Relatório da FAO aponta esgotamento dos oceanos já em 2048 (Foto: Divulgação) |
Marcus Eduardo de Oliveira
Isabelle Stengers, filosofa belga, professora na Universidade Livre de Bruxelas, nos adverte da entrada da humanidade em um novo período da longa história da barbárie capitalista que está sendo moldado pelas catástrofes ecológicas somadas às guerras.
Stengers, na obra “Au Temps des Catastrophes”, anuncia uma verdade que tanto incomoda os defensores do atual e avassalador modelo de hiper produção/consumo que “a natureza já foi tão agredida de maneira extrema, que ela começa a responder, e numa escala cada vez maior”.
O fato proeminente que emoldura essa questão é que a visão de progresso da humanidade sempre foi baseada na expansão dos desejos materiais, contudo, dada a finitude dos recursos naturais e energéticos, é simplesmente insustentável alcançar os padrões exigidos pela “cultura da modernidade”, pois crescer (mais economia) implica sempre menos meio ambiente (dilapidação dos recursos naturais, base da economia) como consequência.
Os padrões de produção e consumo no mundo, hoje, estão 20% acima da capacidade de reposição da biosfera. Enquanto a “máquina econômica” continuar absorvendo cada vez mais recursos naturais e produzindo, como consequência, cada vez mais lixo e poluição, a natureza continuará nos dando mais recados. E esses não são nada agradáveis.
Um desses recados é que o esgotamento dos oceanos (o maior dos ecossistemas) já em 2048, segundo relatório elaborado pela FAO/ONU, terá atingido um ápice que não mais permitirá ao homem retirar nenhum recurso alimentar significativo. Parte dessa degradação dos oceanos está também no fato de que um terço do CO2 produzido pela atividade econômica é absorvido pelos oceanos tornando-os mais ácidos.
Outro claro e cristalino recado que vem da natureza está no desaparecimento da biodiversidade, fruto, sobretudo, do aumento do metabolismo social (fluxo de energia e de materiais na economia).
Quanto mais aumenta esse fluxo metabólico da economia, maior é a produção dos principais gases de efeito estufa (GEE), dentre eles, as emissões de CO2, causadas principalmente pelo consumo de combustíveis fósseis.
Até próximo do ano 1900 a concentração de dióxido de carbono (CO2) na atmosfera era de aproximadamente 300 partes por milhão (ppm). Hoje, tal concentração já está quase atingindo 400 ppm, e seu aumento anual é de 2 ppm, nos alerta o IPCC (International Painel Climate Change).
Se esse nível ultrapassar quinhentas partes por milhão, a Terra ficará superaquecida, implicando seríssimas consequências para a vida de todos nós.
Por isso, como bem disse Michael Lowy, “a crise econômica e a crise ecológica resultam do mesmo fenômeno: um sistema que transformou tudo – a terra, a água, o ar que respiramos, os seres humanos – em mercadoria, e que não conhece outro critério a não ser a expansão dos negócios e a acumulação de lucros”.
É de fundamental importância frear o avanço das economias que “funcionam” sob o paradigma do crescimento. Isso se deve a uma lógica bem simples e de fácil compreensão: a partir de certo tamanho da economia, os custos sociambientais de um crescimento extra ultrapassam consideravelmente eventuais benefícios em termos de bem-estar material. Logo, não é mais aceitável continuar tecendo loas às economias que promovem o crescimento exponencial diminuindo a riqueza natural.
A desertificação (isto é, o empobrecimento de ecossistemas áridos, semiáridos e subáridos) já afeta hoje um terço das terras firmes do mundo (são quatro bilhões de hectares). Todos os anos, segundo dados publicados pela Save the Earth Foundation, 200 mil km2 de florestas tropicais são destruídos de forma permanente, ocasionando a extinção de aproximadamente mil espécies de plantas e animais.
Por volta de 2025, dois terços da humanidade viverão em locais onde a escassez de água atingirá níveis críticos. Calcula-se que, no Pacífico, haja 4,5 kg de resíduos plásticos flutuando no mar para cada 0,5 kg de plâncton.
Na Europa, nos conta Claudio Blanc em “Aquecimento Global e Crise Ambiental” (ed. Gaia, 2012), constatou-se que o leite humano contém níveis de dioxina (poluentes comuns produzidos por diversos processos industriais) maiores do que os permitidos para o leite de vaca.
O aquecimento global, a erosão da biodiversidade ou a escassez e a degradação dos recursos hídricos são claramente outros recados dados pela natureza. Já passou da hora de “ouvirmos” a natureza. Diante disso, é sempre oportuno recordar a fala do chefe Seattle ao presidente norte-americano Franklin Pierce, em 1855: “O que acontece à Terra, acontece aos filhos da Terra”.
*Marcus Eduardo de Oliveira é economista com especialização em Política Internacional e mestrado em Estudos da América Latina pela Universidade de São Paulo (USP). É professor de economia do UNIFIEO e da FAC-FITO, em Osasco/SP. Autor dos livros 'Conversando sobre Economia' (Editora Alínea), 'Pensando como um economista' (Editora EbookBrasil) e 'Humanizando a Economia' (Editora EbookBrasil – livro eletrônico). Contato: prof.marcuseduardo@bol.com.br
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