domingo, 14 de julho de 2019

Desmatamento e aquecimento: combinação mortal para a vida selvagem


Cerca de 550 espécies figuram na lista de vulneráveis à seca e às temperaturas extremas.


Vista aérea do Cerrado, que rodeia os campos agrícolas em Formosa do Rio Preto, oeste do estado da Bahia.
Vista aérea do Cerrado, que rodeia os campos agrícolas em Formosa do Rio Preto, oeste do estado da Bahia. (AFP)
O desmatamento tropical galopante, combinado com a mudança climática, impede que as espécies selvagens se desloquem para climas mais frescos, aumentando seu risco de extinção, alertaram pesquisadores na última segunda-feira.
Menos de dois quintos das florestas da América Latina, Ásia e África facilitam aos animais e às plantas escapar dos aumentos de temperatura potencialmente intoleráveis, ressaltam os pesquisadores na revista Nature Climate Change.
"O desaparecimento das florestas tropicais entre 2000 e 2012 levou à perda de uma extensão superior ao tamanho da Índia que protegia as espécies dos efeitos da mudança climática", declarou Rebecca Senior, professora na universidade de Sheffield.
"Não só a perda de floresta suprime seu habitat, mas torna cada vez mais difícil o deslocamento das espécies", afirmam.
A ausência de vias que possibilitem aos animais migrarem para habitats mais frescos significa que o aquecimento climático "causará a extinção das espécies vulneráveis no plano nacional e mundial", acrescentou.
No ritmo atual da mudança climática, os animais e as plantas tropicais, mesmo que consigam se deslocar para zonas atualmente mais frescas, poderiam estar expostos em 2070 a um meio ambiente em média 2,7°C mais quente que durante a segunda metade do século XX, segundo o estudo.
Em uma perspectiva mais favorável, em que a humanidade conseguisse limitar o aquecimento climático global em 2°C em relação ao início da era industrial - perspectiva cada vez mais improvável -, as espécies das regiões tropicais sofreriam um aumento de 0,8°C em 2070.
O Acordo de Paris sobre o clima de 2015 pede às nações manter o aquecimento "bem abaixo" de 2°C.
Colibris
O aumento de apenas 1 grau desde a Revolução Industrial já reforçou a frequência e intensidade das ondas de calor, das secas e das tempestades tropicais.
Durante as mudanças climáticas anteriores, as espécies animais e vegetais sempre subiram ou desceram das montanhas, aproximaram-se ou se afastaram dos polos, ou se dirigiram para águas mais frias ou mais quentes.
Mas essas mudanças raramente foram tão rápidas como as atuais e nunca estiveram combinadas com uma fragmentação extrema do habitat.
"As espécies tropicais são particularmente sensíveis às mudanças de temperatura", declara Rebecca Senior. "A maioria não é encontrada em nenhuma outra parte do planeta e representa uma proporção enorme da biodiversidade mundial", acrescenta.
Muitos estudos mostraram até que ponto o aumento das temperaturas obrigou a fauna e flora a adaptarem seu comportamento, para conservar sua capacidade de se alimentar, se reproduzir ou ambos.
Segundo um estudo recente, alguns colibris tropicais, por exemplo, veem-se obrigados agora a procurar a sombra, enquanto antes sua prioridade era o néctar.
Cerca de 550 espécies - das quais mais de metade já estão ameaçadas de extinção - figuram na lista de vulneráveis à seca e às temperaturas extremas, segundo a União Internacional para a Conservação da Natureza.
Os anfíbios são especialmente vulneráveis. "Vivem em habitats peculiares, não podem ir muito longe e são muito sensíveis ao calor extremo e à seca", ressalta Rebecca Senior.
Este novo estudo é o primeiro a analisar a interação entre a perda de habitat tropical e a mudança climática em escala mundial durante uma década inteira.

AFP

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