quinta-feira, 28 de março de 2013

Poemas: Otacílio de Azevedo


                                                         Catavento
  
"Alto, de frente ao revoltoso oceano,

e exposto à eterna rispidez do vento,

levanta-se ao prestígio soberano

dos músculos de ferro, o catavento.


Pulse-lhe a vida a cada movimento

e parece oxidar-lhe o desengano,

quando se lhe transforma num lamento

todo o seu vão clamor, vezes humano.


Pregado ao solo, numa infinda mágoa,

de mil sonhos, talvez, sobre os escombros,

chora, enchendo de pranto a caixa d’água...


É que ele, preso à angústia de existir,

sente a revolta de suster, aos ombros,

asas de ferro, e não poder subir!"



 Carro de Boi



Rodam, tardas, gemendo, as rodas, arrastando

os pesados pranchões de pau-darco. Angustiado

ora altivo e roufenho, ora moroso e brando,

todo carro de bois é um soluço abafado...


A hora viúva e glacial do crepúsculo quando

o sol desce, o seu canto é tão doce e magoado

que ora nos prende à terra, ora nos vai levando

na asa de oiro de sonho a um longínquo passado.



Choram, tristes, à frente, os bois mortos de sono...

Há uma vaga tristeza, uma ansiedade em tudo

e a paisagem dir-se-ia um por-de-sol, no outono...



Oh! Natureza — Mãe! Sei quanto sofres, pois

vejo, ansioso, rolar todo o teu pranto mudo

pelos bons olhos melancólicos dos bois.




 Morria o Sol no Ocaso



Morria o sol no ocaso e o olhar de minha amada

qual rubro sol distante, a rutilar, morria...

Gemia o seu soluço errando pela estrada

e errando pela estrada eu, mísero, gemia!



Perdia o sol tombando, a clara luz doirada

e o vulto dela, ao longe, aos poucos, se perdia.

Fugia o meu olhar no curso da jornada

e o seu magoado olhar tristíssimo fugia...



O sol tombou no poente em nuvens de oiro e arminha,

e Cleonice, chorando, à curva do meu caminho,

entre as sombras da noite, exânime tombou...



Entanto, o mesmo sol que desmaiara outrora,

vem todas as manhãs ao despontar da aurora,

só ela, nunca mais, oh! nunca mais voltou!

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