Jovens Solidários
Assim se mostra a juventude de hoje. Para um jovem que entra armado na escola, assassina professores e colegas, há milhões que frequentam os colégios disciplinada e responsavelmente. O ponto preto sai em todos os jornais do mundo. A folha branca fica esquecida.
Certos traços negativos generalizados não configuram a totalidade da juventude nem o comportamento da maioria dos jovens. Os jovens solidários representam outra face da juventude individualista, centrada em si mesma, com horizontes estreitos.
Com efeito, multiplicam-se os grupos de jovens ou mesmo iniciativas individuais que se envolvem com trabalhos sociais, movimentos de solidariedade e de ajuda.
Nessas experiências cruzam-se dois fatores. Um de natureza estrutural, outro conjuntural. Pertence à estrutura psíquica do jovem romper lentamente com o ambiente pequeno da família e abrir-se a paisagens amplas. Até então estava submetido à lei da casa, agora descobre o mundo da sociabilidade. O desejo de empreender aventuras para espaços largos substitui a dependência da infância, o temor de sair do ninho.
Interfere na psicologia do jovem a conjuntura em que ele vive. Canaliza as energias para atividades e experiências que lhe oferecerem. Se o cercam propostas de algazarras, zaragalhadas noturnas, grupos violentos, rixas organizadas, então o dinamismo juvenil encontra aí concretização, posto pervertida.
No entanto, quando a sociedade, a Igreja, a Escola, os partidos políticos, as associações beneficentes apresentam propostas sociais, dignas do idealismo do jovem, ele, sem dúvida, empenha-se nelas, realizando a dimensão de sociabilidade.
O Brasil carece extremamente de muitos serviços, de necessidades básicas. À medida que o jovem for convocado a prestar ajuda para aliviar tanto sofrimento humano e falta de quase tudo, ele se sentirá útil. Então compreenderá o gosto das alegrias maiores que nascem do amor ao irmão necessitado.
A vida humana prodigaliza exemplos de dedicação em idade jovem até o heroísmo. E a experiência ensina-o a perceber a diferença das alegrias, do prazer, da felicidade. Há ações que explodem em prazeres, felicidades, alegrias momentâneas, deixando após si rastro de tristeza, depressão, angústia. E são tantas! Há outras que, no início, implicam impulso de coragem, de generosidade, de magnanimidade sem a atração fácil das cores fúteis, mas depois de vivenciadas enchem o coração de felicidade incomparável. Aí se situam os trabalhos sociais e de solidariedade. Experimente jovem, e verá.
João Batista Libânio é teólogo jesuíta. Licenciado em Teologia em Frankfurt (Alemanha) e doutorado pela Universidade Gregoriana (Roma). É professor da FAJE (Faculdades Jesuítas), em Belo Horizonte. Publicou mais de noventa livros entre os de autoria própria (36) e em colaboração (56), e centenas de artigos em revistas nacionais e estrangeiras. Internacionalmente reconhecido como um dos teólogos da Libertação.
Dom Total
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