segunda-feira, 9 de setembro de 2013

Igreja da Boa Viagem, riqueza estética e histórica

Igreja de Boa viagem
Quem passa pela igreja da Boa Viagem e pela praça que fica no seu entorno, no bairro Funcionários, na região Centro-Sul da capital, pisa em uma história que começou há quase 300 anos. O terreno onde fica a igreja é o mesmo onde foi instalado a capela barroca, de mesmo nome, que nasceu junto com o arraial Curral del Rei, ainda no século 18, antes da construção da nova capital de Minas, Belo Horizonte, e outros dois templos em homenagem à padroeira, uma delas a atual. Considerado o centro do vilarejo na época, diversas mudanças marcaram o espaço, no qual características históricas ainda permanecem incrustadas fisicamente e na memória da cidade.

Operários trabalham com suas ferramentas sob a tutela de engenheiros, que os orientam no correto seguimento do projeto, desenhado geometricamente em linhas retas cruzadas. A missão é audaciosa: construir a nova capital do estado de Minas Gerais. Uma antiga construção, que abriga a igreja da Boa Viagem, no entanto, é tida como um obstáculo para os traços da nova cidade. Para o engenheiro Aarão Reis, responsável pelo empreendimento, a construção interfere no traçado viário inicialmente previsto. Esse cenário é o contexto que marcou a trajetória histórica da Boa Viagem, que por fim, permaneceu em seu local original. A vida de Belo Horizonte começou, assim, a partir dessa instituição que ainda guarda resquícios centenários de sua época.

O templo, como em muitas pequenas cidades, está situado no centro do povoado e em seus arredores milhares de moradores do arraial estão sepultados. Ofícios foram encaminhados pelo governo à igreja, no final do século 19, com a intenção de convencê-la a permitir a derrubada da segunda sede, a matriz, cuja edificação datava de 1793. Foi garantido, entretanto, que novos templos seriam construídos “em locais mais apropriados”, conforme consta na mensagem. O acordo só veio quando foi acertada que a demolição ocorresse após a construção da nova sede. A matriz e seu adro foram, então, incluídos no projeto da Cidade de Minas, primeiro nome da capital mineira. O prédio hoje existente começou a ser finalmente edificado em estilo neogótico em 1911 e concluído 11 anos depois. Sua inauguração ocorreu em 8 de dezembro de 1923.

Tombamento e restauração

O conjunto paisagístico e arquitetônico da igreja foi tombado pelo Instituto Estadual do Patrimônio Histórico e Artístico (Iepha) em 2 de junho de 1977, por meio do decreto 18.531. A Catedral da Boa Viagem e seu entorno foram tombados também em âmbito municipal. Estão incluídos no Conjunto Urbano Praça da Boa Viagem e Adjacências, protegido pelo Conselho Deliberativo do Patrimônio Cultural do Município de Belo Horizonte (CDPCM), segundo deliberação 03/94. Em 7 de dezembro de 1999, o CDPCM deliberou pela aprovação da manutenção do perímetro de tombamento do referido conjunto urbano e de suas diretrizes gerais de proteção, conforme mapeamento aprovado em 1998 e em 2003. 

No próximo ano a matriz passará por restauração de toda sua estrutura, quando será comemorado o tricentenário de existência da paróquia de Nossa Senhora da Boa Viagem. A previsão é que ela seja reaberta em 2016. “Estamos trabalhando para resgatar e promover esta história. Pretendemos restaurar a igreja, prédios anexos e a praça a fim de aproximar da comunidade e dos transeuntes (tropeiros contemporâneos) um pouco desta história e deste espaço de relevância”, declarou Marcelo da Silva, pároco da igreja. O processo valorizará aspectos arquitetônicos da igreja e contempla manutenção do sistema de vedação, cobertura, forros, pisos, esquadrias e revestimentos, entre outros. Segundo os responsáveis, o cuidado no restauro tem o objetivo de não causar mudanças drásticas na estética, mantendo fundamentalmente seus aspectos originais, e busca a humanização do espaço, o que permitirá aos visitantes, turistas e fiéis apreciar os distintos momentos históricos do prédio. A última reforma do lugar aconteceu em 1996, quando seus bancos, pisos e jardins foram restaurados. 

