Voltar ao Maracanã, neste último domingo, depois de um hiato de 43 anos, foi uma experiência complexa. De cara, teria de resolver os traumas do passado e esquecer aquele estouro que quase me deixou surdo. Por outro lado, levar meu filho Mikael pela primeira vez ao estádio que foi “o maior do mundo” trazia uma emoção gratificante – mesmo se ele já tem 30 anos…
Durante nossa expedição “Luzes da África” em 2010, Mikael e eu assistimos duas partidas da Copa do Mundo. Tendo ficado bem impressionado com a organização dos sul-africanos, nossa mente vai para o estádio em um modo de “fiscalização comparativa” e com aquela constante pergunta “será que a Copa vai dar certo aqui no Brasil?”
Na rampa que liga a estação de metrô da linha verde Maracanã ao estádio, parada para a foto obrigatória.
A segunda prova de fogo é a entrada no estádio. O controle para evitar o ingresso de produtos perigosos – incluindo fogos de artifício – é bem idealizada e a fila flui sem paradas. Os agentes de segurança são atenciosos e simpáticos. A passagem pela roleta que lê o código de barras do ingresso também não cria confusão. Mais uma nota 9.
Subimos as rampas de acesso às cadeiras do setor superior. Jovens com boné do Governo do Rio oferecem pintura facial aos fãs da Seleção: uma bandeirinha do Brasil na bochecha cai sempre bem.
As cores verde e amarelo não estavam apenas nas camisetas, mas também no rosto das torcedoras.
Os bastões infláveis de plástico distribuídos aos torcedores geram um som grave como o de um tambor – bem menos estridente que o agudo da vuvuzela africana.
Encontramos nossas cadeiras de R$100 sem dificuldade, letras das filas e números de assentos seguindo uma ordem lógica. Mas ficar sentado, durante uma hora, em uma cadeira de plástico – são até bonitinhas e coloridas – não me apetece. Já que agora futebol é com lugar marcado, vamos caminhar para descobrir o estádio.
Terceira constatação: mesmo se com muita poeira (os resquícios óbvios da construção), tudo está limpo e nítido. Encontro muitos banheiros e o espaço interno é generoso. Já a fila para comprar bebidas – um refri a R$7 e uma água a R$4 – poderia ter sido evitada. A principal causa da lentidão é a falta de treino dos atendentes e a falta de troco. Só recebo meu dinheiro graças a um casal de ingleses que resolve pagar as bebidas com moedas de um real. Da próxima vez, vão querer aumentar a água para R$5 e o refri para R$10 alegando falta de troco…
Volto às arquibancadas em busca de novos ângulos e encontro um conhecido meu. Eu havia fotografadoJosé Geraldo da Silva, o Homem Planta, há quase um ano, na Rio+20. Mineiro de Pedrazul e montador de máquinas, no Maracanã ele trocou o globo terrestre do evento ambientalista pela bola de futebol preta e branco.
Zé Geraldo, o Homem Planta, figura constante dos grandes eventos no Rio de Janeiro.
O trio de arbitragem colombiano, durante o aquecimento, elabora passos cheios de graça.
Toque inicial de Brasil x Inglaterra, jogo amistoso que marcou a reabertura do Maracanã, 63 anos depois de sua inauguração para a Copa do Mundo de 1950.
A nova cobertura elíptica do Maracanã mostra o céu de fim de tarde – para uma data como esta, faz sentido jogar contra a equipe que inventou o esporte.
Falar sobre o jogo não carece. Meu placar moral é de 3 x 2 para o Brasil, considerando que o juiz colombiano não marcou um pênalti contra os ingleses.
Foi uma bela tarde de domingo, gostei da experiência. Voltar ao Maracanã depois de meu acidente do tímpano também revela que muita coisa mudou nestas últimas três décadas. Hoje somos um povo mais educado, limpo e organizado. Ainda falta um pouco para o Maracanã se tornar um estádio de qualidade internacional, mas o primeiro passo foi dado!
Revista Época
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