– O mundo é muito pequeno. Eu sou amiga da sua professora primária, a Irene!
Este foi o início de uma conversa que se estendeu aos netos de Mafalda. Contou estar desgostosa por a sua neta ser muito boa aluna em tudo, mas querer fazer o Curso de Artes. Tentara demovê-la, mas sem sucesso. A conversa acolheu toda a mesa com troca de opiniões sobre vocação, profissões, avós e arte.
O primeiro grupo coral solidário na animação do jantar subiu ao palco. Um rapazinho que aparentava ter 15 anos pegou no microfone e com um sorriso largo e sereno deu início à atuação do grupo, declamando:
– «Encontrei um menino, era bem pequenino. Mostrou-me o seu sonho. Era maior do que ele e maior do que o mundo que ele conhecia. No sonho do pequenino cabia o mundo inteiro, os homens todos. Ele ensinou-me a olhar para fora de mim e ver todos os homens como irmãos. Vocês aqui têm também este sonho de menino?»
O rapazinho retirou-se e o coro deu-lhe continuidade cantando «I have a dream» («eu tenho um sonho»). O rapazinho de nome Filipe introduziu todas as outras músicas do coro. Para ouvi-lo, calavam-se as conversas e os olhares tinham um único foco: Filipe, que punha a poesia a dançar para falar de paz, de amor, de fraternidade e da esperança que poisa dentro de cada um de nós. Havia lágrimas disfarçadas distribuídas pelas mesas.
Terminada a atuação do grupo, Luísa foi ao encontro de Filipe. Ele, com todo o entusiasmo da sua juventude, mas também humildade, confirmou que os textos que declamou eram de sua autoria. Estuda teatro, música e quer seguir formação universitária em arte. Tem muitos projetos ligados a estas áreas. Luísa apresentou Filipe a Mafalda e ao seu dilema. Mais uma vez Mafalda explicou o seu desgosto por a netinha Inês querer seguir Artes.
- A Inês?! Eu conheço-a! Ela é maravilhosa. A senhora só pode ter muito orgulho nela. Ela é completa. Já a vi trabalhar numa peça de teatro e é brilhante. E é maravilhosa no violoncelo e tem uma voz que é um espetáculo,… ela será uma grande artista, acho que já é artista!
Mafalda vibrava de orgulho a cada adjetivo de Filipe à neta. Luísa ouviu toda esta descrição. Foi com certeza a melhor poesia que Filipe declamara naquela noite, dando-lhe uma intensidade de vida, com a sua alma de artista.
A lição de Filipe era imensa: ele era capaz de olhar o «bonito» de outra pessoa, valorizava-o e enaltecia-o. Ficava feliz com isso. Não era apenas o artista que era já brilhante: era o rapazinho Filipe que dava lições de mestre.
Se esta lição fez mudança na avó, não sei. Mas em Luísa uma lágrima escondida falou da esperança no homem e no mundo: Se o «Filipe» é capaz de reconhecer e enaltecer o que de belo existe no «outro» e apostar no belo que existe em si, então o mundo está cheio de vitalidade para se transformar em mundo novo.
Fátima Missionária
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