Marcus Eduardo de Oliveira
São as mudanças climáticas, consequência direta da racionalidade econômica pautada na ideia em torno do crescimento econômico, que faz adoecer gravemente nosso Planeta. Se tomarmos nota dos últimos dados apontados no Relatório do Painel Intergovernamental sobre Mudança Climática (IPCC) localizaremos, ao menos, três danos em decorrência dessas mudanças climáticas. Vejamos na íntegra:
*Derretimento das geleiras eternas do topo de montes como Fuji, no Japão, e Kilimanjaro, na Tanzânia: os rios dos vales no entorno dos picos são alimentados pelo degelo da neve no verão. E seu volume está diminuindo, prejudicando a irrigação de culturas agrícolas e a produção industrial que depende da água;
*Derretimento das calotas polares no sul e no norte: pedaços de gelo de água doce alteram a salinidade do mar, causando mudanças no clima e na cadeia alimentar. O urso polar, por exemplo, já tem dificuldade para achar comida;.
*Savanização da Amazônia: se a devastação continuar, por causa da pecuária, das fazendas de soja e da extração de madeira, e o clima esquentar, a floresta vai virar um cerrado (terreno plano, com trechos de seca). Com isso, várias espécies locais vão acabar. E, sem a força do "pulmão do planeta", a emissão de gases poluentes ganhará força, prejudicando a Terra.
Custos Invisíveis
A mudança climática acontece com voracidade no momento em que o processo de globalização se traduz (ao menos para seus árduos defensores) como a mais eficaz (?) política capaz de levar progresso para todos. Na essência dos fatos, no entanto, não é isso (o progresso?) que estamos presenciando.
Atentemos ao seguinte: Para abastecer as geladeiras do mundo moderno, fere-se a atmosfera numa escala crescente. Os exorbitantes custos do transporte de carros, caminhões, navios e aviões nesse “intercâmbio produtivo” para levar diversos produtos de lugares cada vez mais distantes às geladeiras domésticas acontece mediante a elevada emissão de poluentes.
Para exemplificar: apenas nos Estados Unidos circulam 80 veículos para cada 100 habitantes (aproximadamente 250 milhões); na Alemanha são 55 por 100 habitantes e índices semelhantes são encontrados em outros países desenvolvidos, somando quase um bilhão de veículos a motor que hoje são alimentados por petróleo cujos preços oscilam ao doce sabor das vontades dos chefões da OPEP (Organização dos Países Exportadores de Petróleo).
Quanto às “viagens” dos produtos de um lugar para outro, em nome dessa globalização que pretende estreitar fronteiras, é oportuno saber que um frango congelado nos Estados Unidos “viaja”, em média, 3.000 milhas antes de ser consumido. Na Alemanha, estudos realizados apontam que um pote de iogurte de morango produzido nesse país acumula 5 mil quilômetros de transporte. O leite vem do Norte da Alemanha, o morango vem da Áustria, o pote é francês e o rótulo vem da Polônia. A Noruega manda bacalhau para a China. As ervilhas consumidas na Europa são cultivadas e embaladas no Quênia. O kiwi, uma fruta natural da Nova Zelândia, encontra mercado nos Estados Unidos que, por sua vez, a compram da Itália. Essa fruta, nas mãos da empresa Sanifrutta, exportadora italiana, “viaja” por mar em contêineres refrigerados: são 18 dias até chegar aos Estados Unidos, 28 dias até a África do Sul e mais de um mês para chegar de volta à Nova Zelândia.
O Reino Unido vende anualmente 20 toneladas de água engarrafada para a Austrália. Esse mesmo Reino Unido consome uvas vindas da África do Sul, a erva-doce por lá consumida vem da Espanha, e a abóbora, da Itália. As batatas Pringles, fabricadas pela Procter & Gamble, por exemplo, atualmente são vendidas em mais de 180 países, apesar de serem fabricadas apenas em alguns poucos lugares. Isso é simplesmente a “orgia do desperdício e do custo” em termos de poluição, especialmente o dióxido de carbono emitido nessas “viagens”.
Esse aparente "custo invisível" se "esconde" nas sombras dos menores custos produtivos e dos salários aviltados, não importando a localidade para onde vai o produto. O que conta, nesse caso, é o ganho monetário em detrimento da própria sustentabilidade ambiental. Quem “paga” esse preço no final? Lógico que é o Planeta Terra.
*Marcus Eduardo de Oliveira é economista com especialização em Política Internacional e mestrado em Estudos da América Latina pela Universidade de São Paulo (USP). É professor de economia do UNIFIEO e da FAC-FITO, em Osasco/SP. Autor dos livros 'Conversando sobre Economia' (Editora Alínea), 'Pensando como um economista' (Editora EbookBrasil) e 'Humanizando a Economia' (Editora EbookBrasil – livro eletrônico). Contato: prof.marcuseduardo@bol.com.br
Nenhum comentário:
Postar um comentário