O que o comandante Hugo Chávez queria dizer com República Bolivariana?
O viajante não sabe dizer o que mudou na Venezuela de Maduro, em relação à Venezuela de Chavéz.
Por Ricardo Soares*
O viajante conseguiu, enfim, entrar muitos quilômetros adentro pelo país de Hugo Chavéz, agora feito santo , e foi pego embasbacado com a beleza das savanas da Canaíma e o grau de periculosidade de tantas curvas que o levam pelo longo caminho até a Isla Margarita. Nunca foi dado a enjoar em curvas mas sua bela caronista venezuelana não para de enjoar. Culpa-se por não ter levado em conta os conselhos de su madre, que sempre recomenda que ela leve na bolsa miúda remédios contra enjoo. Essa moça não é muito dada a ouvir recomendações, nem a se interessar por assuntos políticos que expliquem, por exemplo, o que o comandante Chavéz quis dizer com república bolivariana.
Seus soldados bravos são bolivarianos e o comandante garantia a integridade deles. Será que mesmo daqueles que extorquiram todo nosso dinheiro próximo a San Ignácio? Com o dinheiro tomado por não terem parado prontamente num posto do exército e sim passado defronte a ele, a 20 km por hora, eles se viram frustrados nos desejos de chegar até a Isla Margarita e aos bons restaurantes de Pampatar. Ficaram ali fulos e contrariados, parados na beira da estrada, com o necessário apenas para voltar até a fronteira com Roraima onde não se comemora a tal revolução bolivariana.
O viajante não sabe dizer o que mudou na Venezuela de Maduro, em relação à Venezuela de Chavéz , mas, convenhamos, ele não é nenhum articulador político e nem muito menos um caboclo politizado. Ele é um sujeito imerso no seu próprio pecado de tentar, apenas, viajar sossegado com uma bela venezuelana a tiracolo em busca de aventuras que um dia possa contar aos netos ao redor de uma cuia de chimarrão, muito embora seja um gaúcho deserdado nem um pouco saudoso dos pampas de São Borja quando, menino, fingia chorar ao lado do túmulo de Getúlio ao lado do avô getulista até morrer. Agora Getúlio, Chavéz e toda uma malta de governantes falecidos sequer assombram os seus sonhos fecundos de amor e hedonismo.
Antes de chegar à fronteira da Venezuela com Roraima, Brasil, ele ainda analisa o seu percurso recente onde viu tanta coisa e entendeu muito pouco. Mas pode ter a certeza de que o que contam sobre a Venezuela no Brasil é tudo errado. Os jornais e as tevês vivem falando de um país que ele não conheceu e que tem passeatas dos ricos contra os pobres e onde o tal comandante Chavéz não parece ter sido odiado nem em vida e muito menos depois da morte.
Ele viu gente adorando o comandante pelas farmácias populares e pela comida barata e viu gente reclamando que ele só ajuda quem o ajudava e tudo mais. Na verdade ele queria saber explicar direito tudo o que viu, mas lhe faltam as palavras. Seu português é meio estragado e seu espanhol é tosco e quando ele, enfim, chega a Pacaraíma, com o tanque do seu carrão lotado de boa gasolina venezuelana, só pretende esticar o corpo naquela pensão barata que serve um feijão gordo e uma ótima carne de sol.
O dia está terminando e na fronteira tremulam as bandeiras dos dois países. As cores dos dois países. Essa é uma fronteira muito pouco conhecida dos brasileiros e também dos venezuelanos. No alto de um dos morros, tem uns canhões velhos e inativos. Também uma casa de um governador brasileiro corrupto que ergueu suas paredes exatamente na linha fronteiriça. Ladroagem de um lado e do outro. Há certas coisas que serão eternamente produtos execráveis de exportação.
Redação Dom Total
*Ricardo Soares é diretor de TV, escritor e jornalista. Titular do blog Todo Prosa (www.todoprosa.blogspot.com) . Escreve todos os dias também o Diario do Anonimato do Mundo em www.revistapessoa.com
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