domingo, 8 de dezembro de 2019

A alegria possível: solenidade da Imaculada Conceição

A alegria é um presente bonito, mas também vulnerável. Um dom que devemos cuidar com humildade e generosidade no fundo da alma
A alegria de Maria é a alegria de uma mulher crente que se alegra em Deus
A alegria de Maria é a alegria de uma mulher crente que se alegra em Deus (Pixabay)
José Antonio Pagola*

A primeira palavra de Deus aos seus filhos, quando o Salvador se aproxima do mundo, é um convite à alegria. É o que escuta Maria: "Alegrai-vos".

Jürgen Moltmann, o grande teólogo da esperança, expressou-o assim: "A palavra última e primeira da grande libertação que vem de Deus não é ódio, mas alegria; não é condenação, mas absolvição”. Cristo nasceu da alegria de Deus e morre e ressuscita para levar a sua alegria a este mundo contraditório e absurdo.

No entanto, a alegria não é fácil. A ninguém se pode forçar a estar alegre; não se pode impor a alegria desde fora. O verdadeiro gozo deve nascer do mais fundo de nós mesmos. Caso contrário, será riso exterior, gargalhada vazia, euforia passageira, mas a alegria ficará fora, à porta do nosso coração.

A alegria é um presente bonito, mas também vulnerável. Um dom que devemos cuidar com humildade e generosidade no fundo da alma. O romancista alemão Hermann Hesse diz que os rostos atormentados, nervosos e tristes de tantos homens e mulheres se devem a que "a felicidade só pode ser sentida pela alma, não pela razão, nem pela barriga, nem pela cabeça, nem pela bolsa".

Mas há algo mais. Comozse pode ser feliz quando há tanto sofrimento na Terra? Como se pode rir quando ainda não estão secas todas as lágrimas e brotam diariamente outras novas? Como aproveitar quando dois terços da humanidade estão afundados na fome, miséria ou guerra?

A alegria de Maria é a alegria de uma mulher crente que se alegra em Deus, Salvador, o que eleva os humilhados e dispersa os soberbos, o que colma de bens os famintos e dispensa o rico vazio. A alegria verdadeira só é possível no coração do que anseia e busca justiça, liberdade e fraternidade para todos. Maria alegra-se em Deus, porque vem consumar a esperança dos abandonados.

Só se pode ser alegre em comunhão com os que sofrem e em solidariedade com os que choram. Só tem direito à alegria quem luta para torná-la possível entre os humilhados. Só pode ser feliz quem se esforça por fazer felizes os outros. Só pode celebrar o Natal quem procura sinceramente o nascimento de um novo homem entre nós.

*José Antonio Pagola é padre e tem dedicado a sua vida aos estudos bíblicos, nomeadamente à investigação sobre o Jesus histórico. Nascido em 1937, é licenciado em Teologia pela Universidade Gregoriana de Roma (1962), licenciado em Sagradas Escrituras pelo Instituto Bíblico de Roma (1965), e diplomado em Ciências Bíblicas pela École Biblique de Jerusalém (1966). Professor no seminário de San Sebastián (Espanha) e na Faculdade de Teologia do Norte de Espanha (sede de Vitória), foi também reitor do seminário diocesano de San Sebastián e vigário-geral da diocese de San Sebastián.

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