terça-feira, 21 de maio de 2019

O último episódio


Um passeio por algumas das despedidas mais marcantes já vistas na televisão.


Mais dia, menos dia, toda série vai encontrar o seu fim e dessa verdade não se escapa.
Mais dia, menos dia, toda série vai encontrar o seu fim e dessa verdade não se escapa. (Divulgação)
Por Alexis Parrot*
Chega uma hora em que é inevitável a despedida.
Na última semana demos adeus a duas séries icônicas e a personagens pelos quais torcíamos e que nos deram alegria e prazer ao longo de muitos anos.
Para o desespero generalizado de uma verdadeira legião de seguidores, é certo que já não veremos novos episódios de Game of Thrones e The Big Bang Theory.
Enquanto a primeira decepcionou ao tirar da cartola um novo soberano para Westeros (se nem o próprio ator conseguiu acreditar no final escolhido para seu personagem, imagine nós, simples mortais e fãs), a outra conseguiu - mesmo que sem muito brilho, é verdade - ser fiel ao espírito do programa, providenciando algum alento para seu público de carteirinha.
Mais dia, menos dia, toda série vai encontrar o seu fim e dessa verdade não se escapa. Mesmo conscientes disso, sempre acabamos nos surpreendendo com este momento. É como a morte: sabemos que ela existe, mas nunca estamos preparados para enfrentá-la. 
Em homengem à memória de GOT e TBBT, convido a todos para um passeio por algumas das despedidas mais marcantes já vistas na televisão.
Mad Men terminou como O Leopardo: tudo precisou mudar para que continuasse tudo na mesma. Os Sopranos não teve coragem para dar um desfecho à altura do que foi a vida de seu protagonista e nos decepcionou como poucas vezes uma série conseguiu decepcionar. House teve um lindo final justamente por ter nos poupado de testemunhar um último suspiro. The West Wing entendeu que uma caminhada não termina, muda-se apenas a maneira de caminhar - e nos encheu de esperança.
The Office terminou com uma ou duas temporadas de atraso, mas soube encerrar a carreira de maneira lírica e afetuosa, à altura da força que a consagrou. Nip/Tuck terminou sem pé nem cabeça mas, pelo menos, mostrou coerência com a excentricidade que marcou toda sua trajetória. Alf, o E.T.eimoso terminou sem terminar, com um pergunta no ar sem resposta. True Detective termina a cada temporada para reiniciar na próxima, uma garantia de reboot já na largada, sempre muito salutar (principalmente no caso de sua malfadada segunda temporada).
Seinfeld, Friends e Mad About You terminaram no auge. Frasier, Two and a Half Man e News Radio duraram mais do que deviam. Spin City e Just Shoot Me terminaram pelo cansaço e ninguém reparou quando aconteceu. Will and Grace e Murphy Brown não deveriam ter voltado. It´s Alway Sunny in Philadelphia, The Simpsons e The Good Place já deviam ter terminado. Bored to Death não deveria ter existido.
Sharp Objects teve o final mais perturbador visto nos últimos tempos - difícil imaginar que haverá uma segunda temporada e o medo é que acabe incorrendo no mesmo erro de 13 Reasons Why (cujo terceiro ano já está garantido porque a premissa da série já foi jogada no lixo mesmo). The Shield foi outro grande exemplo de ponto final: depois de sete vigorosas temporadas, saiu de cena vitoriosa por recusar qualquer tipo de condescendência para com seus personagens.  
Star Trek é um caso à parte; geralmente, cada um dos spin offs da franquia tem sabido terminar com dignidade, porém, foi justamente a série mais fraca - Deep Space Nine - a que soube dar adeus com maior beleza e gravitas. Downton Abbey encontrou na etapa final sua pior temporada, mas fazer o quê? Àquela altura já estávamos irremediavelmente apaixonados por seus personagens e por isso, terminou na hora certa, antes que até esta paixão pudesse se perder.
Além dos Sopranos, outras boas séries decepcionaram na saideira: Dexter (com uma conclusão completamente absurda); How I Met your Mother (pelo anticlímax sem conexão nenhuma com o espírito da série); Sense 8 (tentar resolver tudo em um único episódio nunca deu certo para ninguém, ainda mais se a série em questão já definhava a olhos vistos); Arquivo X (aquilo nem pode ser considerado um fim); True Blood (boa premissa, desenvolvimento confuso a partir de certa altura e final ridículo); a série de animação Caverna do Dragão - que nem final teve.
Há também aquelas séries que assistimos mesmo sabendo como vão terminar: Bates Motel (porque deságua em Psicose, de Hitchcock); Smallville e Gothan (por tratarem dos anos de formação de dois super heróis bem conhecidos); Young Sheldon (pelo mesmo motivo das duas anteriores, porém sem super poderes ou uniformes colantes); Caprica (a preparação para os eventos de Battlestar Galactica); Hannibal (antes de O Silêncio dos Inocentes havia um jovem canibal); Fear the Walking Dead (o início de tudo); Better Call Saul (a gênese de Breaking Bad); O Jovem Indiana Jones (o título é autoexplicativo tanto quanto a série foi desnecessária).  
A amada Família Dinossauro merece uma menção honrosa porque terminou de forma surpreendente e decepcionante ao mesmo tempo. Justo no último episódio os responsáveis pela série decidiram ser fiéis à história e nos jogaram um balde de água fria.
Outra menção honrosa vai para A Sete Palmos - pela beleza e dignidade com que tudo foi amarrado na hora derradeira. Como na abertura de cada episódio, conhecemos o destino de cada um dos personagens. Veep usou da mesma estratégia em seu último suspiro (porém, sem nenhuma beleza ou dignidade, só risadas mesmo). Ambas souberam não se perder com finais que honraram sua trajetória.            
O melhor final de todos os tempos? Certamente, Breaking Bad. O pior: Lost.
E, para que não reste este amargo na boca com o (mau) término de Game of Thrones, proponho a todos: engrossar as fileiras daqueles que torcem por uma nova série protagonizada por Arya Stark e suas aventuras de desbravamento do oeste do continente de Westeros.
Porque, às vezes, o final pode ser apenas um recomeçar.
*Alexis Parrot é diretor de TV, roteirista e jornalista. Escreve sobre televisão às terças-feiras para o DOM TOTAL.

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