História da padroeira está ligada a naufrágio

A história da santa padroeira da capital está atrelada a um naufrágio ocorrido no Rio de Janeiro. Conta-se que um fazendeiro e ex-tripulante da embarcação chamada Nossa Senhora da Boa Viagem, que foi a pique em 1709, trouxe da nau uma imagem da santa esculpida em madeira. Em homenagem à protetora, levantou uma capela, a primeira delas, que anos depois seria demolida - em 1765, para dar lugar à matriz. Esta, como dito, cedeu lugar ao prédio atual. Bandeirantes, boiadeiros, mascates e forasteiros alimentavam devoção a Nossa Senhora da Boa Viagem, que utilizavam, segundo a tradição popular, seu antigo largo como lugar de parada e descanso em Curral del Rei durante as constantes viagens para Vila Rica. 

A primeira imagem de Nossa Senhora da Boa Viagem ainda é relíquia do acervo da igreja (está temporariamente exposta no Museu Histórico Abílio Barreto, no bairro Cidade Jardim, durante mostra em cartaz no local). Um restábulo e um exemplar de lavabo construído em pedra sabão também podem ser encontrados na matriz. Outras obras artísticas que chamam a atenção de quem visita a catedral são os grandes e luminosos vitrais. Eles guardam imagens de profetas, apóstolos, papas e anjos. Está prevista a criação de um memorial, após o projeto de restauro, no qual os objetos sacros ficarão expostos. 

Ação social

 
Além de apoio espiritual, a paróquia oferece acolhimento físico. Projetos como o Obras Sociais Nossa Senhora da Boa Viagem, que tem como objetivo receber ex-domésticas idosas em situação de abandono, é um deles. “São pessoas que após trabalharem por muito tempo nas casas das famílias viam-se abandonadas na capital e não tinham para onde ir”, explica o padre Marcelo. “Hoje esta casa ainda acolhe muitas destas senhoras, carinhosamente chamadas de ‘zitas’. Uma delas senhoras tem hoje mais de 100 anos”, concluiu. A igreja oferece ainda acolhimento a crianças, farmácia comunitária e um programa cujo objetivo visa apoiar gestantes carentes.

 Saiba mais detalhes sobre a Boa Viagem 

• O viajante português ergue capela em homenagem a Nossa Senhora da Boa Viagem, cuja santa batizou a embarcação francesa que havia naufragado em 1709.

• Registros antigos apontam a existência da Paróquia de Nossa Senhora desde 1714.

• Em 1765 a capela é demolida para a construção de nova matriz, concluída em 1793.

• Com o planejamento da nova capital, Aarão Reis propõe a remoção da matriz com vistas ao seguimento do plano geométrico criado no final do século 19.

• Mantida em seu local original, a igreja prepara a construção da sede atual, em estilo neogótico, cuja construção fica pronta em 1923.

• O tombamento da igreja e de seu entorno acontece em 1977, pelo Estado, e em 1994, pela Prefeitura.

• A imagem original da santa padroeira da capital ainda pode ser encontrada na Igreja da Boa Viagem, além de outros objetos centenários.

• Em 1936, a igreja passa a ser catedral, título que será repassado à Catedral Cristo Rei, em construção.

• Noivos costumar esperar cerca de um ano e meio, em média, para selar o matrimônio. 

• São celebradas, em média, missas em quatro horários de segunda a sábado, além de cultos de formatura e casamentos. Já no domingo são realizadas seis horários de celebrações. 

• No fim de semana, a média de católicos que passa por cada celebração é de 400 fiéis.

• Comporta cerca de 400 fiéis sentados.
PBH

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