvez a bruma do amanhecer e, sobretudo, seu coração entristecido que os impede de vê-lo. Jesus fala com eles, mas «não sabiam que era Jesus».
Não é este um dos efeitos mais perniciosos da crise religiosa que estamos sofrendo? Preocupados em sobreviver, vendo cada vez mais a nossa debilidade, não nos resulta fácil reconhecer entre nós a presença do Jesus ressuscitado, que nos fala do Evangelho e nos alimenta na celebração da ceia eucarística.
É o discípulo mais querido de Jesus o primeiro que o reconhece: «É o Senhor!». Não estão sós. Tudo pode começar de novo. Tudo pode ser diferente. Com humildade, mas com fé, Pedro reconhecerá o seu pecado e confessará o seu amor sincero a Jesus: «Senhor, Tu sabes que Te amo». Os outros discípulos não podem sentir mais nada.
Nos nossos grupos e comunidades cristãs, necessitamos de testemunhas de Jesus. Crentes que, com a sua vida e a sua palavra, nos ajudem a descobrir nestes momentos a presença viva de Jesus no meio de nossa experiência de fracasso e fragilidade. Os cristãos, sairemos desta crise aumentando a nossa confiança em Jesus. Às vezes, não somos capazes de suspeitar da Sua força para nos tirar do desânimo e do desespero.
*José António Pagola é padre e tem dedicado a sua vida aos estudos bíblicos, nomeadamente à investigação sobre o Jesus histórico. Nascido em 1937, é licenciado em Teologia pela Universidade Gregoriana de Roma (1962), licenciado em Sagradas Escrituras pelo Instituto Bíblico de Roma (1965), e diplomado em Ciências Bíblicas pela École Biblique de Jerusalém (1966). Professor no seminário de San Sebastián (Espanha) e na Faculdade de Teologia do Norte de Espanha (sede de Vitória), foi também reitor do seminário diocesano de San Sebastián e vigário-geral da diocese de San Sebastián.
Nenhum comentário:
Postar um comentário