Detalhe da capa do romance "Terra de casas vazias", de André de Leones, cujo enredo percorre espaços diversos, bem como entrelaça vidas de diversas personagens. Esta xilogravura é de autoria de Wylma Martins
A trama é conduzida por um narrador onisciente e onipresente, isto é, em terceira pessoa; a partir de tal recurso, a voz narradora mergulha na intimidade das personagens, descortinando sonhos, frustrações e sentimentos contraditórios; com isso, tornam-me mais próximas dos seres comuns e se revelam de carne e osso, por meio do discurso indireto livre: "Não, ele não queria ir para Águas Lindas de Goiás. O que ele queria, e isso lhe ocorreu naquele momento em que a mulher gritava e implorava para que ele desistisse, o que ele queria era ser deixado em paz. Mas não o deixariam em paz naquele maldito gabinete. Arrombariam a porta e o arrastariam para fora, mais cedo ou mais tarde. A maldita opinião pública. A maldita imagem da casa junto ao povo. A maldita hipocrisia". (p.66) A personagem prossegue em especulações acerca dos valores por que se move a convivência social bem como o que rege atitudes individuais.
A estrutura
O enredo apresenta traços da técnica das narrativas desmontáveis; nesse sentido, cada parte se apresenta como um bloco autônomo, mas que estabelece com os outros vasos comunicantes, o que se dá por meio da recorrência de espaços, temas e personagens. Recorrendo à função metalinguística da linguagem, o autor sintetiza cada uma delas: "A primeira parte deste romance é também intitulada Terra de casas vazias e se passa em 2009. Nela, encontramos Arthur e Teresa. Eles vivem em Brasília. Tentam lidar com uma grande perda. No final, decidem fazer uma viagem". Desse modo, o leitor, dominando parcialmente o enredo, logo ao início da leitura, lança-se em especulações acerca dos motivos, internos ou não, por que se orientam as seguintes personagens: Teresa e Artur; Aureliano e Camila; Marcela e Nathalie; Maria Fernando e Luís Guilherme.
A temática
Uma enorme teia envolve estas personagens e, ao longo da trama, é como se elas percorressem intermináveis labirintos constituem o interesse maior do romance.
Considerações finais
Concentrando-se nas fragilidades humanas, nas aspirações de felicidade e de recuperação, a narrativa trabalha com as questões eternas, isto é, com o perene humano no drama da existência. Uma das grandes virtudes da construção textual reside na própria escritura, uma vez que a linguagem se revela incisiva e despojada. Não há excessos. Somente o indispensável é captado pelo narrador: "Aureliano queria fumar. Os olhos e a boca secos, o desconforto crescendo. Não fumava havia tanto tempo. Acender um mísero cigarro àquela altura talvez não fosse assim tão horrendo, um crime ou coisa parecida, quatro ou cinco longas tragadas que o fizessem fechar os olhos e se esquecer de todo o resto por alguns segundos". Eis um momento em que se fundem o lenitivo e a sublimação, dando força ao enredo.
LIVRO
Terra de Casas Vazias
André de Leones
ROCCO
2013, 320 Páginas
R$ 34,50
CARLOS AUGUSTO VIANA
EDITOR
Diário do Nordeste
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