sábado, 20 de abril de 2013

Os obscuros caminhos da condição humana


A narrativa é dividida em cinco partes, cada uma apresenta jogos metalinguísticos como no tempo dos folhetins

Detalhe da capa do romance "Terra de casas vazias", de André de Leones, cujo enredo percorre espaços diversos, bem como entrelaça vidas de diversas personagens. Esta xilogravura é de autoria de Wylma Martins

A trama é conduzida por um narrador onisciente e onipresente, isto é, em terceira pessoa; a partir de tal recurso, a voz narradora mergulha na intimidade das personagens, descortinando sonhos, frustrações e sentimentos contraditórios; com isso, tornam-me mais próximas dos seres comuns e se revelam de carne e osso, por meio do discurso indireto livre: "Não, ele não queria ir para Águas Lindas de Goiás. O que ele queria, e isso lhe ocorreu naquele momento em que a mulher gritava e implorava para que ele desistisse, o que ele queria era ser deixado em paz. Mas não o deixariam em paz naquele maldito gabinete. Arrombariam a porta e o arrastariam para fora, mais cedo ou mais tarde. A maldita opinião pública. A maldita imagem da casa junto ao povo. A maldita hipocrisia". (p.66) A personagem prossegue em especulações acerca dos valores por que se move a convivência social bem como o que rege atitudes individuais.

A estrutura

O enredo apresenta traços da técnica das narrativas desmontáveis; nesse sentido, cada parte se apresenta como um bloco autônomo, mas que estabelece com os outros vasos comunicantes, o que se dá por meio da recorrência de espaços, temas e personagens. Recorrendo à função metalinguística da linguagem, o autor sintetiza cada uma delas: "A primeira parte deste romance é também intitulada Terra de casas vazias e se passa em 2009. Nela, encontramos Arthur e Teresa. Eles vivem em Brasília. Tentam lidar com uma grande perda. No final, decidem fazer uma viagem". Desse modo, o leitor, dominando parcialmente o enredo, logo ao início da leitura, lança-se em especulações acerca dos motivos, internos ou não, por que se orientam as seguintes personagens: Teresa e Artur; Aureliano e Camila; Marcela e Nathalie; Maria Fernando e Luís Guilherme.

A temática

Uma enorme teia envolve estas personagens e, ao longo da trama, é como se elas percorressem intermináveis labirintos constituem o interesse maior do romance.

Considerações finais

Concentrando-se nas fragilidades humanas, nas aspirações de felicidade e de recuperação, a narrativa trabalha com as questões eternas, isto é, com o perene humano no drama da existência. Uma das grandes virtudes da construção textual reside na própria escritura, uma vez que a linguagem se revela incisiva e despojada. Não há excessos. Somente o indispensável é captado pelo narrador: "Aureliano queria fumar. Os olhos e a boca secos, o desconforto crescendo. Não fumava havia tanto tempo. Acender um mísero cigarro àquela altura talvez não fosse assim tão horrendo, um crime ou coisa parecida, quatro ou cinco longas tragadas que o fizessem fechar os olhos e se esquecer de todo o resto por alguns segundos". Eis um momento em que se fundem o lenitivo e a sublimação, dando força ao enredo.

LIVRO

Terra de Casas Vazias

André de Leones
ROCCO
2013, 320 Páginas
R$ 34,50

CARLOS AUGUSTO VIANA
EDITOR 

Diário do Nordeste

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