Reflexão sobre o Evangelho do 2º Domingo do Tempo Comum - Jo 1,29-34

A fé que há na Igreja não está nos documentos do magistério ou nos livros de teólogos. A única fé real é a que o Espírito de Jesus desperta nos corações e mentes dos seus seguidores. (Unsplash/ Josh Applegate)
José Antonio Pagola*
RD
Alguns ambientes cristãos do primeiro século estavam muito interessados em não serem confundidos com os seguidores do Batista. A diferença, segundo eles, era abismal. Os “batistas” viviam de um rito externo que não transformava as pessoas: um batismo de água. Os “cristãos”, pelo contrário, deixavam-se transformar internamente pelo Espírito de Jesus.
Esquecer isso é mortal para a Igreja. O movimento de Jesus não se sustenta com doutrinas, normas ou ritos vividos do exterior. É o próprio Jesus que deve “batizar” ou “encher” os seus seguidores com o seu Espírito. E é este Espírito que os deve animar, impulsionar e transformar. Sem esse “batismo do Espírito”, não há cristianismo.
Não devemos esquecer. A fé que há na Igreja não está nos documentos do magistério ou nos livros de teólogos. A única fé real é a que o Espírito de Jesus desperta nos corações e mentes dos seus seguidores. Esses cristãos simples e honestos, de intuição evangélica e coração compassivo, são os que realmente “reproduzem” Jesus e introduzem seu Espírito no mundo. Eles são o melhor que temos na Igreja.
Infelizmente, existem muitos outros que não conhecem por experiência essa força do Espírito de Jesus. Eles vivem uma “religião de segunda mão”. Não conhecem nem amam Jesus. Simplesmente acreditam no que dizem outros. A sua fé consiste em acreditar no que diz a Igreja, no que ensina a hierarquia ou no que escrevem os entendidos, embora não experimentem no seu coração nada do que viveu Jesus. Como é natural, com o passar dos anos, a sua adesão ao cristianismo vai-se dissolvendo.
A primeira coisa que precisamos hoje, os cristãos, não são catecismos que definam corretamente a doutrina cristã ou exortações que precisem com rigor as normas morais. Só com isso não se transformam as pessoas. Há algo prévio e mais decisivo: narrar nas comunidades a figura de Jesus, ajudar os crentes a entrar em contato direto com o evangelho, ensinar a conhecer e amar Jesus, aprender juntos a viver com seu estilo de vida e seu espírito. Recuperar o “batismo do Espírito”, não é essa a primeira tarefa da Igreja?
Publicado originalmente por Religión Digital e traduzido por IHU.
*José António Pagola é padre e tem dedicado a sua vida aos estudos bíblicos, nomeadamente à investigação sobre o Jesus histórico. Nascido em 1937, é licenciado em Teologia pela Universidade Gregoriana de Roma (1962), licenciado em Sagradas Escrituras pelo Instituto Bíblico de Roma (1965), e diplomado em Ciências Bíblicas pela École Biblique de Jerusalém (1966). Professor no seminário de San Sebastián (Espanha) e na Faculdade de Teologia do Norte de Espanha (sede de Vitória), foi também reitor do seminário diocesano de San Sebastián e vigário-geral da diocese de San Sebastián.
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