Marcus Eduardo de Oliveira
Preservar significa, grosso modo, “não destruir”, e não destruir assegura, na prática, a possibilidade de continuarmos com nossa existência desfrutando as maravilhas oferecidas pela Mãe Natureza.
O desafio que se coloca, em tempos atuais, para os que desejam “viver” uma vida mais fraterna e menos desigual, mais digna, menos injusta e ambientalmente saudável, passa, indubitavelmente, por derrubar o atual modelo econômico embasado no consumo desenfreado alimentado por taxas de crescimento econômico superficiais, erroneamente confundidas com desenvolvimento socioeconômico.
Outro desafio não menos importante, é colocar em pauta as premissas de um novo modelo econômico que seja per si, capaz de conciliar a macroeconomia convencional com a questão ambiental, preservando os principais serviços ecossistêmicos.
É de fundamental importância pôr um fim na sanha consumista que impera no cotidiano de várias sociedades. Que a economia – enquanto ciência – possa também amadurecer o suficiente para esclarecer seus adeptos que consumir menos é, na prática, não agredir mais o meio ambiente - essa base de riqueza natural de onde provêm os recursos necessários à capacidade produtiva.
Consoante à isso é necessário também se produzir menos. Crescimento ilimitado da produção material, num mundo marcado pela finitude dos recursos materiais e naturais (matéria e energia), como bem diz o mexicano Enrique Leff, é a “mais fantasiosa invenção dos economistas”. Indubitavelmente, é limitada a capacidade do planeta de processar os resíduos expelidos do processo econômico. Definitivamente, há que prevalecer entre todos (governo, sociedade e empresas) o entendimento de que menos consumo é sinônimo de mais vida. Menos consumo permite uma não agressão constante à natureza, tanto no ato da extração, quanto no descarte de produtos (dejetos, poluição, resíduos). Isso significa, na essência, vida com mais qualidade à medida que a palavra “consumir” tem seu significado etimológico ligado ao conceito de “destruir”.
Decorre daí a imprescindível importância em frear a expansão consumista, alimentada por modelos de produção econômica que correm soltos pelas bases de um custo brutal verificado na destruição dos elementares serviços ecossistêmicos.
Esse modelo econômico “patrocinador” de destruição ambiental, muito em voga nas sociedades capitalistas que continuam confundindo crescimento (quantidade) com desenvolvimento (qualidade) não pode mais continuar. O preço de não termos, em tempos pretéritos, discutido e aprofundado essa questão nos custou nos dias que correm a depleção/destruição do meio natural. O resultado aí está: morte de variadas espécies animais e vegetais, desmatamento, poluição atmosférica, contaminação de rios e afluentes, maré vermelha, chuva ácida.
Mais desequilíbrios? Refresquemos a memória: derramamento de óleo no Golfo do México, em abril de 2010; derramamento de 257 mil barris de petróleo dos navios Exxon Valdez e Prestige, na costa do Alasca, em 1989 e 2002, respectivamente, causando a morte, segundo estimativas, de 250 mil pássaros marinhos, 2,8 mil lontras marinhas, 250 águias, 22 orcas e mais bilhões de ovos de salmão.
Não fosse a limitação de espaço aqui, a lista desses desajustes ambientais prosseguiria com o detalhamento dos seguintes exemplos: esgotamento de reservas pesqueiras; mais da metade dos rios do mundo em elevado estágio de poluição; vazamentos de resíduos nucleares; derramamentos de cianureto e mercúrio para a produção de ouro; poluição tóxica e a diminuição do fitoplâncton dos mares (responsável pela produção de uma quantidade significativa de oxigênio que respiramos).
Com tudo isso, os ecossistemas naturais são fragmentados e degradados numa velocidade assustadora. Apenas um único exemplo: das 17 reservas pesqueiras oceânicas conhecidas no mundo, mais de 60% apresentam uma retirada de peixes mais acelerada que a sua taxa de reprodução.
De um lado, os níveis de lençóis freáticos desabam; do outro, principalmente nas três maiores áreas produtoras de alimentos (China, Índia e EUA), tem-se intensas queimadas de florestas que contribui para expandir desertos aumentando consideravelmente os níveis de dióxido de carbono, o que agrava, sobremaneira, o efeito estufa.
Estudos diversos já apontam que o principal rio dos Estados Unidos mal chega ao mar. Assustadora situação também acontece com o Nilo que já apresenta enorme dificuldade em atingir o Mediterrâneo. Decorre disso a urgente necessidade de fazer com que a economia interaja – pacificamente - com a ecologia numa tentativa única: não agredir mais para que continuemos a existir. Não se pode perder de vista que o funcionamento da economia se dá dentro da natureza.
*Marcus Eduardo de Oliveira é economista com especialização em Política Internacional e mestrado em Estudos da América Latina pela Universidade de São Paulo (USP). É professor de economia do UNIFIEO e da FAC-FITO, em Osasco/SP. Autor dos livros 'Conversando sobre Economia' (Editora Alínea), 'Pensando como um economista' (Editora EbookBrasil) e 'Humanizando a Economia' (Editora EbookBrasil – livro eletrônico). Contato: prof.marcuseduardo@bol.com.br
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